Inglaterra acha solução para evitar problemas com gandulas – 07/11/2024 – O Mundo É uma Bola


Na semana passada, algo chamou a atenção no gol da vitória por 2 a 1 do Racing, na Argentina, que eliminou o Corinthians na semifinal da Copa Sul-Americana.

Na partida em Avellaneda, aos 39 minutos do primeiro tempo, a defesa corintiana evitou um ataque com um chute alto, para longe, pela linha lateral.

Um gandula rapidamente –rapidamente mesmo, em um piscar de olhos– deu outra bola a um jogador do Racing, que a lançou imediatamente ao ataque, sem propiciar que a retaguarda adversária se reposicionasse adequadamente.

Houve um desvio de cabeça de Martínez e a bola chegou a Quintero, que entrou na área em velocidade e chutou firme para vazar o goleiro Hugo.

Depois da partida, o time do Racing fez festa para o gandula –que tem nome, Martín Santoro, e joga nas categorias de base do clube– cuja participação foi determinante no tento da vitória, que valeu vaga na decisão contra o Cruzeiro.

Os gandulas, figuras presentes há várias décadas no futebol, são selecionados pela equipe mandante da partida e têm a tarefa de, quando a bola sai do campo, entregar outra (que já está com ele) a um jogador que se apresente. Feito isso, ele vai apanhar aquela que tinha saído do jogo.

Frequentei estádios na metade final dos anos 1980 e inicial dos anos 1990, e à época não havia tantas bolas disponíveis para um jogo como acontece hoje. Tinha a principal e, pelo que lembro, duas ou três reservas, utilizadas apenas se a titular ficasse indisponível.

Assim, quando a bola saía do campo, o gandula partia em disparada para apanhá-la. Se ela chegasse aos torcedores, esperava que eles a devolvessem. Geralmente acontecia, mas demorava um pouco.

Como têm vínculo com a equipe que joga em casa, os gandulas costumam, especialmente por aqui, na América do Sul, ser parciais: ou apressam ou retardam a reposição da bola, de acordo com o interesse do momento.

Isso tira a neutralidade no tratamento às equipes, o que não deveria ocorrer, e provoca situações de irritação dos jogadores e da comissão técnica do time visitante.

Para evitar esse problema, os organizadores do Campeonato Inglês tiveram uma ideia inovadora e inteligente.

A partir deste ano, determinou-se, via regulamento, que o gandula (“ball boy”, em inglês, e “recogepelotas” ou “alcanzapelotas”, em espanhol) não mais entregue a bola diretamente ao jogador.

Cones de plástico são espalhados ao redor do gramado (cinco ao longo de cada linha lateral e dois no espaço de cada linha de fundo, em um total de 14), e sobre cada um é colocada uma bola.

Cabe ao jogador pegar a bola que está em um desses cones para reiniciar a partida. A função do gandula é exclusivamente reabastecer o cone vazio.

Vejo com certa frequência partidas da Premier League, e a problemática envolvendo os gandulas acabou.

Campeonatos ao redor do mundo, inclusive no Brasil (alô, CBF e federações estaduais!), deveriam replicar essa prática.

Em tempo: por que o catador de bola é chamado de gandula? Versão bastante difundida envolve o argentino Bernardo Gandulla (1916-1999), que defendeu o Vasco em 1939 e 1940. Até ter a documentação regularizada para pode jogar, ele ficava à beira do campo, repondo com rapidez a bola que saísse. Seu sobrenome acabou vinculado aos pegadores de bola.

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Folha de S.Paulo