“Fique de olho no apito/ Que o jogo é na raça/ E uma luta se ganha no grito/ E se o juiz apelar/ Não deixe barato/ Ele é igual a você e não pode roubar.”
Carlinhos Vergueiro teria sido premonitório e absolutamente certeiro se não tivesse usado o se.
Quando o juiz apelar teria sido 100%.
E o roubar, aqui, e na letra de “Camisa Molhada”, tem sentido figurado para evitar processos para o compositor tricolor, em São Paulo e no Rio, e para este pobre escriba, já há tempos livre de cartolas corruptos que o processavam na vã esperança de intimidá-lo.
Entra rodada e sai rodada e muito raramente fala-se mais de futebol que dos erros de arbitragem, de tempos para cá com a colaboração e sociedade do VAR.
Chega a ser bizarro. Enlouquecedor.
Assopradores de apito, até os com o escudo da Fifa no peito, protagonizam os piores momentos do Campeonato Brasileiro e rivalizam com os jogadores na busca das manchetes e holofotes.
Dupla Flaco Roque? Jorginho e Dom Arrascaeta? Nada!
Abate e Casagrande! Um porque arruinou o Choque-Rei, outro porque engasgou com a linguiça bragantina e salgou o churrasco gaúcho do Grêmio.
Os dois tricolores, paulistano e porto-alegrense, têm motivos de sobra para reclamar nas derrotas para Palmeiras e Bragantino, mais até os dos pampas que os da Pauliceia.
Porque os comandados por Mano Menezes sustentavam o 0 a 0 até o fim quando foram punidos por micropênalti indecente.
Já os pupilos de Hernán Crespo, castigados com a não marcação de macropênalti, não bastasse o erro infame, ainda por cima merecem a crítica de permitir a virada quando venciam por dois gols de diferença —que poderiam ser três, caso convertessem a penalidade máxima.
Isso. Marcou-se penalidade mínima contra o Grêmio e deixou-se de assinalar a máxima para o São Paulo. Durma-se.
A tradicionalmente incapaz direção de arbitragem da CBF apanha por ter e por não ter cão.
Os críticos rogam para que o VAR a lenha da milionária confederação seja menos intervencionista e pedem a entrada em cena apenas para evitar erros grosseiros.
Pois eis que VARgonhoso faz caprichosamente o inverso: intervém quando não deve e cala quando deveria intervir.
Em meio às bets, é escândalo na certa.
Além de propostas criativas para dar jeito nas tresloucadas arbitragens.
Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do MST, propõe que a cada rodada se deem notas para os assopradores de maneira a rebaixá-los de divisão caso não atinjam média mínima.
Proposta temerária, sem dúvida, mas coerente com quem vive corajosa e perigosamente. Porque corre-se o risco de não haver quem apite na temporada seguinte.
“Por que, então, não se apelar para robôs?”, ele pergunta maliciosamente, ao menos com a certeza de que robôs não roubam (e também, aqui, o verbo roubar é mera licença poética).
“Agora falando sério”, sai Carlinhos Vergueiro e entra outro tricolor, mas só carioca, Chico Buarque de Hollanda.
“Agora falando sério/ Eu queria não mentir/ Não queria enganar/ Driblar, iludir/ Tanto desencanto”, mas está mesmo difícil, desesperador, ver tanto desatino dos apitos desafinados.
Que tal profissionalizar os árbitros e torná-los independentes de confederação e federações?
Ah, já sei. É o “puder”. Quem abre mão do poder?
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