Falta um ano para a Copa do Mundo. A data foi lembrada ao redor do planeta na quinta-feira (11). Mas, aqui nos Estados Unidos, quem não é fã de futebol talvez nem tenha ficado sabendo. Na nação anfitriã do próximo Mundial —junto com México e Canadá—, o noticiário foi dominado pelos protestos contra as medidas de repressão à imigração de Donald Trump.
Com isso, a imprensa esportiva também tem falado sobre política ultimamente. Há questionamentos sobre a briga que o presidente americano comprou com vizinhos mexicanos e canadenses por sua visão econômica e migratória e os possíveis efeitos na organização da Copa. Afinal, o sucesso de um megaevento sediado em vários países também depende de agilidade logística nas fronteiras e circulação de turistas ágil e eficiente. Não ajudaram as declarações sem noção de Trump de que adoraria que o Canadá se tornasse o 51º estado americano.
Não é novidade para ninguém que os Estados Unidos são um dos países que mais valorizam e investem em esporte, desde a base. Como jornalista, acho impressionante a cobertura que fazem dos esportes universitários, com vários canais na TV transmitindo basquete, futebol americano, natação, atletismo.
No entanto, eles estão aprendendo a gostar de futebol (masculino, porque no feminino elas são craques e vitoriosas). Se você vier para cá, nem tente chamar de “football” —esse é o futebol americano, o deles. Messi e cia. jogam “soccer”.
A Copa do Mundo de Clubes, que começa neste sábado (14) —motivo pelo qual estou em solo americano—, é vista como uma oportunidade de promover um esporte que por aqui ainda é secundário. Vai até 13 de julho e tem 32 equipes, entre elas Manchester City, PSG, Bayern de Munique, Real Madrid, Juventus. Para os torcedores dos quatro clubes brasileiros na competição –Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo—, é uma rara chance de ver o seu time enfrentar potências europeias.
A partida de abertura é entre o Inter Miami, de Messi, e o Al Ahly, do Egito. Em um telão em Times Square, em Nova York, vejo os rostos do argentino, de Vinicius Junior e de Erling Haaland em uma propaganda do torneio. E tem sido comum cruzar nas ruas da cidade com torcedores do Fluminense, do Porto, do Borussia Dortmund, que jogam aqui nos próximos dias.
A Copa do Mundo de Clubes também serve como teste para o Mundial de 2026. Na semana passada, Trump, mais uma vez, ofuscou a parte esportiva ao assinar um decreto proibindo a entrada de cidadãos de 12 países nos Estados Unidos, inclusive o Irã, cuja seleção já está classificada. A medida causou enorme controvérsia, apesar de ele dizer que atletas não serão afetados pelas restrições.
Daqui a três anos, Trump também será o presidente que vai declarar abertos os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028. A cidade da Califórnia, com grande população hispânica, é um dos focos das manifestações dos últimos dias, e um toque de recolher está em vigor.
Como esporte e política se misturam, é normal que até as vésperas de um grande evento o foco esteja nos problemas do país-sede —o que é importante e necessário— e, quando a competição começa, a atenção mude para campos e arenas.
Nos Estados Unidos de Trump, essa mistura estará bem mais evidente.
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