Vinicius Junior fechou 2024 com mais um troféu de melhor do mundo, dias depois de faturar o da premiação The Best, da Fifa.
O atacante de 24 anos do Real Madrid ganhou o prêmio de mais destacado jogador do ano do Globe Soccer Awards, em cerimônia realizada em um resort cinco estrelas de Dubai (Emirados Árabes Unidos). De lambuja, levou o troféu de melhor atacante.
A organização do evento, que existe há 15 anos, é da Associação Europeia de Clubes e da Associação Europeia de Agentes de Jogadores, entidades desconhecidas pelo público em geral. O principal apoiador é o Beyond Developments, grupo emiradense que atua no ramo imobiliário, e há 16 empresas copatrocinadoras.
Mais um reconhecimento dos feitos que Vini Jr. obteve na última temporada completa pelo Real Madrid (2023/2024), na qual, jogando em altíssimo nível, ganhou Champions League e Campeonato Espanhol. Bacana, merecido, importante, certo?
Merecido, sem dúvida. Bacana, pode até ser. Importante? No mínimo, duvidoso.
Não posso afirmar que esse prêmio é mequetrefe (apesar de parecer), pois tem alguma tradição. Porém está bem distante da relevância do The Best ou da Bola de Ouro (oferecida desde 1956 pela revista France Football) e é meio sem pé nem cabeça na seleção das categorias.
Começou em 2010 com apenas três (as heterodoxas “Melhor Agente do Ano”, “Melhor Diretor do Ano” e “Melhor Diretor de Clube na Carreira”). Nada para os jogadores, que passaram a ser contemplados no ano seguinte, quando Cristiano Ronaldo foi eleito o “Melhor Jogador do Ano”.
Em 2011, foram seis as categorias do Globe Soccer. Ele foi inchando ano a ano, até que em 2023 chegou-se a 26, incluindo “Melhor Jogador do Oriente Médio” (Cristiano Ronaldo), “Jogador Preferido dos Fãs” (Cristiano Ronaldo), “Melhor Conteúdo Digital da Série A” (Roma) –a Série A é a primeira divisão do Campeonato Italiano–, “Melhor Influenciador nas Redes Sociais” (um tal Alnoufali_7, de Omã). E por aí vai.
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Uma justificativa para essa “heteredoxia” é ser o Globe Soccer uma premiação que inclui não só o que acontece no campo, mas também o que vai além, como os negócios, os dirigentes, os empresários, a mídia, enfim, a indústria do futebol. Todavia não se vê critério, e os prêmios surgem e somem ao bel-prazer de sabe-se lá quem.
Na cerimônia deste ano, houve 18 categorias. O que não significa exatamente uma redução, pois no fim de maio realizou-se a primeira “edição europeia” do evento, com 14 premiados, incluindo o presidente do Paris Saint-Germain, o qatariano Nasser Al-Khelaïfi, que levou o “Prêmio de Liderança no Futebol”.
Somando lá e cá, são 36 os agraciados (tem categoria em que há mais de um vencedor), e banaliza-se a coisa.
Teve até o “Prêmio Clube Revelação”, inédito, para o grego Olympiacos, fundado há nada menos que 99 anos, e Neymar (ele mesmo, tendo atuado DUAS vezes neste ano) também levou o seu mimo, no “Prêmio Carreira”, mesmo sem ter encerrado a dele.
Estranhíssimo. Mas não tanto quando se sabe que em 2023 quem faturou esse mesmo troféu (“Prêmio Carreira”) foi Casemiro, excelente volante até a Copa do Mundo 2022 que depois caiu vertiginosamente de rendimento e hoje tem ficado na reserva do Manchester United.
Uma crítica constantemente feita ao Globe Soccer é a predileção por Cristiano Ronaldo, considerado queridinho dos organizadores.
O português, que se transferiu para o futebol saudita no ano passado, soma 18 troféus, mais de um por ano de existência da premiação.
O CR7 ganhou o prêmio de melhor jogador (seis vezes), assim como o de “Melhor Atração para a Mídia” (2011), o “Prêmio de Boa Reputação” (2016) e o de “Jogador do Século 21” (2020), esse uma aberração, já que com oito décadas de século pela frente.
Faturou ainda, entre outros, o de “Maior Artilheiro de Todos os Tempos” (2021 e 2024). Cristiano Ronaldo (916 gols) marcou mais que Pelé (762) e Messi (850), considerando-se só jogos oficiais, porém qual o motivo para bisar a comenda, a não ser bajular o gajo?
Sobre os eleitos, o site da premiação, sem especificar o peso de cada voto, afirma: “Os entusiastas do futebol tiveram voz para determinar os destinatários desses cobiçados prêmios por meio de votação global. Além disso, um conceituado painel de ícones do futebol [Francesco Totti, Iker Casillas, Luis Figo e Marcello Lippi] emprestou seu conhecimento ao processo de seleção”.
O Globe Soccer premiou ao longo dos anos, além dos já mencionados, os seguintes brasileiros: Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Romário (“Prêmio Carreira”), Alisson, duas vezes, e Ederson (“Melhor Goleiro”).
Folha de S.Paulo