A marca brasileira por excelência de vestuário e calçados esportivos, a Olympikus, sempre precisou lidar com o desafio de ser reconhecida em seu próprio país.
É o mesmo problema enfrentado, por exemplo, pelo vinho nacional. As concorrentes gringas da Olympikus, como Nike, Adidas, Fila, Puma, Asics, On e New Balance, entre outras, são, digamos, os bordaleses, borgonheses e os Catenas. Já vêm com reputação ilibada –mesmo quando não é bem o caso.
Mas não ter hoje astros internacionais em atividade no casting a usar seus tênis, não patrocinar corridas “majors” como Nova York, Berlim ou Tóquio e ser uma marca essencialmente local diz menos sobre a empresa do que sobre as dificuldades estruturais e históricas do Brasil.
A Olympikus assumiu como slogan ser uma marca “feita por brasileiros” para brasileiros.
E neste Brasil de 2024, a Olympikus vive um momento de efervescência. É ela, segundo Márcio Callage, CMO da Vulcabras, grupo que a controla, que dita o preço do segmento.
Neste último fim de semana, a marca lançou em Morretes, no Paraná, a nova edição de sua família de tênis de corrida, a Corre. Quem a puxa é o Corre 4, próprio para a corrida de rua. O preço é o mesmo do Corre 3, a versão anterior: 500 mambos.
O lançamento ocorreu durante mais uma etapa do “Bota pra Correr”, prova proprietária da Olympikus que itinera pelo Brasil, sempre em locações de cartão-postal. Já houve “BPC” no Jalapão, em Alter do Chão, no Pantanal, entre outros lugares que hoje estão em combustão. Em novembro aporta em Itacaré, no litoral sul baiano.
O BPC é uma das pontas mais visíveis do que Callage chama de “ecossistema”, uma mobilização de atores do mundo da corrida: assessorias esportivas, grupos de corredores (crews), influenciadores, alguns jornalistas –como este colunista, que teve sua viagem bancada para Morretes pela Olympikus–, além do laboratório de biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, parceira no desenvolvimento do Corre.
(Como a USP não pode receber dinheiro pelo serviço, a marca entra apoiando bolsas de estudo.)
As edições do Corre seriam resultado de uma espécie de cocriação, a partir de sugestões de corredores, dos testes do laboratório da EEFE e das lições aprendidas com a concorrência.
Tal mobilização começou antes da pandemia e envolve não apenas as viagens para os paraísos turísticos do BPC como testes à quente com os produtos que ainda estão por chegar ao mercado.
Em Morretes aconteceram provas de 10km e 21km em estrada pavimentada –para o povo da meia, com direito a um pequeno “cameo” do calçamento da estrada-parque da Graciosa. Houve ainda uma trail run, já que um dos irmãos do Corre 4 é o Trilha 2, com solado com ranhuras, apropriado para a terra.
Em algumas apresentações prévias e em entrevista para a coluna, Callage costuma repetir que “marcas famosas concorrentes” tiveram de promover queimas de estoque para lidar com a vendagem do Corre 3, que ditou o preço padrão “custo-benefício”.
Curiosamente, duas dessas marcas são operadas pela própria Vulcabras, a japonesa Mizuno e a estadunidense Under Armour.
Não há, segundo Callage, confrontos ou perda de foco aí, porque a Mizuno tem uma grande gama de produtos e um público brasileiro fiel e a Under Armour, muita força no vestuário e lifestyle.
E é justamente em vestuário que a Olympikus também passou a apostar às vésperas dos 50 anos da Vulcabras, a ser celebrado em 2025. Sem lojas próprias hoje, mas reforçando os acordos com o “trade” –especialmente com a rede multimarcas Authentic Feet–, a Olympikus quer aproveitar algo do know-how mundial da Under Armour em vestuário para crescer também aí.
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