Teria sido, e talvez ainda venha a ser, clássico para entrar na galeria dos jogos imortais.
Por mais que se possa destruir as defesas de Corinthians e de Grêmio, jogo que termina em 4 a 4 é garantia de diversão.
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Principalmente para quem não é dos Mosqueteiros paulistas nem dos gaúchos, que homenagearam Alexandre Dumas como ele merece. Mosqueteiros que, como se sabe, eram quatro.
O jogo foi diversão pura e disputado em muitos tempos, dois só no primeiro.
Até pouco mais da metade da etapa inicial, o Grêmio deu um baile no Corinthians, com triangulações entre os espaços deixados pela generosa defesa alvinegra, e construiu o 2 a 0 que parecia prenúncio de goleada.
O recuo incompreensível permitiu então o segundo jogo nos primeiros 45 minutos, que, de fato, foram 51.
Pênalti desnecessário em Renato Augusto apagou a luz gremista e em seis minutos deu-se a mais inesperada virada dos últimos anos: 3 a 2 e não se fala mais nisso.
Fala-se sim.
Porque o segundo tempo viveu apenas 13 minutos para ver nova virada, com mais dois gols tricolores, um deles com refinado toque de bico de Luis Suárez para vencer o gigante Cássio.
Pronto!
O Grêmio havia retomado o comando da partida e se imposto como esperado, porque time, não bando como rival, embora recheado de bons jogadores.
Pronto nada.
Porque o Corinthians ainda achou como empatar em 4 a 4. E estava tudo muito bem, tudo muito bom, jogo fechado para entrar nos anais e ser relembrado daqui a 50 anos.
Qual o quê!
Trapaça dos deuses dos estádios, provavelmente irritados com o placar bailarino que costuma esconder as deficiências de cada time, um pênalti clamoroso de Yuri Alberto acabou desconsiderado pelo assoprador de apito (da Fifa!) e pelo VAR da CBF, que resolveu suspender os irresponsáveis e devolvê-los aos bancos escolares, embora seja improvável que desconheçam a regra.
Mais possível é a necessidade de duas, uma: oculista ou terapeuta —para controlar pânico de apitar contra o dono da casa. Em Porto Alegre, não tenham dúvidas a rara leitora e o raro leitor, o pênalti seria marcado.
Tanto bastou para os oito gols serem indevidamente mandados a escanteio e a “desarbitragem” ganhar mais espaço.
Aqui mesmo, como se constata.
E olhe que raramente você encontra o nome dos assopradores, muito menos os dos aVARcalhadores de nossa paixão, como também agora não se lerá.
Retomemos o fio.
Quem torce para o Inter adorou ver seu ex-centroavante Yuri Alberto estragar a festa do rival.
Quem é corintiano morreu de medo de o pênalti ser marcado e batido por Luan para fazer o 5 a 4, o que, cá entre nós, além de tirar a arbitragem da epopeia, tornaria o clássico definitivamente épico.
Para Renato Portaluppi, justificadamente indignado, até Stevie Wonder teria marcado a penalidade, em mais um comentário politicamente incorreto do bolsonarista.
Já para o lulista Vanderlei Luxemburgo, tomar quatro gols em casa deve ter sido a gota definitiva que transbordará mesmo que venha a taça sul-americana.
Ele, assim como Jorge Sampaoli, e como também aconteceu com Dorival Júnior na Gávea em 2022, parece fadado a engrossar a lista do vizinho Sandro Macedo —na verdade, menos uma lista e mais um cemitério de treinadores que o colunista, mau feito pica-pau, enriquece sadicamente a cada semana.
Viva o 4 a 4! Abaixo o apito!
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