Brasileirão será decidido, outra vez, na derradeira rodada – 07/12/2024 – Juca Kfouri


Como no ano passado, o Brasileirão conhecerá seu campeão apenas na última rodada.

Em 22 edições, é a nona vez (40,9%) em que assim se dá.

Nem por isso a fórmula agrada a todos, e é até bom, porque toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues.

O que é difícil engolir são argumentos já ditos por cabeças medíocres como “se campeonatos de pontos corridos fossem bons, a Copa do Mundo seria disputada assim”, ou “pontos corridos são como dançar com a irmã”, ou com o irmão, acrescenta a coluna para não cair em tosco machismo.

Definir o título na 38ª rodada é emocionante, embora não seja o objetivo da fórmula que garante calendário conhecido por todos os clubes e por toda a temporada, o que permite a cada um se planejar sem correr o risco de entrar em férias forçadas.

Ao Botafogo basta empatar com o São Paulo no Nilton Santos, festa que o botafoguense merece para coroar o ano em que voltou a ser dominante.

Caso não seja no Rio, a comemoração será na casa palmeirense e igualmente épica, ou até maior, porque improvável e a do tricampeonato consecutivo.

Nem por oportunismo a celebração de domingo tão interessante deve se limitar às emoções que produzirá em cima e em baixo.

Mesmo que em 13 outras edições o campeonato tenha se decidido antecipadamente, a prevalência do melhor sempre merece ser cantada em prosa e verso.

Os mais jovens desconhecem, mas a profusão de torneios com mata-matas no Brasil nasceu em São Paulo para evitar que o Santos de Pelé continuasse a ganhar tudo o que disputava.

Inventou-se a fórmula do mata-mata para produzir eventuais acidentes, em prejuízo do conceito de campeonato e para inflacionar o de torneio.

De fato acabamos de ver como a finalíssima da Libertadores mexeu com as atenções e os nervos de todos.

E, também, a da Copa Sul-Americana, ou as da Copa do Brasil, em dois jogos, o que ainda parece melhor.

Some-se a estas as dos campeonatos estaduais, que, por sinal, só aí têm graça. Não bastam?

Imagine se o Campeonato Brasileiro fosse mais espaçado e pudesse respeitar o exagero das datas Fifa.

A média de público, de mais de 25 mil torcedores em 2024, em progresso lento, gradual e seguro, seria certamente maior, embora mil torcedores menor que em 23, a melhor da história.

Seja o Botafogo campeão, e será muito justo, indiscutível.

Seja o Palmeiras, e também será justíssimo, incontestável.

A luta para implantar o atual modelo de disputa do nosso principal campeonato levou décadas para triunfar e teve de vencer a intransigência burra de uns poucos poderosos.

Hoje sobrevivem alguns opositores.

Boa parte por não reconhecer o erro, pois falta grandeza para tanto. Outra por incomunicabilidade entre seus Tico e Teco, e estes merecem comiseração.

Àqueles que seguem batendo na tecla de que o esporte existe para emocionar, não para fazer justiça, resta dizer que nada é tão emocionante como ver a justiça acontecer.

E não apenas no esporte.

Mas sempre tem um mas.

Até quando o país toma conhecimento de que a miséria chegou ao menor nível histórico, há quem lembre: mas a desigualdade continua.

Ora, só contaram para você, Pedro Bó, personagem parvo criado por Chico Anysio meio século atrás.

Como o mata-mata para parar o Santos.

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Folha de S.Paulo