Escotismo no Brasil – 16/10/2024 – É Logo Ali


Sabe aquela imagem do escoteiro de subúrbio norte-americano que ajuda a velhinha a atravessar a rua e bate na porta dos vizinhos para vender biscoitos? Tá, esqueça. O escotismo, fundado em 1907 pelo inglês Robert Baden Powell, na Inglaterra, mudou muito desde então e é frequente descobrir que boa parte dos entrevistados deste blog, especialistas em trilhas, escaladas e perrengues que tais, passou alguns anos de suas vidas às voltas com os tradicionais lencinhos que caracterizam o movimento.

Para saber o que leva o adolescente de hoje, ligado 24×7 nas telas de celulares e videogames, a ingressar no mundo dos bons moços (e moças, que hoje o movimento é misto) do escotismo, fomos perguntar a Franz Kenzo, 25, embaixador do movimento para o Brasil que percorreu a África num mochilão usando os ensinamentos obtidos em sua jornada escoteira , o que é o escotismo hoje no Brasil. E ele conta que, com quase 93.000 associados entre 6 e 21 anos no país, afastar esse jovem da internet “é o grande desafio, porque as redes são facas de dois gumes, ao mesmo tempo que nos forçam a convencer esse jovem que resiste a fazer uma imersão na natureza no final de semana, a se desconectar completamente, também têm o lado de serem polos de força, de gerarem mais escala na mensagem e levarem mais pessoas a conhecerem o movimento”.

A formação de um escoteiro, explica, passa por quatro fases, chamadas de ramos. O primeiro, dos lobinhos, entre 6,5 e 10 anos, passa os conceitos de sustentabilidade, disciplina e trabalho em equipe de forma lúdica, em reuniões semanais.

É a partir do segundo ramo, dos escoteiros propriamente ditos, entre 11 e 14 anos, que começam as inserções de acampamento. “Eles passam um fim de semana dormindo em barraca, aprende a fazer fogueira, aprende a cozinhar por conta própria, tudo em grupos de 5 a 10 pessoas, e elas têm que se organizar para montar as barracas, cozinhar, pegar lenha, cavar buraco para fazer comida, tudo desconectado”, explica Kenzo.

“A gente sempre tenta trazer a eles o contato com a natureza, mas também princípios para tentar deixar o mundo um pouco melhor do que a gente encontrou”, define ele, apontando que o lema é sempre buscar gerar um impacto positivo para a comunidade.

No terceiro ramo, dos seniores, de 15 a 18 anos, os encontros são organizados visando “a parte da aventura em si, com bastante dinâmica de construir pioneirias, que seriam abrigos com bambu, estruturas maiores para passar mais dias, ou fazer travessias de quatro, cinco dias”. Daí para a frente, os mais velhos, e até 21 anos incompletos, têm atividades voltadas para desenvolver a capacidade de cada um dentro do grupo social, como a organização de eventos para arrecadar fundos, roupas etc, ações de voluntariado, entre outras.

“São todas dinâmicas que permitem ao jovem se desenvolver física, afetiva e espiritualmente”, ressalta Kenzo, acrescentando que, no Brasil, o movimento não está ligado a nenhuma religião, diferentemente de vários outros países. “Temos grupos de todos os perfis, religiões e níveis sociais”, garante. A inscrição em qualquer grupo pode ser feita diretamente nas associações estaduais de escotismo, com valores que variam entre R$ 5 e R$ 100.

E, se o escotismo busca promover a formação de cidadãos responsáveis, críticos e independentes, não é de estranhar que estejam ausentes apenas de seis países em todo o mundo: Andorra, China, Cuba, Coreia do Norte, Laos e Myanmar. Por que será, né?

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Folha de S.Paulo