É recomendável correr provas com seu pet? – 13/11/2024 – No Corre


Era véspera da 10 Milhas Garoto, uma prova de corrida de rua supertradicional do calendário brasileiro, que enlouquece Vitória e Vila Velha, no Espírito Santo, e interrompe um turno inteiro de produção da quase centenária fábrica de chocolates e outras delícias Garoto, hoje marca da transnacional Nestlé.

Contexto: a fábrica só para três vezes por ano, uma das paradas por causa da prova.

E, naquele sábado, defronte a um shopping em Vitória, aconteciam as preliminares, diversas baterias curtas de corrida para crianças das mais diferentes faixas etárias.

Um estímulo incrível para trazer os pequenos para o esporte.

Mas o que mais me chamou a atenção na programação foi a “cachorrida”, a corrida de cachorros, modalidade levada muito a sério por alguns corredores e que começa a se multiplicar pelo Brasil.

Em São Paulo, uma das provas do enorme circuito Santander Track&Field, por exemplo, também coloca os pets para suar pelo estacionamento do Shopping Center Norte.

Em Vitória, o capixaba Marquinho Machado chegou em segundo, mas considerando o tamanho de sua parceira, a yorkshire Taís (homenagem à atriz Taís Araújo), de 700g, ele deveria ter ficado com ouro, prata, bronze e platina.

Ao publicar o vídeo da chegada da dupla nas redes de meu site Jornalistas que Correm, com a cachorrinha sendo puxada num sprint, um espectador se inquietou. “Cães não foram feitos para isso”, escreveu.

Bem, alguns não foram feitos mesmo, disse-me o adestrador Feitosa Leal, sócio do The Dog Resort, no Alto da Lapa, em São Paulo, ele mesmo também treinador eventual de cães de corrida.

Não devem correr cães que já dobraram o cabo das Tormentas, com 8 anos ou mais; cães com alguma questão de saúde; aqueles com colunas compridas, como o dachshund (o da “Cofap”); braquicefálicos, os de focinho curto e que vivem a arfar (buldogues francês e inglês, shih-tzu, pug).

“Claro que há exceções, como aqueles cães com muita energia, que adoram correr atrás da bolinha. Esses, treinados e condicionados, podem correr, sim”.

Até a yorkshire Taís Feitosa talvez liberasse, a depender do comportamento… do dono. “Cães de muito pequeno porte como os yorkshire têm energia, são caçadores, mas exigem treinamento mais cauteloso, eles são peludos, precisam ficar com os pelos mais aparadinhos para que resfriem bem. E a passada deles é muito curta, podem acabar dando saltos para acompanhar o tutor. Temos de ter muita noção do ritmo que o cachorro aguenta.”

Importante: nem todos cães podem correr, mas todos devem caminhar.

Nunca pensei em fazer dupla numa cachorrida com meu vira-lata Marechal, que tem estimados 9 a 10 anos de idade. Para pessoas que veem significados ocultos em tudo, Marechal bem que mereceria o rolé, pois nos conhecemos justamente após um treino.

Há cerca de dois anos, na saída da USP, Marechal me seguiu após um cascalho (meu) de 10 km, talvez 12 km, no Cepê (Centro de Práticas Esportivas da USP), atravessou a alça de acesso à Marginal Pinheiros, permaneceu em distância socialmente aceitável por toda a extensão da ponte Cidade Universitária e, vendo que seu destino agora dependia de se jogar junto com aquele estranho pela passagem estreita exclusiva de pedestres de uma dessas ruas públicas tornadas privativas, fez o que tinha de ser feito.

Nem precisou usar ali seu “zap” mais persuasivo, os rodopios de costas sobre a grama mantendo o olhar fixo no companheiro.

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Folha de S.Paulo