Deputado paraguaio zomba de Luighi, vítima de ato racista – 18/03/2025 – Esporte


Em uma fala racista e machista, o deputado paraguaio Yamil Esgaib zombou do atacante Luighi, do time sub-20 do Palmeiras, por ter chorado após ser vítima de racismo em uma partida contra o Cerro Porteño. A fala ocorreu nesta terça-feira (18), no Congresso.

O político não menciona nominalmente Luighi, mas a referência ao caso ocorrido no início deste mês fica evidente no discurso que foi transmitido ao vivo. Ele diz que chorar é uma atitude de “maricas” e que, uma vez em campo, é preciso ter “masculinidade”.

Diz o deputado rodeado por seus pares: “Um tema que ultimamente está muito em voga é a discriminação. Mas no nosso país estamos muito bem neste tema. Até hoje chamamos o negro de negro, o loirinho de ‘sayju’ [amarelo em guaraní], e ninguém fica chateado.”

“Se de forma pejorativa ou agressiva se diz isso, pode ocorrer uma linda briga, mas nunca chorar na frente das câmeras. Essa é a geração cristal. Deixem de ser maricas, ainda mais nos campos de futebol, onde se mostra a masculinidade, onde se diz de tudo”, segue ele.

Luighi foi alvo de injúria racial no jogo da Copa Libertadores da categoria sub 20 contra o Cerro Porteño, no Paraguai, no último dia 6. Durante o confronto, torcedores do time rival fizeram gestos imitando macaco na direção do brasileiro.

Na entrevista coletiva após a partida, o atacante chorou e se mostrou inconformado com o fato de um repórter fazer uma pergunta sobre o jogo, e não sobre o episódio racista. “É sério isso? Vocês não vão perguntar sobre o ato de racismo que fizeram comigo? Até quando a gente vai passar por isso” O que fizeram comigo foi um crime”, disse, em lágrimas. “A Conmebol vai fazer o que sobre isso?”

Justamente a resposta da Confederação Sul-Americana de Futebol é o que tem sido alvo de criticas. A comissão disciplinar da entidade estabeleceu multa no valor de US$ 50 mil (R$ 288,4 mil) ao Cerro Porteño. A direção do Palmeiras diz que isso é insuficiente para combater as práticas frequentes de racismo no futebol.

O mesmo deputado que zombou do jovem atacante brasileiro também criticou o estabelecimento da multa. “Que culpa [os clubes] têm que um dirigente ou um torcedor que em um momento quente grite algo pejorativamente? É um disparate maiúsculo. Falta um critério no tema discriminação.”

O deputado é membro do Partido Colorado, o maior no país e o mesmo do atual presidente, Santiago Peña. Desde que assumiu o cargo, em 2023, ele colecionou uma lista de falas e atitudes violentas e machistas, compiladas pelos jornais locais.

A reportagem entrou em contato com o governo do Paraguai, do presidente Santiago Peña, e aguarda posicionamento sobre as falas racistas proferidas por um correligionário e por um paraguaio em um alto cargo na região, no caso do presidente da Conmebol.

Em outubro daquele ano, por exemplo, ameaçou agredir fisicamente uma senadora. No dia seguinte, ao comentar o tema, afirmou que seu objetivo era “quebrar a cara” de quem o considera sem educação. Também já ameaçou jornalistas mulheres ao vivo na TV.

No último dia 12, o Cerro pediu à Polícia Nacional do Paraguai que colabore para encontrar o torcedor que fez as ofensas contra Luighi. O clube pede que haja individualização dele para que o nome possa ser apresentado à Associação Paraguaia de Futebol e à Conmebol.

Menos de um dia antes da fala do deputado, o presidente da Conmebol, o também paraguaio Alejandro Domínguez, foi alvo de críticas.

Ao comentar a sugestão da presidência do Palmeiras de que os clubes brasileiros deixem a Conmebol e se associem a outra confederação, ele afirmou que a Libertadores sem o Brasil seria como “o Tarzan sem a Chita”. Depois, retratou-se pelo que chamou de uma “frase popular”, mas sem a “intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém”.



Folha de S.Paulo