João Fonseca explica choro após vitória em Roland Garros – 29/05/2025 – Esporte


João Fonseca venceu o francês Pierre-Hugues Herbert por 3 sets 0 e avançou à terceira rodada de Roland Garros, nesta quinta-feira (29). Após a partida, ainda em quadra, o brasileiro chorou.

Fonseca disse que foi surpreendido pela presença da avó paterna, Ana, na quadra para abraçá-lo. “Eu nunca tinha visto ela chorar desse jeito”, afirmou à Folha após a partida. “Foram muitas emoções. Chegar à terceira rodada. Quando minha avó entrou na quadra, estava chorando. E é aniversário da minha mãe, o que torna mais especial.”

“Estou feliz com a forma como lidei com essa pressão. Acho que foi um dos motivos de eu ter ficado emocionado. Consegui lidar com isso depois de não ter feito bons torneios. Só nós jogadores sabemos pelo que a gente passa. Ainda mais os jovens que chegam. Essa pressão, apesar de ser boa por uma parte, por outro lado pesa.”

Fonseca disse que de fato a coragem foi importante na vitória. “Eu diria que os brasileiros, quando estão em apuros, encontram um jeito de se virar. Nos momentos importantes tentei ser corajoso. No segundo set, estava perdendo por 3 a 0 num tie-break apertado. Eu dei ótimos golpes. Acho que essa é a diferença entre os melhores e o top 50. Os melhores precisam ser corajosos e saber jogar nos momentos importantes.

Sobre a pressão da torcida francesa, ele brincou: ” Eu venho do Brasil. Então, fui a muitos jogos de futebol. É barulhento. Os brasileiros também são barulhentos. E eu respeito isso. É legal. Quero dizer, a rivalidade entre as torcidas. Hoje foi muito legal ver os brasileiros gritando meu nome e os franceses gritando o nome do Pierre. Para mim, é legal. Espero que haja mais respeito entre os saques e durante os pontos. E que respeitem os jogadores. Mas, para mim, está tudo bem.”

“Depois do jogo, estou me sentindo bem. Houve mais tensão que no primeiro jogo. Os dois primeiros sets foram longos demais. Foi duro, mas estou me sentindo bem, se tivesse que jogar mais dois sets, eu jogaria. Meu fisioterapeuta está fazendo um bom trabalho”, concluiu.

Confira a íntegra da entrevista pós-jogo.

Hoje foram muitas emoções. Pode nos contar como está se sentindo agora?
Sim, foram muitas emoções. Uma terceira rodada já era um sonho. Minha avó entrou na quadra e estava chorando, então foi muito legal. E é o aniversário da minha mãe [Roberta], então isso torna tudo ainda mais especial. Estar na terceira rodada é simplesmente incrível, e sim, estou muito feliz por termos conseguido isso rapidamente.

Obviamente, isso ainda é muito novo para você, e é a primeira vez que você vence duas partidas de Grand Slam. Sei que foram sets diretos, mas como você está se sentindo fisicamente agora? Porque foram sets disputados, bastante longos.
N
a verdade, estou me sentindo bem. Houve muito mais tensão nesta partida do que na outra, e dois tie-breaks apertados. Os dois primeiros sets foram muito longos, e acho que foram três horas de jogo [2h54]. Então, foi difícil, mas estou me sentindo bem. Me sinto preparado. Se precisasse jogar mais dois sets, eu estaria lá. Então, sim, felizmente, meu preparador físico está fazendo um bom trabalho. E sim, estou me sentindo bem para jogar a terceira rodada.

Você jogou bem do ponto de vista mental. Como você descreveria sua personalidade, como um típico carioca?
Eu diria que os brasileiros, quando estão em apuros, encontram um jeito de se virar. Nos momentos importantes tentei ser corajoso. No segundo set, estava perdendo por 3 a 0 num tie-break apertado. E fiz alguns golpes incríveis. Fiz dois saques excelentes. Depois, ele deu uma curtinha e eu dei outra curtinha. Fiz três boas devoluções com meu forehand. E acho que essa é a diferença entre os bons jogadores, do top 50 e do top 10. Eles precisam ser corajosos. Precisam saber como jogar em momentos importantes. Então, sim, estou feliz com a maneira como joguei nesses momentos importantes. E mentalmente foi bom durante toda a partida.

Alguns jogadores estão reclamando da atmosfera criada pelos franceses. Qual é a sua opinião sobre isso
Eu venho do Brasil. Então, fui a muitos jogos de futebol. É barulhento. Os brasileiros também são barulhentos. E eu respeito isso. É legal. Quero dizer, a rivalidade entre as torcidas. Hoje foi muito legal ver os brasileiros gritando meu nome e os franceses gritando o nome do Pierre. Para mim, é legal. Espero que haja mais respeito entre os saques e durante os pontos. E que respeitem os jogadores. Mas, para mim, está tudo bem.

Eu queria perguntar sobre um dos seus possíveis próximos adversários, Jack Draper. Ele já jogou contra você em Indian Wells [em março, Draper venceu por 6/4 e 6/0]. Que tipo de desafio você vê ao enfrentá-lo? E você prefere não jogar no sábado à noite, para poder assistir ao futebol [a final da Champions League]?
Jack é um cara ótimo. Sempre que passo, ele conversa comigo. Então, é muito legal. E Gaël [Monfils] é uma lenda. Para mim, jogar contra ele será um prazer. E, sim, vamos assistir à partida [entre Draper e Monfils, na noite desta quinta] e descansar amanhã para ver como vai ser. Os dois são ótimos jogadores. Claro, Jack tem jogado incrivelmente bem nos últimos dois anos. Será bom jogar contra ele na terceira rodada. E se minha partida for no sábado à noite, tudo bem. Se não for, tudo bem também. Quer dizer, não sou eu que escolho. Então, vou apenas jogar o meu melhor.

Os torcedores brasileiros são famosos pela energia que trazem para o esporte. Você consegue descrever como é quando você está na quadra de tênis e sente a energia deles?
Às vezes, sinto arrepios quando as pessoas gritam ou quando faço uma boa jogada. É uma surpresa. É uma vibração que não consigo explicar. É incrível representar seu país e estarem torcendo por você. E depois da partida, eles nem conseguem falar, de tanto que gritam e fazem barulho. Então, é muito legal. É uma sensação incrível.

Sua linguagem corporal dá a impressão de que você está aí há muitos anos. Você praticou isso? Você é muito forte mentalmente e sua linguagem corporal me impressiona muito.
Boa pergunta. Meu treinador fala muito comigo sobre linguagem corporal. A gente observa muito o Rafa Nadal, o Djokovic e o Federer. A linguagem corporal desses caras é simplesmente incrível. Eles têm isso. E a gente precisa seguir os passos deles. Precisamos manter uma atitude positiva.

Haverá momentos ruins, haverá momentos bons. Mas quanto menos momentos ruins, melhor. Então, você precisa manter uma atitude positiva o tempo todo. É algo que eu pratico muito, não só nos treinos. Quando o treino está difícil ou estou jogando mal, apenas tento manter uma atitude positiva e me concentrar no que preciso fazer. No que posso melhorar. Acho que Pierre estava com uma ótima postura hoje. Foi sempre positivo durante toda a partida. Isso me fez jogar o meu melhor o tempo todo.

Tivemos dois tie-breaks. Tênis também é um esporte mental. Como é que o João trabalha isso na cabeça dele?
Eu diria que é 60% um esporte mental. Acho que os outros 30% são físicos, e o resto é técnico. Eu diria que a boa parte é mental, porque um jogo, ainda mais cinco sets, porque o jogo pode reverter muito rápido. Hoje a gente viu vários jogos em que um jogador ganhava dois sets, depois perdia os outros três. Então é muito físico e mental. Ali no tie-break, o jogo estava muito duro em ambos, e eu precisava ser mais corajoso, fazer alguma coisa diferente, ser mais agressivo nos ralis, comandar mais nas entradas dos pontos. Então foi isso que eu fiz.

Ali no [tie-break do] segundo set estava difícil, porque ele fez uma boa devolução, e depois fez dois bons saques que não consegui devolver. Tive que me manter positivo, foi o que falei, ter essa postura de me manter positivo, e conseguir fazer dois bons saques. Uma coisa que eu não estava conseguindo fazer tão bem na partida era ter que ganhar pontos de saque, porque ele estava devolvendo bem. E depois ele fez uma curta de primeira bola, tentou fugir um pouco do ponto, que é a especialidade dele, mas ali na rede eu consegui fazer uma boa bola. E dali o jogo já estava mais corrido, e no momento importante eu fui para a devolução. Fui para a primeira bola, que é a minha direita, e fui agressivo no começo dos pontos. Acho que isso é o diferencial da partida, a mentalidade de querer.

Obviamente todos querem ter a coragem, ter a iniciativa de comandar o ponto, e isso eu fiz muito bem hoje, durante toda a partida. E a mentalidade de manter, não abaixar a intensidade. Ou, se abaixou por um momento, reverter, e vamos de novo. Então acho que essa mentalidade é muito boa para evoluir como jogador e pessoa.

Queria que você falasse sobre sua avó [Ana], que tipo de avó que ela é. Ela dá conselhos de vida? Ou é só o tipo de avó que mima o netinho?
Na verdade eu não era um dos netinhos mais favoritos [risos]… Eu fui virando assim. Eu sempre fui próximo dos meus avós. Eu diria que o meu avô [Christiano], o marido dela, é o mais fanático. Já falei muitas vezes que eu gosto de jogar cartas com ele. Mas infelizmente não consegue viajar mais. Prefere ficar em casa. Se sente melhor. Fica muito nervoso durante os jogos. Minha avó já é mais guerreira. Ela gosta de viajar, acho que veio assistir Roland Garros mais de 20 vezes. É fascinada com Paris. Foi até uma surpresa ver ela aqui. Não sabia que ela estava. Então, quando eu vi ela na quadra, a Diana [Gabanyi, assessora de imprensa] botou ela dentro da quadra ali, e eu vi ela meio que chorando –eu não tinha visto ela chorar direito–, daí eu fiquei emocionado na hora. E é muito legal ter esses momentos. Ter a família por perto. Torcendo. Isso tenho que dar graças a Deus que a minha família é presente e me ajuda muito nessa parte mental.

Na última coletiva do Nadal aqui, ele falou que aprende muito com as vitórias. Às vezes chega a aprender mais que com as derrotas. Eu queria que você comentasse o que leva de aprendizado desse jogo.
É manter positivo. É manter. Acho que mais com os jogos de cinco sets, que têm momentos altos e baixos muitas vezes. É manter positivo. Se um game for ruim, seguir. Que o próximo pode ser diferente. É um jogo longo. Porque se você perder um set, tem um jogo ainda. Se perder dois. como eu já disse, pode ainda ganhar o jogo. Então é um jogo muito difícil. Eu diria que é muito mental mesmo. E focar muito nos games de saque, na entrada dos pontos. O jogo pode mudar muito rápido. Você vê muitos jogos que um set é 6/2 para um, 6/0 para o outro, 6/1 para o outro. Então o jogo muda muito rápido. Então ter a mentalidade de seguir por duas horas e meia, três horas, quatro horas. É desgastante, cansa a mente. Mas, ao mesmo tempo, um jogo desses, que teve dois tie-breaks e muita tensão da torcida, do momento, segunda rodada contra um francês. Para conseguir minha primeira terceira rodada teve muita tensão. Então fiquei feliz com a forma que eu lidei com toda essa pressão, com toda essa expectativa por fora. Acho que foi um dos motivos de eu ter ficado emocionado depois da partida também. Porque teve toda essa expectativa por fora. Consegui lidar com isso depois de não ter feito bons torneios por agora. Somente nós jogadores sabemos o que a gente passa. Ainda mais os jovens, que passam por muita coisa muito rápido, os que chegam. Então essa pressão toda, apesar de ser boa por uma parte, por um lado pesa. Então saber lidar com isso é importante.

João, eu queria compartilhar com você uma estatística. No século 21 você é o quarto tenista mais novo a chegar à terceira rodada, depois de Carlos Alcaraz, Borna Coric e Lleyton Hewitt.
Uma honra estar com esses nomes. O Alcaraz é uma inspiração por tudo que ele tem feito no tênis junto com o Sinner. O que eles estão fazendo pelo esporte é muito legal, essa nova geração. Então estar junto com eles nessa estatística é muito legal. É seguir trabalhando. Não gosto muito dessas comparações. Gosto de ser o João e fazer a própria história.

Muitos jornalistas franceses vêm perguntar sobre você. Conversando com os torcedores eu descobri o fonsequismo. O que você acha disso?
Quando eu joguei o Rio Open esse ano, só falavam desse fonsequismo, fonsequizado… Hoje uma menininha estava com uma camisa “Fonsequizada”, achei demais. Esse carinho da torcida brasileira é muito legal, eu que já falei várias vezes, tenho 18 anos, então três anos atrás era eu pedindo autógrafo para os jogadores, e atualmente vejo crianças se inspirando, “me inspiro em você, você é meu ídolo”. Me mandaram uma foto minha sendo tema do aniversário de uma criança [risos]. É muito especial esse carinho, é uma honra mesmo. Espero seguir inspirando crianças, tentar dar o meu melhor. Com certeza vou trabalhar o máximo que consigo para realmente valer a pena tudo isso.


João Fonseca em 2025

  • Vitórias: 11
  • Derrotas: 7
  • Títulos principais: 1 (ATP Buenos Aires)
  • Premiação: 471.694 dólares (R$ 2,7 milhões)

Torneios disputados

  • Aberto da Austrália: queda na 2ª rodada
  • ATP 250 Buenos Aires: campeão
  • ATP 500 Rio de Janeiro: queda na 1ª rodada
  • ATP Masters 1000 Indian Wells: queda na 2ª rodada
  • Challenger Pheonix: campeão
  • ATP Masters 1000 Miami: queda na 3ª rodada
  • ATP Masters 1000 Madrid: queda na 2ª rodada
  • Challenger Estoril: queda na 1ª rodada
  • ATP Masters 1000 Roma: queda na 1ª rodada

Até 29.mai.25



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