Em sua primeira final de nível ATP, João Fonseca mostrou maturidade para suportar a pressão da torcida argentina, impôs mais uma derrota para os vizinhos sul-americanos e conquistou o ATP de Buenos Aires neste domingo (16), com uma difícil vitória sobre Francisco Cerúndolo, por 2 sets a 0.
O triunfo faz do tenista fluminense o brasileiro mais jovem a ganhar o tour na era aberta (a partir de 1968), com seus 18 anos e cinco meses de idade.
A marca pertencia ao paranaense Thiago Wild, campeão no saibro de Santiago em 2020. O novo dono do recorde também passa a ser o décimo jogador do país a vencer uma competição da elite do circuito. Em Buenos Aires, ele repetiu a conquista de Gustavo Kuerten, o Guga, campeão do torneio em 2001.
Na quadra central Guillhermo Vilas, Fonseca ficou com a vitória após confirmar parciais de 6/4 e 7/1, em 1h45 de jogo, tempo no qual exibiu o repertório que tem atraído cada vez mais fãs —até mesmo na mídia da Argentina, onde tem sido chamado de “estrela”.
“Foi uma semana incrível aqui na Argentina”, vibrou o mais novo campeão. “Eu me senti em casa aqui”.
Fonseca deu um salto no ranking da ATP. Ele começou a semana como 99º do mundo e pulou para o 68º posição. Com a premiação de US$ 100 mil (R$ 572 mil), irá ultrapassar a marca de US$ 1 milhão (R$ 5,72 milhões) arrecadado em sua carreira.
Diante do número 1 da Argentina, parecia que os papeis estavam invertidos. Enquanto o anfitrião, com mais experiência, dono de três títulos de ATP, estava nervoso, sem conseguir colocar o ritmo que o levou até a final, João, em sua primeira decisão, demonstrava tranquilidade para conduzir um jogo forte sem se abalar com a pressão natural por debutar em decisões do tour.
Mesmo jogando na casa do rival, a cada ponto somado, o brasileiro ouvia seu nome gritado por boa parte dos presentes —até um “o, o, o, todo poderoso João” um grupo de torcedores, possivelmente formado por corintianos, arriscou cantar para o tenista, com o coro em alusão ao cântico “Todo Poderoso Timão”.
“Tinham muitos brasileiros torcendo por mim, cada um em um lugar do país queria muito também. O que estou vivendo é inacreditável. Eu só quero agradecer à minha família, aos meus amigos, aos patrocinadores por me deixarem jogar tênis. Pelo apoio e pela torcida pelo meu sonho”, afirmou Fonseca.
A pressão sobre ele também era grande. O árbitro da partida precisou intervir diversas vezes para acalmar as torcidas durante os saques.
Foi assim durante toda a jornada do brasileiro no torneio, no qual João foi algoz de outros três argentinos. Antes da vitória sobre o sérvio Laslo Djere, que o fez se tornar o 10º mais novo da história a alcançar uma decisão do tour, o brasileiro havia superado em sequência Tomás Martín Etcheverry (44º), Federico Coria (115º) e Mariano Navone (47º do mundo).
Tenista número 1 da Argentina e 28º do ranking mundial, Cerúndolo entrou em quadra como favorito, além de jogar em casa. O argentino de 26 anos venceu dois de seus títulos ATP justamente no saibro. O tenista, no entanto, já havia perdido uma final em Buenos Aires, em 2021.
Com sua classificação para a decisão, João Fonseca será o novo número 1 do Brasil quando a lista for atualizada a próxima semana. Após se destacar como número 1 juvenil, ele iniciou sua trajetória entre os profissionais enfrentando desafios contra adversários mais experientes.
Seu talento e agressividade em quadra chamam atenção, e sua presença constante nos torneios ATP poderá abrir um caminho para as competições de maior prestígio, como Masters 1000 e Grand Slams, consolidando seu nome no cenário do tênis.
Os ATPs, terceiro nível dos torneios de tênis profissional masculino, são competições organizadas pela Associação de Tenistas Profissionais (ATP). Estão abaixo dos Grand Slams e do ATP Finals.
Mesmo entre eles, há subdivisões: os ATP Masters 1000, que oferecem mais pontos e prêmios, os ATP 500, de relevância intermediária, e os ATP 250, com menor pontuação e prestígio, mas essenciais para o circuito e para a ascensão de novos talentos, como Fonseca.
Depois do ATP de Buenos Aires, João desembarca nesta semana no Rio, sua cidade natal, para disputar o Rio Open, único ATP 500 da América do Sul e palco de sua primeira vitória na elite do circuito há um ano. Na primeira rodada ele vai encarar o francês Alexandre Muller.
Folha de S.Paulo