Calderano expõe momento ruim do tênis de mesa da China – 23/04/2025 – Esporte


A vitória histórica de Hugo Calderano na Copa do Mundo realizada em Macau escancarou uma situação que poucos imaginariam antes dos Jogos de Paris: a China passa por um momento ruim no tênis de mesa.

Nesta quarta-feira (23), três dias após a conquista do brasileiro, o anúncio da renúncia de Liu Guoliang da presidência da CTTA (Associação Chinesa de Tênis de Mesa, na sigla em inglês) reforçou esse cenário.

Liu, 49, um ex-atleta de prestígio, estava no cargo desde 2018 e havia sido reeleito em 2023, o que indica que a saída ocorreu de forma inesperada. No discurso oficial, ele fala em ter mais tempo para a família e deixar que uma nova liderança tenha tempo para preparar a equipe chinesa para o ciclo de Los Angeles.

Ainda que não seja possível cravar um elo entre a vitória de Calderano e a demissão de Liu, é certo que a mudança na chefia do tênis de mesa da China ocorre após uma série de baques emblemáticos para o país desde Paris-2024, quando Wang Chuqin, então número 1 do mundo, foi derrotado na segunda rodada.

Tudo bem que o adversário que o derrotou foi Truls Moregard, que acabou com a medalha de prata, mas o vexame foi grande, já que o sueco vinha de um ano bem ruim, e, nas sete partidas anteriores entre ambos, ele havia perdido todas —até então, de 25 games disputados, Moregard só tinha conseguido ganhar dois.

Alguns vão dizer que é a maldição da raquete quebrada. Enquanto Wang celebrava a medalha de ouro nas duplas mistas, um fotógrafo pisou na raquete dele, e desde então o mesa-tenista sofreu reveses curiosos.

Além da derrota precoce nos Jogos, em outubro passado ele foi superado por Benyamin Faraji, um atleta iraniano pouco conhecido de 14 anos. Dias antes, havia perdido para o dinamarquês Anders Lind e, no mês seguinte, foi derrotado pelo sueco Anton Kallberg. Até então, reveses para não asiáticos eram uma raridade, e meses depois ele deixou de ser o líder do ranking, destronado por um jovem —chinês, claro— de 19 anos.

O mais simbólico da jornada infeliz de Wang na chave individual nas Olimpíadas é que, pela primeira vez em 20 anos, a China não fez a dobradinha com ouro e prata na modalidade. Menos mal que Fan Zhendong tenha sido o campeão em Paris, limpando a barra do país, mas meses depois o mesa-tenista anunciou sua saída do circuito do WTT em protesto contra as multas para quem se recusar a jogar torneios da entidade.

Ex-número 1 do ranking por um longo período, Fan venceu quatro edições da mesma Copa do Mundo conquistada por Calderano no domingo (20), a primeira delas em 2016, quando tinha apenas 19 anos. A decisão de deixar os eventos internacionais gerou mudanças nas regras do WTT, mas hoje ele parece mais interessado em viajar à Espanha para assistir a jogos do Real Madrid, time do qual é torcedor apaixonado.

A vitória de Calderano em Macau agitou as redes do país, com posts pedindo a volta de Fan e a renúncia de Lin. Mas o buraco é mais embaixo, pois outros grandes atletas chineses também deixaram o circuito: Chen Meng, ouro em Paris e Tóquio no feminino, e Ma Long, considerado o maior mesa-tenista da história.

O “ditador”, como ficou conhecido devido ao seu amplo domínio na mesa —é o único jogador a ganhar dois ouros no individual masculino em Jogos—, tem 36 anos, e o anúncio soa como aposentadoria — junto ao anúncio da saída de Lin, ele também virou cartola e assumiu a vice-presidência da —CTTA, mas é só ver seu histórico recente para perceber que ele ainda tem algo a oferecer. No ano passado, foi campeão da Copa do Mundo e chegou à decisão do China Smash, um dos campeonatos equivalentes aos Grand Slams do tênis.

Naquela final, perdeu para Lin Shidong, justamente o rival do título de Calderano em Macau. Atual líder do ranking, é o mais jovem a chegar a essa posição, aos 19 anos, 9 meses e 24 dias. Com uma cara de garoto assustado e um backhand poderoso, a nova estrela é a esperança chinesa para continuar à frente de todos, sem os vacilos recentes. Calderano, no entanto, mostrou que há espaço para furar esse amplo domínio.



Folha de S.Paulo