Em todas as épocas, existem craques, jogadores bons e jogadores ruins – 01/03/2025 – Tostão


No meio de semana, na vitória por 1 a 0 sobre o Tottenham pelo Campeonato Inglês, o Manchester City parecia outro time na maneira de jogar, irreconhecível. Em vez de pressionar, ter a bola e sufocar o adversário, como sempre fez, recuava para fechar os espaços com duas linhas de quatro para depois contra-atacar. Guardiola mostrou que sabe também organizar um time do modo como fazem tantos outros treinadores.

Como o City disputa o quarto lugar no Campeonato Inglês, que dá vaga para a Liga dos Campeões, Guardiola deve ter achado mais seguro mudar a estratégia. O placar mínimo reflete essa conduta. Será que nos próximos jogos, mesmo em casa, ele vai repetir a nova formação tática?

As duas linhas de quatro começaram com a seleção inglesa campeã do mundo em 1966. Apesar de tantas evoluções estratégicas no futebol mundial, esse desenho tático talvez ainda seja o mais usado no mundo. Na frente, pode ser uma dupla de atacantes ou um meia ofensivo e um centroavante.

As coisas vão e voltam no futebol. “A vida dá muitas voltas, a vida nem é da gente”, escreveu João Guimarães Rosa.

No início do futebol, os times jogavam com dois zagueiros, três médios e cinco atacantes. O centro-médio era o organizador da equipe, o jogador de melhor passe. Com o tempo, ele foi substituído, principalmente no Brasil, pelo volante marcador. Isso tem mudado. Hoje, um dos jogadores mais desejados na Europa é o volante centralizado (centro-médio) articulador, que inicia as jogadas com ótimos passes, como Rodri. No Brasil, os promissores e hábeis volantes são escalados desde as categorias de base como meias ofensivos ou pontas. Falta um craque meio-campista na seleção.

Nos anos 60, quase todos os times jogavam com dois pontas abertos, rápidos e dribladores. O ponta-esquerda usava a perna canhota, e o destro atuava pela direita. Driblavam para a linha de fundo e cruzavam. Hoje é o contrário. O canhoto joga pela direita, e o destro, pela esquerda. Driblam para o centro para definir as jogadas. O ideal é o ponta driblar para os dois lados. Alguns já têm feito isso, como os jovens Estêvão, do Palmeiras, e Lamine Yamal, do Barcelona.

Como as equipes já possuem pontas, raros são os laterais apoiadores, algo que foi uma marca importante do futebol brasileiro durante décadas. Faltam à seleção brilhantes laterais que marcam e possuem ótimos passes.

O futebol evoluiu bastante em muitos aspectos. Os times são mais intensos, compactos, pressionam na marcação, trocam mais passes desde o goleiro e são muito mais precisos em alguns gestos técnicos, como nas cobranças de escanteio e nas cabeçadas para o gol.

Nas minhas caminhadas diárias, para fortalecer a alma e o corpo, muitas pessoas, geralmente mais idosas, falam que no passado havia muito mais ótimos jogadores do que no presente. Há controvérsias. Em todas as épocas, existem craques, jogadores bons e ruins.

Outras dizem que era mais fácil jogar no passado, pois havia mais espaços. Há também controvérsias. Por causa dos muitos espaços, os bons brilhavam mais, e os ruins mostravam logo suas limitações. Hoje, com a marcação muito próxima, os medianos costumam impressionar pela intensidade. Porém, com o tempo, as coisas chegam aos seus lugares.

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Folha de S.Paulo