É um mistério James Rodríguez jogar tão pouco no São Paulo – 19/03/2024 – O Mundo É uma Bola


O colombiano James Rodríguez apareceu de vez para o mundo do futebol na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Tinha 22 anos.

Depois de uma passagem bem-sucedida pelo Porto (com um tricampeonato do Campeonato Português e uma Liga Europa), onde chegara em 2010, o meia canhoto se transferiu para o Monaco, da França.

Na segunda Copa em solo brasileiro (a primeira foi em 1950), James chegou como titular e vestindo a camisa 10. Causou impacto imediato. Além de mostrar extrema habilidade com a perna esquerda, fez um gol em cada uma das três vitórias da Colômbia na fase de grupos.

O melhor estava por vir nas oitavas de final, no Maracanã, diante do duas vezes campeão mundial Uruguai. A Colômbia ganhou por 2 a 0, com dois gols de James (pronuncia-se Râmes), um em cada tempo.

O primeiro, uma pintura: recebeu passe de cabeça de um companheiro perto da meia-lua, matou no peito e mandou de sem-pulo no ângulo do goleiro Muslera.

James entrou na partida de quartas de final como a esperança de seu país para eliminar o dono da casa. Muito bem marcado, porém, não rendeu o mesmo que antes. Até marcou, de pênalti, quando a Colômbia já estava 2 a 0 atrás, mas foi insuficiente.

Esse jogo, no Castelão, em Fortaleza, foi aquele em que o Brasil ganhou mas perdeu Neymar, que levou uma joelhada nas costas de Zúñiga que quase o afastou definitivamente do futebol. Depois, na semifinal contra a Alemanha, veio o 7 a 1.

James terminou a Copa como o artilheiro, com seis gols, o que imediatamente lhe rendeu a ida ao Real Madrid, um dos maiores clubes do planeta. Custou 75 milhões de euros, à época a quinta transferência mais cara da história.

Mantendo a camisa 10, seria companheiro de “galácticos” como Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale, Sergio Ramos, Casillas, Modric, Marcelo e Kroos.

James teve bons momentos no Real, faturou alguns títulos (duas Champions League, dois Mundiais de Clubes, um Campeonato Espanhol), porém, por seguidas lesões ou por queda no rendimento técnico, deixou a impressão de que podia ter jogado muito mais do que jogou.

Tanto que, a partir de 2017, seu futebol passou a perder todo aquele encanto. Defendeu Bayern de Munique, de novo o Real Madrid, Everton (Inglaterra), Al Rayyan (Qatar) e Olympiacos (Grécia) antes de chegar, ostentando status de supercraque, ao São Paulo na metade de 2023.

Foi necessária essa longa introdução para chegar ao ponto central deste texto: por que James Rodríguez jogou, passados sete meses e meio, tão pouco no São Paulo, que o trouxe para ser um dos principais astros do time, um diferencial na criação de jogadas e na organização do meio-campo?

É um mistério. Pelo que li e ouvi em todo esse período na mídia que acompanha de perto o clube paulistano, James estava tentando adquirir a melhor forma física para poder ser utilizado com mais frequência.

Desde que chegou ao São Paulo, o colombiano atuou em somente 18 de 42 partidas possíveis. Não foi relacionado para 21. E atuou do início ao fim em uma. Repito: uma. Sua média de minutos por jogo é de 43, ou menos de um tempo a cada partida. Número de gols? Dois.

Muito pouco para quem recebe por mês, de acordo com sites que publicaram a folha salarial dos jogadores são-paulinos, cerca de R$ 1 milhão por mês. Fica atrás só de Lucas Moura.

Se o pouco tempo em campo se deve à falta de condição física, é um caso a ser estudado profundamente: deve ser o recorde de tempo para um atleta conseguir entrar em forma.

Mas não foi isso. Por quê?

Porque pela seleção colombiana, para a qual James continuou e continua a ser chamado, o camisa 10 atuou com regularidade pelas Eliminatórias da Copa de 2026 (que será nos EUA, no Canadá e no México).

Dos seis jogos da Colômbia pelas Eliminatórias desde que James chegou ao São Paulo, ele, que é o capitão do time, participou de todos.

Com James regendo a seleção, mostrando alta dose de vontade e sem aparentar problema físico sério, a Colômbia não perdeu: três vitórias e três empates.

Começou como titular em quatro, atuou do início ao fim em dois, marcou um gol e deu duas assistências (uma delas no triunfo ante o Brasil em novembro). Sua média de minutos em campos nesses confrontos? 63,5, ou 20 a mais que a com a camisa do São Paulo.

Assim, merece explicação algum dia James ter sido tão pouco utilizado pelo São Paulo, a ser dada pelo próprio e/ou pelo clube.

Pois a de estar sem condição de jogo é difícil de engolir. Mais plausível é afirmar que o treinador (antes Dorival Júnior, hoje Thiago Carpini) prefere, em seu esquema, escalar outros atletas. Talvez por James não ter tanta mobilidade, talvez por não ser bom marcador, talvez por outra razão.

Só que, para não se dar um jeito de encaixar um atleta que tem um toque diferenciado entre os titulares, é melhor não tê-lo. Pois é jogar dinheiro fora.

Carpini chegou a comentar, em fevereiro, a situação de James neste ano, depois que ele assumiu o comando do São Paulo. Declarou que o atleta tem lidado com pequenas lesões (tendão, panturrilha) e que, assim, não consegue estar apto para jogar.

Muito torcedor deve achar que James faz o chamado “corpo mole”, ou seja, arranja alguma desculpa para não jogar. Prefiro desacreditar, pois seria uma tremenda falta de profissionalismo.

A questão é que, quando se trata da seleção colombiana, ele está sempre em forma. Isso perturba, gera desconfiança.

E é evidente que, seja qual for o motivo de James não jogar tanto pelo São Paulo, o clube está tendo um custo-benefício próximo do zero com alguém que brilhou intensamente… dez anos atrás.



Folha de S.Paulo