Copa do Mundo é malquista em cidade turística da Espanha – 17/04/2025 – O Mundo É uma Bola


Sempre tive a impressão de que abrigar um ou mais jogos de uma Copa do Mundo seria motivo de orgulho e alegria para todo e qualquer cidadão de toda e qualquer cidade.

Nesse ou nesses dias, e também nos dias que antecedem à(s) partida(s), independentemente de quais seleções fossem a campo, o município ficaria em agradável polvorosa.

Os hotéis, os bares e os restaurantes movimentados, o comércio cheio e faturando alto, os cidadãos locais interagindo amigavelmente com os torcedores visitantes, enfim, uma atmosfera digna do mais importante evento futebolístico que existe, e que ocorre de quatro em quatro anos.

São poucos os municípios com o privilégio de serem selecionados para receber jogo(s) de Copa do Mundo.

Para a de 2030, que terá três países como sedes (Espanha, Marrocos e Portugal), mais os “convidados” Argentina, Paraguai e Uruguai, que receberão uma partida cada um, 20 cidades estão pré-selecionadas para que seus estádios sejam o palco de grandes confrontos no aniversário de cem anos do evento –o primeiro Mundial foi realizado em 1930, no Uruguai.

Uma delas é a espanhola San Sebastián, localizada no País Basco, no norte da Espanha, com cerca de 190 mil habitantes e não muito distante (20 km) da fronteira com a França.

Eis que, ao mencioná-la, a minha impressão cai por terra. A população da turística San Sebastián, ou parte significativa dela, não quer ser incomodada pela Copa do Mundo.

Sete associações de bairro enviaram uma carta à Fifa solicitando que a cidade não esteja entre as participantes do Mundial marcado para daqui a cinco anos.

Diz o texto que sediar a Copa do Mundo “só piorará as condições de vida” em San Sebastián, “agravando ainda mais a turistificação” da cidade, culminando em “um impacto devastador”.

Usando a palavra “colapso”, o documento menciona que a Copa causará problemas em locais turísticos (San Sebastián tem três praias bastante famosas), nas áreas urbanas (seus restaurantes e bares possuem alto conceito), nas instalações habitacionais e no sistema de transporte, que ficariam estrangulados.

“Nada mais é [a Copa] do que um esquema empresarial que visa impulsionar a indústria do turismo e a especulação imobiliária”, enfatiza a carta.

Fica evidente, pelo teor, que muitos dos residentes não são afeitos à presença de mais gente de fora por lá, tendo receio de que a cidade fique superlotada, piorando o dia a dia de seus habitantes, e que a cultura e o idioma locais recebam influência negativa.

De acordo com o site polonês StadiumDB, “nos últimos dez anos, o número de acomodações turísticas em San Sebastián aumentou 69% e o fluxo de visitantes cresceu 77%. Simultaneamente, os preços das casas subiram quase 50%, colocando pressão crescente sobre a comunidade local”.



Acreditamos ser urgente seguir o caminho do decrescimento do turismo [na cidade], e acolher eventos como a Copa do Mundo da Fifa leva-nos precisamente na direção oposta

O País Basco conta com um forte movimento nacionalista e busca obter maior autonomia dentro da Espanha, com ideais separatistas e de independência.

Caso a Fifa aceite os argumentos e decida pela não participação de San Sebastián em seu 24º Mundial, dois outros municípios espanhóis têm interesse em receber jogos: Valencia e Vigo.

Se San Sebastián for mantida, o estádio Anoeta (Reale Arena), onde atua a Real Sociedad e que tem capacidade para 40 mil torcedores, será o palco das partidas.

A depender do prefeito da cidade, que abriga anualmente, desde 1953, um dos principais festivais mundiais de cinema, isso acontecerá.

Eneko Goia Laso discorda veementemente dos que se opõem à Copa nela. “Não compartilho desse ponto de vista. Se dependesse deles, San Sebastián seria um zero internacionalmente.”

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Folha de S.Paulo