Investigação aponta áudio que cita presidente da CBF – 31/07/2025 – Esporte


A inclusão do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Samir Xaud, entre os alvos da operação da PF (Polícia Federal) de quarta-feira (30) foi motivada por um áudio de um dos investigados em suposto esquema eleitoral de Roraima em que é citado.

O Ministério Público do estado, no entanto, afirmou que não se encontravam indícios concretos ou individualizados que justificassem a inclusão de Xaud como parte do grupo criminoso e foi contrário às determinações pedidas pela PF contra Xaud.

As informações estão nos autos da Operação Caixa Preta, obtidos pela Folha, que teve o objetivo de apurar suspeitas de crimes eleitorais em Roraima, como compra de votos.

O áudio foi utilizado para embasar a decisão tomada pelo juiz Ângelo Augusto Mendes, da 5ª Zona Eleitoral de Roraima. Ele autorizou buscas em endereços de Xaud no estado e na sede da CBF, no Rio de Janeiro.

O diálogo em questão, obtido pela PF, é atribuído a Renildo Lima, que foi candidato a vereador. Ele e a sua mulher, a deputada federal Helena da Asatur (MDB-RR), também foram alvos da operação.

O áudio diz: “Agora nós estamos mais fortes, graças a Deus, porque eu e Helena tivemos o cuidado de colocar nas superintendências políticos que já foram testados nas urnas e bem votados. Por exemplo, o Samir [Xaud] teve 5.000 votos, então, o pedido dele, pelo menos 500 ele consegue”.

Os votos de Xaud se referem, segundo as investigações, à ocasião em que tentou a eleição para deputado federal pelo mesmo partido de Helena, em 2022.

Na ocasião, ele recebeu 4.816 votos e não se elegeu. O atual presidente da CBF também se candidatou a deputado estadual em 2018 pelo PV e recebeu 2.069 votos. Xaud foi secretário-adjunto de Saúde de Boa Vista, entre maio de 2024 e março deste ano.

Segundo o magistrado, a polícia entendeu que a mensagem revela que Samir foi nomeado estrategicamente a cargo de direção partidária e utilizado para captação de votos em benefício do grupo.

A conclusão foi tirada, de acordo com o juiz, porque a frase de Renildo sugere que suas indicações seriam revertidas em votos para os candidatos aliados.

A atitude, aponta a decisão, indica possível utilização de função pública para favorecimento eleitoral, conduta que configura abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio.

“Dessa forma, imperioso é concluir que, ainda que não constem nos autos outras conversas diretas envolvendo o investigado na operacionalização do esquema, o áudio demonstra, em cognição sumária, que sua nomeação integrava a estratégia do grupo”, disse o juiz.

Por outro lado, o MP afirmou, em seu parecer, que a simples citação de nomes em conversas ou vínculos funcionais não constitui, por si só, base suficiente para justificar medida de natureza invasiva e excepcional como a busca domiciliar.

Apesar disso, o órgão afirmou que os elementos apresentados pela autoridade policial revelam indícios de envolvimento direto e relevante de Helena e Renildo nas condutas sob apuração, especialmente no na suposta prática de corrupção eleitoral e no uso de estruturas empresariais para fins ilícitos.

A investigação da Polícia Federal começou após a apreensão de R$ 500 mil, em setembro de 2024, às vésperas das eleições municipais. O valor foi encontrado na cueca de Renildo, durante a campanha.

Ao todo, foram determinados dez mandados de busca e apreensão nos estados de Roraima e Rio de Janeiro, além do bloqueio judicial de mais de R$ 10 milhões nas contas dos investigados.

Em nota, a assessoria da CBF disse que a operação não tem qualquer relação com a confederação ou futebol brasileiro e que o presidente da entidade, Samir Xaud, não é o centro das apurações.

Também disse que nenhum equipamento ou material foi levado pelos agentes e que o presidente “permanece tranquilo e à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários”.

Já a assessoria da deputada afirmou, por meio de nota, que ela foi surpreendida com a notícia e que jamais foi notificada a prestar esclarecimentos às autoridades competentes.

“Causa perplexidade a adoção de medidas tão gravosas sem que tenha havido a apresentação de fatos concretos que as justifiquem. Como cidadã e representante eleita democraticamente, a deputada respeita e defende o trabalho das instituições, reafirmando seu compromisso com a transparência, a ética pública e o devido processo legal”, disse.

Ela também afirmou que “seguirá concentrada em seu trabalho legislativo e na defesa dos interesses da população de Roraima, com a serenidade e a responsabilidade que sempre pautaram sua atuação pública”.



Folha de S.Paulo