O mundo que cerca Lionel Messi é repleto de especulações —certamente nada novo para um atleta superstar de seu calibre.
Messi está nos Estados Unidos há dois anos com o Inter Miami, a milhares de quilômetros de seu país natal, Argentina, onde um frenesi midiático que acompanhava cada movimento seu era frequentemente tóxico até 2022. Depois que Messi levou sua nação à glória da Copa do Mundo no Qatar naquele ano, as reportagens se tornaram muito mais amigáveis, mas isso não impediu que muitos em sua terra natal continuassem a especular sobre como seus últimos anos como jogador profissional de futebol poderiam se desenrolar.
Dentro de 24 horas após a eliminação do Inter Miami da Copa do Mundo de Clubes, o futuro de Messi com seu clube da MLS tornou-se um tema de discussão. Comentaristas na Argentina levantaram a hipótese de que o craque, aos 38 anos, consideraria deixar a MLS por uma liga mais competitiva. E, de acordo com pelo menos um relatório, as negociações contratuais entre Messi e Miami haviam estagnado.
É verdade que o contrato de Messi com o Miami expira no final de 2025 e que ele ainda não assinou uma renovação. Mas ainda se espera que ele prolongue sua permanência na MLS pelo menos até 2026, segundo uma pessoa próxima ao jogador, falando anonimamente para proteger relacionamentos.
No mundo de Messi, porém, não é preciso muito para agitar as águas.
Mesmo antes do Mundial de Clubes, e depois que o Miami havia sofrido 15 gols em cinco partidas em maio, o colunista e locutor argentino Ariel Senosiain descreveu o clube de Messi como “uma franquia que nem remotamente faz justiça à sua carreira incomparável”.
A teoria de Senosiain era que o espírito competitivo de Messi, que às vezes em 2025 pareceu mais com descontentamento, é resultado da “falta de excelência ao seu redor”, o que por sua vez afetou sua mentalidade dentro de um ambiente menos competitivo. Senosiain ponderou se o técnico da Argentina, Lionel Scaloni, estaria ficando preocupado com a situação de Messi dentro de um vestiário do Miami que é “frio” em comparação com o ambiente familiar dos atuais campeões mundiais.
Outros repórteres na Argentina sugeriram que o Newell’s Old Boys, clube da infância de Messi, seria o destino preferido do jogador. Mas o Newell’s terminou em nono no último torneio Apertura depois de terminar em 25º na classificação final da Primera División em 2024. Isso dificilmente é um ambiente mais competitivo, considerando que o Miami ganhou um troféu ou competiu entre as melhores equipes da MLS desde a chegada de Messi.
Além disso, a qualidade da primeira divisão argentina diminuiu consideravelmente na última década. Os clubes brasileiros são as potências na América do Sul, como evidenciado durante este Mundial de Clubes. Palmeiras e Fluminense avançaram para as quartas de final, enquanto Boca Juniors e River Plate, os maiores clubes da Argentina, foram eliminados na fase de grupos.
O futebol argentino ainda está entre as competições mais apaixonadas e cheias de tensão do mundo. Isso por si só pode elevar o nível de jogo. Mas por que Messi, que jogou no mais alto nível do esporte por quase duas décadas, consideraria deixar o conforto que desfruta no sul da Flórida por um clube de meio de tabela que não ganha um troféu desde 2013?
Pode doer aos argentinos e especialmente aos torcedores do Newell’s ouvir isso, mas por enquanto, as lealdades clubísticas de Messi estão definidas em rosa e preto.
E quanto àqueles que anseiam por seu retorno ao Barcelona? Uma possível reunião com o clube catalão também ganhou força na internet na semana passada, mas esse cenário é ainda mais improvável.
Em Miami, Messi se cercou de pessoas em quem confia. Isso inclui seus amigos próximos e ex-companheiros do Barcelona Sergio Busquets, Jordi Alba e Luis Suárez. O técnico Javier Mascherano também é um ex-companheiro do Barcelona e da Argentina. Os proprietários do time de Miami Jorge e Jose Mas e David Beckham são executivos e tomadores de decisão do clube que têm a confiança de Messi —algo que o presidente do Barcelona, Joan Laporta, não tem.
“Honestamente, mal falei com Laporta. Talvez uma ou duas vezes no máximo”, disse Messi ao Mundo Deportivo em 2023, depois de revelar ao veículo de mídia espanhol que assinaria com o Inter Miami.
Messi tem se desentendido com árbitros e adversários da MLS e tem parecido irritado com as dificuldades do Miami em 2025. Mesmo assim, ao não renovar ainda, é mais provável que Messi esteja jogando o jogo longo e buscando estabelecer ainda mais influência sobre seu atual empregador, em vez de genuinamente estar de olho em uma saída. É uma tática básica de negociação.
Na semana passada, a pessoa do círculo íntimo de Messi disse ao The Athletic que o capitão do Miami “sabe perfeitamente quais são os objetivos, motivações e também os desafios de vir para Miami”.
Essa mesma pessoa transmitiu que Messi entendeu que Miami é “um clube jovem, que é um novo projeto, e Messi está lá para contribuir e ajudar”.
Certamente parece que Messi se estabeleceu bem na Flórida. Ele tem sido visto nas partidas da academia do Miami de seus filhos Thiago e Ciro, radiante de orgulho ao lado de sua esposa, Antonella. Ele é gentil quando moradores locais o veem em um semáforo. Recentemente, parou para assinar uma camisa para um fã deslumbrado fora do centro de treinamento do Miami. Em outras palavras, a vida está boa para a família Messi.
Seu antigo clube o PSG (Paris St.-Germain) deu uma boa dose de realidade em campo com uma goleada de 4 a 0 em Atlanta, mas o fato de que Miami estava até mesmo na segunda fase do Mundial de Clubes foi um pouco surpreendente.
“Bem, o jogo foi o que se esperava”, disse Messi após a derrota para o PSG. “Eles são um grande time, são os campeões da última edição da Champions League. Foi o jogo que esperávamos, tentamos fazer o melhor possível e deixamos uma boa imagem no nível do Mundial de Clubes.”
Na partida inaugural da competição, Miami teve dificuldades contra o campeão egípcio Al Ahly. O jogo terminou 0 a 0, e depois de se envolver fisicamente e verbalmente com jogadores adversários, Messi estava claramente irritado enquanto saía do campo. Uma vitória contra o Porto mudou tudo para o Miami, no entanto: o gol de falta de Messi levou a uma vitória por 2 a 1, a primeira vez que um time da MLS derrotou um clube europeu em uma competição oficial.
Miami então quase derrotou o Palmeiras, o que teria levado o clube ao topo do Grupo A. Mas o Palmeiras se recuperou de uma desvantagem de 2-0 para forçar um empate, e Messi ficou no círculo central após o apito final, lamentando o que poderia ter sido.
Agora Miami está mudando seu foco de volta para a temporada regular da MLS e uma potencial corrida pelo título. Deve ter sido uma grande mudança passar de enfrentar o PSG para montar um plano tático para derrotar o CF Montreal.
E ainda assim, Messi permanece em negociações contratuais com o Inter Miami sobre um acordo que o manteria nas cores do Miami até a Copa do Mundo de 2026 e a inauguração do estádio Miami Freedom Park.
“As estrelas estão se alinhando para algo grande, para um futuro bonito para o clube e para Lionel. É unicamente decisão dele”, disse Jorge Mas à Rádio FDP em abril. “Espero que dentro de 60 a 90 dias, tenhamos que determinar tudo isso. Minha esperança sempre foi — e tudo o que estamos fazendo — é ver Messi jogar em nosso novo estádio em 2026. Espero que isso aconteça.”
Este artigo apareceu originalmente no The New York Times.
Folha de S.Paulo