Leonardo Frugis Afonso, 23, está fora do Brasil há mais de dez anos. Com sua família (pai empresário, mãe, irmã mais velha, irmão mais novo), mudou-se para Boca Raton (EUA) e lá tocou sua vida.
Bom de bola desde garoto, juntou aos estudos a prática de futebol, atuando no Boca United, clube de futebol na cidade da Flórida dedicado à formação de jogadores.
As boas atuações em campeonatos juvenis chamaram a atenção do Philadelphia Union, que o recrutou em 2018 para atuar nas categorias de base. Regressou à Flórida um ano depois, para jogar na base do Inter Miami, time recém-fundado e que tem o inglês David Beckham como proprietário.
Em 2020, migrou novamente, para cursar relações internacionais na Universidade de Virginia, passando a atuar no futebol universitário pelo Virginia Cavaliers. Novamente, destacou-se.
Atacante veloz que tem boa movimentação, destro que joga pela esquerda, e ciente de que no futebol moderno é necessário dar duro também na marcação, Leo Afonso, como é conhecido, foi escolhido pelo Inter Miami na segunda rodada da seleção de jogadores (“draft”) que a MLS (Major League Soccer, campeonato com os principais times de EUA e Canadá) fez em 2023.
Único brasileiro no plantel, o fã de Neymar e de Gabriel Martinelli (atacante do inglês Arsenal e da seleção brasileira) tem lutado por espaço na equipe que tem como principal nome Lionel Messi, 37, oito vezes eleito o melhor do mundo, campeão da Copa do Mundo de 2022 com a Argentina e um dos melhores futebolistas da história.
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O camisa 22 (já foi 7 e 73) afirma não ser próximo a Messi –que, como ele, é chamado de Leo–, mas ressalta conviver mais com o craque que com a família, devido à rotina de treinos e jogos e por morar em Fort Lauderdale, sede do Inter Miami.
Os pais e o irmão vivem em Delray Beach, a cerca de 40 km de distância, e a irmã, em Nova York.
O Inter Miami é um dos participantes do novo Mundial de Clubes organizado pela Fifa, com 32 times, o qual muitos convencionaram chamar de Supermundial (e agora de Copa do Mundo de Clubes) e que começa neste sábado (14), com a equipe enfrentando o Al Ahly, do Egito.
Na fase de grupos, um dos adversários da equipe norte-americana será o Palmeiras. Leo Afonso não revela o time pelo qual torce, mas sua mãe é palmeirense, o que pode dar margem para palpite.
Nesta entrevista ao blog, Leo Afonso fala sobre suas expectativas para o Supermundial, revela os ídolos de infância, aborda o sonho de jogar na Europa e lembra o dia em que Messi o surpreendeu antes de um Brasil x Argentina.
Qual sua expectativa para a primeira Copa do Mundo de Clubes, que será nos EUA, onde você joga?
Estou ansioso para o começo dos jogos, não para jogar. Nossa expectativa… a gente não tem muita expectativa. Lógico que a gente quer ganhar os jogos, mas sem uma expectativa concreta no clube de passar para a próxima fase.
Há algo específico a dizer sobre o Palmeiras?
A gente nem falou muito do Palmeiras, estamos focados no primeiro jogo, que vai ser contra o time do Egito [Al Ahly]. Faz um pouco de tempo que não vejo o Palmeiras jogar, então é difícil falar sobre algum jogador, mas para mim vai ser bem legal jogar contra o Estêvão.
Qual seu time de infância e seus ídolos no futebol?
Tenho um time, mas não vou falar para que time eu torço, é uma preferência minha. Gostava de ver, quando era mais novo, o Neymar, o [Luis] Suárez [atacante uruguaio que está no Inter Miami], o Kaká. São os meus top 3. Atualmente, além do Neymar, gosto do [Gabriel] Martinelli [atacante do Arsenal e da seleção brasileira].
Qual o seu nível de contato com o Messi? Vocês são próximos?
Não somos melhores amigos, mas somos companheiros de time, vejo ele mais que vejo meus pais. Temos uma relação boa no dia a dia, ele é gente boa, treinamos juntos.
Já teve uma conversa só você e ele, sobre futebol ou outro assunto?
Neste ano, quando o Brasil foi jogar com a Argentina [derrota brasileira por 4 a 1 nas Eliminatórias da Copa de 2026], perguntei quem ele achava que ia ganhar, e ele falou que não sabia. Foi bem engraçado para mim, porque eu tinha certeza de que ele ia falar que a Argentina ia ganhar, e ele falou que não sabia.
Marcante para mim é o jeito que ele treina. No final de semana, está marcando gol e dando assistência. Chega na segunda-feira, está ‘destruindo’ no treino
Como é o Messi no dia a dia? E nos dias de jogos?
Ele é mais quieto no dia a dia. No dia de jogo, é um líder, sempre está falando e motivando todo mundo pra gente ganhar. Fala pra todo mundo ter calma, jogar bola, que a gente vai conseguir ganhar. E marcante para mim é o jeito que ele treina. No final de semana, está marcando gol e dando assistência, chega na segunda-feira está “destruindo” no treino. É bem marcante isso, mostra por que ele chegou aonde chegou.
Ele tem alguma superstição?
Nunca percebi nada. Mas deve ter alguma coisa, todo jogador tem alguma coisa. Eu tenho. Antes do jogo, gosto de rezar um pouco, visualizo na minha cabeça a posição que estarei jogando e fazer alguma ação boa: marcar um gol, driblar alguém. Pensar no positivo.
Já pediu autógrafo para o Messi?
No final do ano passado, pedi uma camiseta assinada e ele me deu. O pessoal [jogadores do Inter Miami] pede no dia a dia, “um autógrafo para um amigo”, não tem nenhum problema.
Com quem você tem mais proximidade no time, e por quê?
Tem dois meninos no time que são também novos, o Noah Allen [21 anos], em uma temporada muito boa, e o Ian Fray [22 anos], em temporada muito boa também. A gente é mais próximo porque jogou na base do Inter Miami antes de subir para o profissional. Já os conheço faz bastante tempo.
Você usava no ano passado a camisa 73 no Inter Miami, agora está com a 22. Por que mudou?
Quando cheguei ao clube, no time B me deram a 7, e no time principal me deram a 73, não perguntaram qual eu queria, deram esse. No começo deste ano, escolhi a 22. [O número] estava aberto, foi o que usei na base, achei que seria legal usar de novo o 22.
O que você pode falar do treinador do Inter Miami, o argentino Javier Mascherano?
Tivemos resultados não muito bons nos últimos dois meses nas ligas dos EUA, mas as táticas dele são bem boas, ele é um treinador bem bom. No papel, tudo faz sentido. Faltou um pouco de sorte nesses jogos que a gente não ganhou. Ele me dá dicas do que fazer, toda semana.
Você tem tido pouco tempo de jogo. Como lida com isso?
Qualquer jogador profissional, no mundo inteiro, quer jogar, é difícil não estar jogando. Estou a cada dia trabalhando mais duro para conseguir jogar mais minutos.
Como você avalia suas características como jogador? No que é bom e no que precisa melhorar?
Tenho um chute forte, consigo driblar no um contra um, trabalho duro fora do ataque, defendendo. Acho que preciso… Quero fazer gols, mas sou muito apressado, preciso ser um pouco mais calmo [nas finalizações].
Você disputa a posição no time com quem?
Quem joga pela esquerda é o [venezuelano] Telasco Segovia.
Você joga mais que ele?
(risos) Cada um tem sua opinião, eu não sei.
Quais seus objetivos na carreira?
O mais importante é que estou melhorando a cada dia. Obviamente, quero ter mais minutos nos jogos, marcar mais gols, mostrar que eu consigo jogar nesse nível. Para os próximos anos eu não sei, Deus que sabe o que vai acontecer. O que importa é que estou focado em melhorar a cada dia e esperando uma chance com paciência para fazer um impacto.
Se pudesse escolher um time para jogar futuramente, qual seria?
Meu sonho sempre foi jogar na Europa, então jogar em um time na Inglaterra é um sonho que eu tenho. Sempre sonhei jogar no Manchester City, Chelsea, Liverpool, nos maiores na Inglaterra. E no Brasil seria muito legal porque minha família está toda aí, sem ser meus pais e meus irmãos, então seria bem especial. Pode ser qualquer time de São Paulo.
O seu aniversário é no dia 13 de julho, dia da final da Copa do Mundo de Clubes.
Seria um ótimo presente de aniversário estar na final (risos). A gente está indo dia por dia, jogo por jogo, vamos ver o que acontece.
Folha de S.Paulo