Brasileiro gosta de esporte ou de vencer? – 22/08/2025 – Marina Izidro


No início da minha carreira, um jornalista mais experiente me disse certa vez na Redação: “Marina, brasileiro não gosta de esporte, gosta de ganhar!”.

Ouvi e absorvi, mas quis comprovar através da minha própria experiência ao longo dos anos se isso fazia sentido ou não.

Hoje, não concordo totalmente com a frase daquele colega, acho uma afirmação radical demais. Acredito que o brasileiro gosta de assistir a esportes e praticá-los e fica feliz em torcer pelos seus. Mas também acho que existem alguns pilares necessários para desmentir essa frase. São vários, mas destaco alguns.

Primeiro, aumentar a visibilidade na imprensa de esportes menos tradicionais. Nesta sexta-feira (22), começou a Copa do Mundo feminina de rúgbi na Inglaterra. O Brasil participa pela primeira vez na história, e essa é uma conquista marcante para o esporte brasileiro. Estar no torneio é fazer parte de um grupo seleto: apenas 16 seleções participam desse evento gigante, comparável à Copa do Mundo feminina de futebol. A cereja do bolo é ser no país que inventou e ama esse esporte. Mais de 80% dos 470 mil ingressos já foram vendidos.

Mesmo assim, tenho visto uma cobertura pequena na imprensa brasileira, o que é uma grande pena. Vi poucas matérias sobre o assunto, e só um canal na TV paga vai transmitir. Conversei com a jogadora Raquel Kochhann e com o treinador da seleção, Emiliano Caffera, para uma reportagem que a Folha publicou na última quinta (21). Raquel, atleta experiente, porta-bandeira do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, disse-me que elas querem mostrar que nosso país tem outros esportes além do futebol e que o rúgbi merece investimento.

A seleção feminina está em 25º no ranking mundial. Se tivesse chance real de título, a visibilidade seria maior? Com certeza. Mas como as pessoas no Brasil vão acompanhar e conhecer se, fora da bolha do rúgbi e de quem acompanha esporte de perto, elas não ficam sabendo que o torneio existe?

Segundo ponto: não pensar em patrocínio só como estratégia de curto prazo. Investir no esporte é um negócio, e é compreensível que marcas queiram privilegiar quem tem chances de medalha. Mas não ajuda o fato de nossa sociedade ser imediatista, não ter paciência com quem está começando na carreira ou pratica uma modalidade com menos tradição –ou simplesmente joga algo que não seja futebol. Quer retorno financeiro e ídolos para ontem. E acaba ignorando algo essencial do esporte: a maioria dos atletas perde mais do que ganha, a não ser o Carlos Alcaraz no tênis, o time de basquete americano em Jogos Olímpicos, um Usain Bolt ou um Michael Phelps da vida.

Finalmente, é preciso facilitar o acesso do espectador a estádios e arenas. Uma amiga me disse que queria levar a filha para assistir ao Mundial de ginástica rítmica disputado no Rio de Janeiro nesta semana, “mas é impossível porque um ingresso está R$ 500”. Fui checar no site, e a entrada mais barata, no pior lugar, estava R$ 298. Que absurdo. Fora taxas, estacionamento, lanche etc. Como criar uma nova geração de torcedores quando o valor do ingresso é abusivo?

Brasileiros gostam de esportes e de vencer. Mas esse amor precisa ser cultivado pelos diferentes gestores. E só funcionará se for um esforço coletivo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo