Emboscada da Mancha Verde revela mais que rivalidade boçal – 27/10/2024 – Juca Kfouri


Em 1914, nasceu em São Paulo, fundada pela colônia italiana, a Società Sportiva Palestra Itália.

Sete anos depois, em Belo Horizonte, com a mesma origem, surgiu agremiação com nome idêntico.

Por causa da Segunda Guerra Mundial ambos mudaram de nome.

Os paulistas, para Sociedade Esportiva Palmeiras, e os mineiros, para Cruzeiro Esporte Clube.

Até aqui, novidade nenhuma para a rara leitora e o raro leitor, bem informados.

A novidade, e se é que é novidade, foi o que aconteceu na via Fernão Dias, onde torcedores da Mancha Verde palmeirense emboscaram, mataram e feriram os da Máfia Azul, que voltavam para a capital mineira de Curitiba.

Na Baixada curitibana, havia acontecido algo inusitado, a expulsão do atacante cruzeirense Rafael Silva, aos três segundos de jogo, por agressão ao adversário, recorde mundial no quesito cartão vermelho.

Na madrugada do domingo, repetiu-se a barbárie.

Qualquer consideração sobre a estupidez humana será redundante.

Da Segunda Guerra Mundial, antes dela, depois dela, atualmente, agora, olhe para o mundo.

O terror se espalha do Hamas ao primeiro-ministro de Israel, e a pregação do ódio contra minorias intoxica o universo da política em geral.

No esporte, é igual, no futebol particularmente, e não é de hoje, até a civilizada Inglaterra foi palco durante anos do fenômeno do hooliganismo.

No Brasil, a diminuição da violência é utopia, porque nada se faz de inteligente para combatê-la.

Soluções existem, são conhecidas e passam longe da adoção de torcida única nos estádios, porque existem ruas, esquinas, estações de metrô e estradas.

Uma coisa é certa: os italianos que fundaram o Palmeiras e o Cruzeiro jamais imaginaram que veriam algo parecido entre seus herdeiros.

As bestas humanas não fazem a menor ideia de suas origens.

Endividado e mal pago

O Corinthians joga em Cuiabá contra seu credor local pela negociação do volante Raniele.

Os times desesperados pela ameaça do rebaixamento, última chance para os cuiabanos escaparem e jogo também decisivo para os alvinegros, cuja superioridade técnica é indiscutível, embora fruto do chamado doping financeiro.

Provavelmente haverá mais corintianos que torcedores do Cuiabá na Arena Pantanal, e o máximo dos absurdos poderá acontecer caso Raniele jogue, o que é improvável porque, além do mais, virou reserva, e faça o gol de vitória corintiana.

Há controvérsias entre os fiéis se o jogo desta segunda-feira é mais importante que o da próxima quinta contra o Racing, porque a possibilidade de vir a ser campeão da Copa Sul-Americana, contra Lanús ou Cruzeiro, garantirá presença na Copa do Brasil e na Libertadores e uma fortuna pela participação, mesmo que na Série B nacional.

É a chamada escolha de Sofia, embora o segundo rebaixamento seja humilhação inaceitável, risco devido a Andrés Sanchez e companhia e agravado pela atual gestão de Augusto Melo, que resiste ao impeachment graças ao desejo de Romeu Tuma Júnior em sucedê-lo.

Segurar o processo à espera do fim do inquérito policial é mera artimanha porque Melo já deu motivos mais que suficientes para ser posto para fora de Parque São Jorge, independentemente do escândalo da Vai de Bet e seus laranjas, além do agravamento da dívida.

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Folha de S.Paulo