Felix Baumgartner morre aos 56 durante voo de parapente – 21/07/2025 – Esporte


Felix Baumgartner, o aventureiro austríaco radical que se lançou em direção à Terra de uma altura de mais de 24 milhas (cerca de 38 km) em 2012 e se tornou o primeiro humano a quebrar a barreira do som em queda livre, morreu na quinta-feira (17) em um acidente de parapente na costa do Adriático na Itália. Ele tinha 56 anos.

Sua morte foi confirmada pela Red Bull, a empresa de bebidas energéticas que o patrocinava, bem como pelas autoridades italianas.

Baumgartner caiu no chão a poucos metros de uma piscina na cidade de Porto Sant’Elpidio, disse o prefeito Massimiliano Ciarpella na sexta-feira (18). Ele afirmou que Baumgartner havia passado mal durante seu voo e estava inconsciente no momento do impacto, em uma parte da cidade popular entre turistas. Uma autópsia seria realizada, disse ele.

Horas antes de sua morte, Baumgartner postou uma fotografia no Instagram mostrando céus cinzentos e nublados e uma biruta de vento inflada, com as palavras “vento demais”.

Ciarpella chamou Baumgartner de “uma figura de proeminência global, um símbolo de coragem e paixão pelo voo extremo”.

Baumgartner era conhecido como “Felix Destemido” e ostentava uma tatuagem que dizia: “Nascido para voar”. Mas, como outros que fizeram carreira em desafios extremos, ele equilibrava um espírito aventureiro com a consciência do perigo e da quase inevitabilidade de se machucar.

“Eu sempre buscava objetivos que ninguém havia realizado antes, porque mesmo se você se machucasse, teria feito algo extraordinário e único”, ele foi citado dizendo na revista Outside.

“Então, às vezes”, continuou, “você realmente precisa se machucar, precisa passar pelo fogo, mas pelo menos deve valer a pena.”

Bonito e carismático, Baumgartner pertencia a uma longa tradição de destemidos que capturaram a atenção do público, incluindo escapistas, homens-bala, equilibristas e escaladores que evitam cordas e equipamentos de segurança.

Ele se destacou como “um grande garoto-propaganda corporativo” para a Red Bull enquanto ela buscava cultivar “uma imagem ousada e intrépida”, disse Matt Higgins, autor de “Bird Dream: Adventures at the Extremes of Human Flight” (2014), em uma entrevista.

Felix Baumgartner nasceu em 20 de abril de 1969, em Salzburgo, Áustria, sede global da Red Bull. Ele aprendeu a praticar paraquedismo aos 16 anos, aperfeiçoou suas habilidades como paraquedista no exército austríaco e, em 1988, começou a realizar exibições para a Red Bull.

A marca era “praticamente uma empresa desconhecida” quando se associou a Baumgartner, disse Higgins, e “ele personificava a imagem que eles queriam promover”. A empresa lhe deu apoio financeiro em troca.

Desde então, a Red Bull ajudou a redefinir patrocínios corporativos no mundo dos esportes, não dependendo simplesmente de colocar placas em estádios e criar comerciais de televisão, mas comprando suas próprias franquias em esportes motorizados e futebol.

Baumgartner também ajudou a reimaginar o esporte radical de “base jumping”, no qual os participantes saltam de edifícios, antenas, pontes, penhascos e outros marcos e descem com um paraquedas.

Ele pegou uma atividade marginal, feita principalmente em segredo –porque muitos saltos são realizados sem permissão–, e a trouxe para o mainstream com façanhas como executar o salto base mais alto de um edifício (1.483 pés das Torres Petronas, em Kuala Lumpur, Malásia, em 1999) e o mais baixo (cerca de 95 pés da mão do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, em 2007).

“Na época, ninguém era pago para fazer esse tipo de coisa”, disse Higgins. “Ele realmente foi pioneiro no aspecto profissional do base jumping”, embora alguns colegas temessem que, se o esporte recebesse muita atenção, seria cada vez mais proibido.

Baumgartner não escapou de controvérsias fora do esporte. Ele foi multado em 2010 por socar um caminhoneiro em uma discussão de trânsito, informou a Reuters. Ele criticou os direitos LGBTQIA+ e os esforços para combater as mudanças climáticas e se manifestou contra as políticas de migração na Alemanha e na Áustria. Ele mantinha visões políticas extremas, segundo a Deutsche Welle, emissora internacional da Alemanha, pedindo uma “ditadura moderada” no lugar da governança democrática e apoiando Viktor Orban, líder nacionalista de direita da Hungria, como candidato ao Prêmio Nobel da Paz.

No mundo do esporte radical, no entanto, Baumgartner era uma figura amplamente reverenciada. Em 2003, ele voou sobre o Canal da Mancha usando uma asa de fibra de carbono. E em 14 de outubro de 2012, em um projeto chamado Red Bull Stratos, ele atraiu mais de 8 milhões de espectadores online quando subiu à estratosfera em uma cápsula levantada por um balão de hélio e então, vestindo um traje pressurizado, mergulhou de 128.100 pés, ou 24,26 milhas, em direção à Terra, pousando em Roswell, Novo México.

Nessa façanha, ele atingiu uma velocidade máxima de 833,9 mph (1.300 km/h), ou Mach 1,24, girando fora de controle por um tempo antes de se endireitar. Sua queda durou quatro minutos e 20 segundos até que ele abriu seu paraquedas a cerca de uma milha acima do deserto do Novo México. Ele pousou suavemente com uma série de recordes mundiais e dados que poderiam ajudar futuros astronautas a sobreviver a uma crise extrema em alta altitude.

Seu recorde de altitude foi quebrado em 24 de outubro de 2014 por Alan Eustace, um executivo do Google que saltou de 135.890 pés, mais de 25 milhas.

Após seu salto, Baumgartner disse que era difícil descrever viajar mais rápido que a velocidade do som “porque você não sente isso”. E sua queda para a Terra, disse ele, “foi mais difícil do que eu esperava”.

“Acredite em mim”, disse ele, “quando você está lá em cima, no topo do mundo, você se torna tão humilde. Não se trata mais de quebrar recordes. Não se trata de obter dados científicos. É tudo sobre voltar para casa.”

Este artigo apareceu originalmente no The New York Times.



Folha de S.Paulo