Crise no vôlei: eleição, briga na Justiça e temor de prejuízo milionário


A eleição da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que definirá o futuro do esporte olímpico mais vitorioso do país pelos próximos quatro anos, pode não acabar neste domingo, 10. O pleito já envolve disputa judicial, com um pedido de impugnação da chapa do atual presidente Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, à frente da CBV desde 2013, e deve puxar a fila de uma série de lutas semelhantes no calendário eleitoral de confederações justamente em ano olímpico – os Jogos de Tóquio-2020, adiados em um ano pela pandemia do coronavírus, estão marcados para julho.

O principal temor da chapa de oposição liderada pelo advogado e empresário Marco Túlio Teixeira, além do vice Sérgio Escadinha, ex-líbero multicampeão com a seleção brasileira, recai sobre um risco jurídico e econômico, apoiado em orientação da Advocacia Geral da União (AGU) de que “não serão certificadas entidades esportivas as quais um mesmo dirigente seja reeleito para um terceiro mandato, depois da introdução do dispositivo 18A da lei Pelé”.

“O Toroca se enquadra exatamente nesse parecer da AGU. Ele já está em exercício desde o final de 2012, quando o Ary Graça se licenciou. Depois, cumpriu um mandato todo entre 2016 e 2020. Queremos impedir uma manobra e um prejuízo estrondoso justamente em um ano olímpico. Nossa base não é hipotética, temos uma base séria para isso”, disse Túlio a VEJA.

A confederação de vôlei é considerada a mais próspera depois da CBF, com quase 100 funcionários e cerca de 80 milhões de reais em recursos captados anualmente. Somando as modalidades de quadra e praia, o vôlei rendeu ao Brasil 23 medalhas olímpicas, sendo 8 de ouro, 10 de prata e 5 de bronze.

O cenário de disputa eleitoral não tem precedentes. Desde 1975, esta será a primeira vez em que o pleito ocorre com a presença de uma chapa de oposição. Todas as eleições anteriores foram por aclamação, quase sempre com o envolvimento de Toroca. Ex-presidente da federação alagoana, o dirigente acumula cargos na CBV desde a década de 1980, sendo o primeiro vice de Carlos Arthur Nuzman e, posteriormente, de Ary Graça.

Para sustentar a sua candidatura, a CBV assegura que uma possível continuidade “em nada afetará a gestão e a captação de recursos públicos” explicando que, de acordo com interpretação da entidade, o atual presidente exerceu apenas um mandato e, caso eleito, cumpriria o segundo, não ferindo o parecer da AGU.

A entidade ainda diz que esse foi o entendimento do Comitê de Eleição, apontado como um “órgão independente e apartado da diretoria da CBV”, que julgou inválido o pedido de impugnação da chapa oposicionista. Também houve um mesmo entendimento do Conselho de Administração, que rejeitou o recurso e confirmou a decisão do Comitê.

“Não existe história de direito adquirido, de ser dono de alguma coisa. Essa questão dos mandatos nunca ficou muito clara porque não havia oposição para contestar, mas queremos evitar a quebra da Confederação em um ano olímpico. Se ocorrer a reeleição, podemos dizer que 80% das verbas estarão comprometidas. Seria o fim da confederação”, afirma Túlio.

  • Ciclo contestado e colégio eleitoral complexo

    Final vôlei masculino: Brasil x Itália
    Serginho na conquista da medalha de ouro seleção masculina de vôlei na Rio-2016 Antonio Milena/VEJA/NOPP

    Depois de empilhar títulos, o ciclo do vôlei brasileiro passa por questionamentos. Em 2017, após 32 anos, o país não conquistou uma só medalha em mundiais envolvendo categorias de base.

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    Apesar da presença de Serginho, publicamente atletas ainda evitam manifestações políticas favoráveis ao bicampeão olímpico. O colégio eleitoral é considerado complexo, formado por 102 integrantes divididos em: 27 federações, quatro atletas que representam Comissões Nacionais (dois do vôlei de praia e dois de quadra), 54 atletas de Comissões Estaduais (dois por cada confederação), oito medalhistas olímpicos e nove clubes.

    Na eleição, os votos serão realizados por ordem alfabética. De acordo com a oposição, com confederações consideradas menos representativas e de claro apoio a Toroca. Em caso de derrota, além da ação homologada na Justiça Comum, a chapa de oposição ainda pretende manter a luta, ingressando com ação no Comitê Nacional de Arbitragem.

    “É um órgão sério, que recorreremos se eles insistirem em se manter no poder. O julgamento é independente e deve acontecer, no máximo, em um ano e meio. Estamos deixando claro, bem claro mesmo, que as federações que apoiam depois do pleito também poderão ter problemas em assinar embaixo de algo que alertamos ser uma tragédia anunciada”, argumenta Túlio.

    Ginástica e outras confederações também lutarão

    A luta no vôlei é estendida a diversos esportes e confederações no país. Na ginástica, o empresário e atual presidente da federação do Rio Bruno Chateaubriand é candidato à presidência da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). A queda de braço é semelhante, ele tentará evitar o quarto mandato consecutivo da atual presidente Maria Luciene Resende.

    “Não há diálogos, infelizmente. Temos gestores perpetuados no poder. No vôlei, há uma situação ainda pior que da ginástica porque é o esporte que mais entrega resultados. A eleição acontece no fim de janeiro e esse parecer da AGU é o nosso alicerce”, explica Chateaubriand, ex-atleta de ginástica e empresário que ganhou fama como um dos maiores promotores de festas do Rio.

    Chateaubriand, assim como a chapa Renova Vôlei, acredita que poderá vencer impulsionado pela interferência em grande escala de atletas. A VEJA procurou alguns atletas e ex-atletas de relevância na modalidade, mas todos preferiram não declarar publicamente apoio a candidatura.

    “Tenho alguns apoios declarados, de federações, mas entendo que o mais importante é entender que a candidatura coloca a modalidade acima de tudo. Não é amizade, ser bonitinho. A coisa ficou séria, as reeleições podem levar instituições enormes à falência, acabar com elas. E eles precisam entender, apoiar. Perguntei a muitas pessoas antes de entrar”, conta. Chateubriand, Túlio e Sergio Escadinha participaram de uma live nesta quinta-feira, 8, para darem suas versões do imbróglio.

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  • Fonte: Veja Esportes