Caubói sem asfalto, mas com tapetinho – 24/02/2025 – Sandro Macedo


Desde o início do ano, entre os times envolvidos com a holding de John Kid Textinho, o único feliz é o Crystal Palace, justamente por estar conseguindo se livrar do caubói do asfalto —para os íntimos de January’s River, o caubói do tapetinho.

Não dá para dizer que os torcedores do Botafogo estão chateados, afinal, Textinho levou o time para uma dupla conquista histórica em 2024, com Brasileiro e Libertadores. Mas já é possível afirmar, no mínimo, que tem muito torcedor do Putfire cabreiro com o abandono em 2025.

É como nos filmes antigos de caubói, daqueles estilo western-spaghetti: o mocinho, que não tem cara de mocinho, chega na cidade, vê que está tudo uma zona e que dá para dar um jeito na situação e ainda tirar algum proveito. E nem é preciso muito esforço diante do quadro de penúria da comunidade, que reza por um salvador.

Depois de derrotar o tal vilão (com um pistoleiro a menos na final da Libertadores), o tal caubói é festejado como herói, tasca um beijo na mocinha (quer dizer, na taça), monta em seu cavalo (que pode, ou não, ser emprestado pelo New England Patriots) e cavalga em direção ao horizonte, com seu nome gritado em coro pela comunidade. Fim.

Se o filme tiver continuação, será para mostrar que, algum tempo indeterminado depois, a cidade voltou para a mesma situação de penúria e aguarda novamente pela volta do herói. Todos gostam de um filme novo, porém repetido.

Com muito dinheiro no pocket e sem um “fair play” financeiro para prestar contas, o caubói Textinho mostrou em 2024 que só precisava da janela do meio do ano para arrumar algumas falhas e levantar o caneco —não que Flamengo, Palmeiras ou Corinthians tenham folhas salariais aliadas a algum conceito de “fair play”, mas o Botafogo parece ter elevado o nível da brincadeira.

Este humilde escriba nem está contanto o Mundial de Clubes, esmagado no calendário com a Libertadores, no qual o Botafogo não sobreviveu nem ao duelo de estreia. Mas depois o time passou o Estadual inteiro sem treinador, vendeu alguns dos principais nomes, não fez reposições à altura e continua empilhando derrotas.

Neste fim de semana, no Carioquinha, conseguiu ficar fora do top 4 (semifinalistas) e até do top 8 —times entre quinto e oitavo vão disputar uma vaga na Copa do Brasil e ainda o campeão leva uma tacinha.

Em 2024, o Botafogo fez vexame semelhante no estadual (fora da semi) e entrou quente no Brasileiro.

Talvez o famoso departamento de scout do clube tenha passado as estatísticas mensais para John Textinho e avisado que ainda não é hora de salvar a cidade. Melhor deixá-los sofrer mais um pouquinho.

Enquanto isso, o caubói John dá vexame na França, com chapéu e tudo. Seu Lyon continua correndo risco de punição pela federação e ele agora deu para bater boca com o caubói árabe do PSG —não é bom bater de frente com pistoleiros do PSG, mas Textinho sempre foi destemido. Nem sempre compreendeu para que serve o VAR, mas nunca lhe faltou ousadia.

No Paulistinha, parabéns para a Ponte Preta, que se tornou o melhor time da história (deste regulamento) a ficar fora da semifinal, com 22 pontos, um ponto a mais que o São Bernardo de 2024. E os quatro grandes podem ser semifinalistas, o que não acontece desde 2019, ano do último título do Corinthians, mas esse é outro filme.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo