Fifa estreita laços com autoridades dos EUA após Fifagate – 27/05/2025 – Esporte


Há dez anos, uma operação coordenada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pelo FBI em parceria com a polícia suíça levava à prisão sete dirigentes de futebol, entre eles, o ex-presidente da CBF José Maria Marin, na época, com 83 anos.

Acusados de participar de um grande esquema de corrupção, todos estavam na Suíça na semana daquele 27 de maio de 2015 para participar do congresso da Fifa (Federação Internacional de Futebol).

A maior parte do esquema envolvia subornos e propinas entre dirigentes da entidade e executivos do setor na comercialização de jogos e direitos de marketing de campeonatos como eliminatórias da Copa do Mundo na América do Norte, a Concacaf, a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil –esta última, organizada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

O caso ficaria mundialmente conhecido como Fifagate, descrito até hoje como o mais contundente caso de corrupção envolvendo o futebol e que, posteriormente, levou à condenação de quase uma dúzia de dirigentes da Fifa e outras entidades, pelos crimes de fraude eletrônica, extorsão e lavagem de dinheiro.

A imagem da entidade máxima do esporte mais popular do planeta ficou sensivelmente arranhada nos EUA, onde as investigações foram comandadas. Mas isso parece ter ficado no passado. Ou, pelo menos, é o que tenta mostrar o atual presidente da Fifa, Gianni Infantino.

Às vésperas do começo do Mundial de Clubes em solo norte-americano, a partir de 14 de junho, o cartola teve encontros recentes com o recém-nomeado diretor do FBI, Kash Patel, e com a procuradora geral do país, Pam Bondi, em Miami, uma das sedes da competição.

Nos últimos anos, Infantino também estreitou relações com o presidente Donald Trump. Apenas este ano, os dois já estiveram junto, pelo menos, em seis ocasiões. A mais recente delas ocorreu na primeira viagem internacional do republicano desde que ele voltou para a Casa Branca, à Arábia Saudita.

Infantino acompanhou Trump em reuniões com autoridades na Arábia Saudita e também participou de uma cerimônia no Qatar —onde ocorreu a Copa do Mundo de 2022—, que representou uma passagem simbólica da sede do Mundial para os EUA, que vão organizar a edição de 2026 junto de México e Canadá.

O jornal The New York Time descreveu o presidente da Fifa como um “aliado leal de Trump” para estreitar seus negócios no oriente médio.

Tudo isso reforça a sensação de que a entidade conseguiu recuperar seu prestígio junto aos americanos.

Em nota, a própria Fifa tratou de afirmar que as fissuras ficaram no passado. “Há algumas semanas, as mesmas autoridades que tiveram que intervir na Fifa em 2015 –o procurador-Geral dos EUA e o diretor do FBI– viajaram aos nossos escritórios em Miami para se reunir com a liderança da Fifa e trabalhar em conjunto como um parceiro altamente respeitado”, afirmou a entidade.

O comunicado citou, ainda, que o escândalo “marcou uma virada para a organização” e lembrou que cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,12 bilhão) foram repassados à Fundação Fifa como compensação pelas perdas sofridas pela entidade, pela Concacaf (Confederação das Associações de Futebol da América do Norte, Central e Caribe) e Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Com diversas investigações paralelas em vários países e fatos relacionados, não é possível, no entanto, estimar o tamanho exato do rombo financeiro causado pelos esquemas de corrupção.

Após cinco anos preso nos EUA, José Maria Marin foi libertado pela Justiça dos EUA em 2020 após sua defesa usar como argumentos os riscos à saúde dele por causa da pandemia da Covid-19 e também sua idade avançada, à época, com 87 anos. Ele havia sido condenado a quatro anos de prisão.

Ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero também foram denunciados pelos mesmos crimes pelos quais Marin foi condenado, mas, como o Brasil, por lei, não extradita seus cidadãos, eles não foram julgados pela Justiça dos EUA.



Folha de S.Paulo