Dicas para viver (e sobreviver) na natureza – 25/06/2025 – É Logo Ali


“No dicionário, aventura é tudo aquilo que tem resultado incerto. Mas, no caso profissional, entendemos que aventura é algo que deve ser oferecido no campo do imaginário, sem prescindir de uma organização meticulosa”.

A frase, de Luiz Del Vigna, diretor-executivo da Abeta (Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), é um alerta para quem, encantado com o crescente charme das atividades esportivas de, sim, aventura, quer saber quais precauções tomar antes de embarcar em uma grande furada.

Para a escolha das agências, ele ressalta que existe no site da associação uma vasta biblioteca com manuais que definem as medidas essenciais de segurança que devem ser seguidas na hora de montar e guiar alguém pelas matas e trilhas de qualquer canto do mundo.

“O turista de aventura precisa procurar uma empresa competente, estabelecida e formalizada”, aponta Del Vigna. Ele recomenda pesquisar tanto o CNPJ da empresa, para saber se ela tem o cadastro obrigatório para a prestação de serviços do gênero, como o CPF do guia que vai acompanhar a atividade —é só dar uma pesquisada na internet para ter acesso à maior parte das informações que podem poupar o cidadão de uma roubada de alto risco.

Entretanto, mesmo com tudo legalizado, é preciso ter claro que algum risco sempre virá embutido no esporte de aventura, o que costuma ser justamente o tempero de quem busca sair da rotina do dia a dia e se embrenhar pela natureza. E, para não deixar tudo aos cuidados dos deuses de plantão, algumas dicas devem ser decoradas e podem salvar vidas. Para isso, o blog perguntou a um especialista em levar grupos a áreas onde a natureza é mais desafiadora o que fazer e não fazer antes de botar a mochila às costas.

Segundo Adilson Teixeira de Souza, fundador do Clube de Aventura Atma, a primeira regra seria “sempre cuidar do outro como cuidaria de si mesmo” e ter certeza de que o passeio contará com pelo menos uma pessoa experiente para conduzir a jornada. Mas ele também dá as principais dicas que devem ser observadas para evitar perrengues variados.

1. Defina o trajeto, cheque a previsão do tempo, conheça os pontos de água e o tempo estimado de caminhada, informando alguém de fora sobre o roteiro e o horário de retorno

2. Nunca saia do grupo sem avisar. Se alguém ficar para trás, alguém com mais preparo deve acompanhá-lo mantendo contato com o grupo da frente. O grupo deve andar no ritmo de quem está mais devagar, evitando separações e exaustão.

3. Tenha um “líder” e um “fechador” no grupo. O primeiro define o ritmo e o segundo garante que ninguém fique para trás

5. Informações como pausas, perigos, fome, sede ou mal-estar devem ser ditas sem vergonha.

6. Use roupas e mochilas visíveis, com cores chamativas que ajudam em caso de neblina ou perda de contato visual.

7. Leve rádios ou dispositivo de emergência. Em locais sem sinal, localizadores GPS (como SPOT ou InReach) podem ser vitais.

8. Faça o checklist antes de iniciar a trilha, assegurando que todos têm, além dos equipamentos básicos devidamente conferidos anteriormente, um kit de primeiros socorros com seus medicamentos, comida e água suficiente para a jornada (alguma sobra sempre vai bem, especialmente de alimentos que não pesem e deem energia, como nozes, frutas secas, chocolate etc), capa de chuva, lanterna e celulares carregados ou com modo avião e um apito para sinalizar eventuais problemas. Mesmo que carregadores levem sua mochila mais pesada, certifique-se de ter junto ao corpo uma mochila menor, chamada de ataque, com todos esses itens.

9. Combine sinais sonoros e visuais para todos os membros do grupo, como gritos, apitos, bandeiras, lanternas piscando. A regra universal de 3 diz que três apitos, sirenes ou sinais de luz são pedidos de socorro e três pedras enfileiradas ou tocos em cruz são sinal de emergência.

Lembrando que trilhar não é um passeio no shopping center, o especialista recomenda manter sempre “um passo firme e consciente, olhando onde pisa, evitando tropeçar e escorregar em raízes, pedras soltas e trechos úmidos e andando no ritmo do grupo, mantendo constantemente a pessoa de trás à vista”. Paradas periódicas para descanso também são fundamentais, e permitem que o grupo troque informações sobre o andamento da jornada e o estado geral de cada membro da expedição.

“Exaustão não é frescura”, diz Silva, “mas um alerta de que o corpo está chegando no limite”.

Os sintomas de exaustão física e mental, aponta ele, são tontura, falta de foco, enjoo, tremores, fraqueza ou até desmaio. Nessa situação, ele recomenda “parar imediatamente, sentar-se ou deitar-se com as pernas elevadas, hidratar-se com água com sal ou isotônico, comer algo leve e energético (lembra das castanhas e chocolates aí de cima?), agasalhar-se para guardar o calor do corpo e respirar fundo até recobrar a calma e avaliar se é possível seguir na jornada.

“Mais importante que seguir em frente”, conclui o especialista, “é saber quando parar com sabedoria”.



Folha de S.Paulo