Especialista revela principais causas das dívidas dos clubes


Amir Somoggi explicou a gravidade do atual cenário financeiro dos clubes nacionais
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Amir Somoggi explicou a gravidade do atual cenário financeiro dos clubes nacionais

Muitos dos principais clubes brasileiros enfrentam enormes crises financeiras, acumulando dívidas bilionárias. Mas como essas equipes chegaram a essa situação? E quais são as possíveis soluções para equilibrar as contas e garantir um futuro sustentável?

Em entrevista exclusiva ao iG Esporte, Amir Somoggi, diretor da Sports Value, empresa especializada em marketing esportivo, gestão de clubes e valuation, explicou como as grandes dívidas dos clubes brasileiros foram construídas ao longo dos anos.

“As dívidas dos clubes estão separadas em várias frentes. No passado, existia uma dívida fiscal muito grande. Ela ainda é grande, mas já não representa tanto. Um terço das dívidas são fiscais, com o governo. Também existem dívidas com bancos, que acontecem muito quando os clubes, sem dinheiro, vão a bancos através de antecipação de receitas e pagam juros para poder operar”, iniciou Somoggi.

“Também existem as dívidas relacionadas a contratação de jogadores, que podem até gerar um transfer ban (punição aplicada pela Fifa). Você ainda tem questões trabalhistas gravíssimas, vários clubes enfrentam problemas nesta área, além de outras dívidas, com ex-jogadores, treinadores em diferentes frentes, e tributárias”.

“Então, resumindo, parte dessa dívida fiscal está no ProFut (programa criado pelo Governo Federal que auxilia a quitação de dívidas dos clubes). Então de alguma maneira, quem pagá-la em dia, cedo ou tarde, vai zerar sua dívida. Mas em relação aos bancos, contratação de jogadores e dívidas trabalhistas, se o clube não cuidar, vira uma bola de neve”, explicou o especialista.

Fundador da Sports Value, Amir Somoggi é especialista em gestão financeira no esporte
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Fundador da Sports Value, Amir Somoggi é especialista em gestão financeira no esporte

Amir também elucidou que alguns times deixam suas dívidas atingirem valores astronômicos por conta da ânsia de ganhar, gastando mais do que deveriam.

“No geral, as dívidas ficam totalmente desequilibradas porque os clubes, com esse afã de ganhar, com esse afã de gastar, pegam recursos de anos seguintes. Por exemplo: um clube não tem dinheiro, vai ao banco, pega empréstimo, contrata o jogador, e depois para de pagar o atleta. Nesse processo, foram criadas dívidas com o banco e com o jogador, que, posteriormente, acaba entrando na Justiça”, argumentou Somoggi.

O especialista usou o Corinthians para exemplificar o crescimento exponencial das dívidas de um clube, e o quanto este aspecto evidencia a falta de um equilíbrio financeiro. Atualmente, segundo o diretor jurídico do Corinthians, Vinicius Cascone, a dívida do clube gira em torno de R$ 2,4 bilhões.

“Diversos clubes também param de pagar impostos, o Corinthians mesmo é um dos clubes que mais deve impostos no Brasil. Parou de recolher imposto de renda, parou de pagar INSS lá atrás e nunca mais se organizou. A bola de neve não para de crescer se você não executa uma gestão mais eficiente para bloquear essas dívidas”, observou Amir.

“Se você não bloquear a dívida, o que acontece, até pela alta dos juros, é que a maioria das dívidas são atualizadas pelo CDI. Você tem uma dívida sendo atualizada a 13% ao ano e sem nenhuma chance de ser quitada. É uma grande questão que os clubes têm. É preciso um equilíbrio financeiro, pensando numa gestão mais eficiente”.

Melhor caminho para a reestruturação financeira e os problemas da SAF

Outro fator importante abordado por Somoggi diz respeito ao rumo que os clubes endividados deveriam tomar para reorganizar as finanças. De acordo com o especialista, a recuperação judicial é a melhor opção.

Amir também aproveita para analisar o atual cenário da implementação das SAFs nos times brasileiros, e os problemas que este processo pode acarretar caso não seja bem estruturado.

“O melhor caminho para os maiores devedores é fazer uma recuperação judicial antes de se tornar uma SAF. Com isso, diminui sua dívida e você reorganiza as finanças. A outra questão da SAF é que está muito nessa linha de comprar clubes endividados, como Botafogo, Cruzeiro e Vasco. Pode ser que um dia o Corinthians entre nessa lista. Nenhum desses clubes seguiu regras rigorosas de gestão corporativa, acabaram sendo vendidos no pior momento e o investidor tem que se preocupar muito com dívidas passadas. Uma parte importante das receitas, cerca de 20%, é para pagamento de dívidas passadas. É uma empresa que já nasce com dificuldade”.

“Acredito que a SAF ainda carece de ter um bom modelo de negócio, que seja de um clube bem organizado e que o investimento vá mais para o futebol, e não endivide mais o clube, como aconteceu com o Botafogo, que já era um time endividado, foi comprado, zerou dívidas e já está com uma nova dívida por conta do alavancamento financeiro feito por John Textor (dono da SAF botafoguense)”.

Melhor exemplo de reestruturação feita no Brasil

Eduardo Bandeira de Mello liderou a reestruturação financeira do Flamengo
Gilvan de Souza / Flamengo

Eduardo Bandeira de Mello liderou a reestruturação financeira do Flamengo

Quando perguntado sobre o clube brasileiro que melhor se reestruturou financeiramente nos últimos anos, Somoggi apontou o Flamengo.

“Sem dúvida é o Flamengo. Um clube que tinha uma dívida superior a R$ 1,2 bilhão e que hoje está praticamente zerada. O que sobrou do ProFut, ele paga religiosamente. Quando acabar o ProFut, acabarão as dívidas do Flamengo. O Flamengo é um caso muito específico, porque também é uma das maiores torcidas do Brasil, mas muitos clubes de grandes torcidas não conseguiram sanar as dívidas como ele. Existem outros exemplos entre os clubes menores, como o Atletico Paranaense, Fortaleza, Atletico-GO, Goiás, Cuiabá. Entre os grandes, o Flamengo é, sem sombra de dúvida, o melhor exemplo, que merece ser estudado por todos”, concluiu Amir Somoggi.

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