Em sua primeira entrevista coletiva em Roland Garros, João Fonseca respondeu a muitas perguntas sobre a pressão. Aos 18 anos, ele chega ao Aberto da França cercado de expectativas, embora ainda seja o 65º do ranking mundial. É o preço do sucesso.
Ironicamente, as derrotas nas últimas semanas (ambas na primeira rodada, no Estoril, em Portugal, no final de abril, e em Roma, no início de maio) diminuíram um pouco a pressão sobre o tenista carioca. Mas a entrevista, assim como os primeiros treinos em Roland Garros, chamaram bastante a atenção da imprensa internacional.
“Não é que eu não goste de falar sobre a pressão. Só acho que tenho que evitar, não preciso ficar também pensando sobre isso o tempo inteiro, e sim no que eu tenho que fazer, trabalhar, melhorar, evoluir”, disse Fonseca, que estreará contra o número 31 do mundo, o polonês Hubert Hurkacz, um adversário difícil. O jogo provavelmente será programado para segunda-feira (26).
Como você lida com toda a atenção que recebe sendo tão jovem e novo no circuito profissional?
Estou apenas aproveitando minha vida profissional. Estou alcançando coisas boas. Sou jovem, então estou aprendendo toda semana. Como eu lido? Vou dar o meu melhor. Tento focar na minha rotina, no que preciso fazer. Foco nas pessoas boas ao meu lado, me ajudando a conquistar coisas boas. Estou aprendendo toda semana como me adaptar. As coisas estão seguindo seu próprio caminho. Apenas foco nas minhas rotinas e jogo no meu tempo.
O que você aprendeu com sua campanha no Australian Open (chegou à segunda rodada) e o que pôde trazer para este torneio?
Acho que foi o maior estádio em que já joguei. Foi o primeiro jogador top 10 que enfrentei (derrotou o número 9, Andrei Rublev, na primeira rodada). A torcida era enorme. Aprendi como jogar nesses estádios. Foi uma experiência para mim. Minha primeira chave principal. Depois da Austrália, muita coisa mudou. Agora estou um pouco mais experiente nesse tipo de circunstância.
Como está seu nível de confiança neste momento?
Me sentindo bem. Tendo bons treinos. Ganhando sets contra jogadores muito bons. Me sentindo bem. Estou entendendo que o tênis é um esporte. Como qualquer outro esporte, você tem altos e baixos. Você não vai ficar no topo o tempo todo. Às vezes você não está muito confiante. Precisa lidar. Ao mesmo tempo, estou me sentindo muito confiante. Estou jogando muito bem. É minha primeira vez aqui. É outra experiência. Como disse, quero aprender toda semana.
Qual superfície você considera sua melhor atualmente?
Como nasci no saibro, eu diria saibro. Mas depois do ano passado joguei muito mais à quadra dura. Joguei sete meses no duro direto. Estou meio que mais adaptado ao duro também. Mas a superfície que quero jogar melhor é a grama. Então é meio que uma mistura.
Qual a diferença entre jogar no saibro e no duro no nível ATP?
Não sei. Na verdade não sei, porque joguei bem no saibro. Joguei uma semana que ganhei, em Buenos Aires. Mudei para o duro de novo. E depois mudei para o saibro novamente. Senti que minha cabeça, no início do torneio de saibro, [ainda] estava mais no duro. Estava jogando no saibro como precisava jogar no duro. Minha cabeça estava misturando um pouco. E agora estou me adaptando um pouco mais.
O fato de estar um pouco mais cercado, protegido, tem ajudado a lidar com a pressão?
Com certeza. Como eu já disse em outras entrevistas, eu acho que é importante para mim agora, agora que eu estou jovem, em evolução, estar com pessoas boas que te ajudam a fortalecer, que tenham o mesmo objetivo de crescer. E eles estarem me protegendo de expectativas, de pessoas falando muito, eu acho que é muito bom. Eu tenho a mesma visão: quanto mais eu estiver focado no meu tênis, no que eu tenho que fazer nas minhas rotinas, e não focado na mídia, nas expectativas que as pessoas falam, nas comparações, acho que o meu tênis vai melhorar e eu vou ter uma carreira mais bem-sucedida.
Como você trabalhou mentalmente as expectativas não atingidas em Roma e Madrid para chegar bem em Roland Garros? E como você lida com a saudade da família?
Eu sempre fui um garoto que senti falta da família, em longos dias. Ainda mais a gente que é da América do Sul, a gente tem dificuldade, porque a gente tem que vir para a Europa, ou para os Estados Unidos, já é mudança de fuso e horas de voo. Então eu tenho que ficar realmente mais semanas aqui, depois voltar, e quando volto, tenho pelo menos uma semana.
Sobre as giras no saibro: como eu já disse antes, o tenista, como qualquer outro atleta, tem altos e baixos. Acho que não era nenhum momento em que eu estava com falta de confiança. Este ano é um momento em que eu estou em evolução, obviamente, mas eu estou aprendendo ainda como lidar com essa pressão toda. Acho que cada vez mais eu estou entendendo como lidar, como enfrentar, e como jogar esses jogos difíceis, porque agora nesse nível, nesses torneios grandes, não vai vir um jogo fácil, e a gente sabe disso. Então todo jogo tem que ir com tudo. Essa semana agora, que eu estive no Rio, foi um pouco para refletir, e eu já estou me sentindo bem melhor dentro de quadra, mais à vontade, mais feliz e mais confiante também.
Como é jogar em Roland Garros pela primeira vez e o que achou do seu primeiro adversário, o polonês Hubert Hurkacz?
É sempre bom, Paris, foi o meu primeiro Grand Slam, como juvenil. Então, eu acho esse torneio maravilhoso acho o mais tradicional, mais bonito, pelo saibro, porque como eu já disse, eu nasci no saibro e porque eu gosto do saibro, eu acho lindo. E Paris é diferente, realmente é diferente, e não é que eu não gosto de falar sobre a pressão. Só acho que eu tenho que evitar, não preciso ficar também pensando sobre isso o tempo inteiro, e sim no que eu tenho que fazer, trabalhar, melhorar, evoluir.
O jogo contra o Hurkacz vai ser bem difícil, um jogador com quem eu nunca treinei. Vai ser uma experiência nova. Um jogador que é experiente no tour. Não é a melhor superfície dele, mas, do mesmo jeito, ele é um jogador top 30, já foi top 10, então vai ser muito difícil.
Folha de S.Paulo