Acabou melhor que a encomenda.
Pelo menos do ponto de vista de quase lotar o estádio em Itaquera e proporcionar, com mais de 41 mil torcedores, a maior renda do futebol de mulheres no Brasil ao superar a casa de um milhão de reais pela primeira vez. E acrescente mais 237 mil reais.
Não é pouco e melhor será se servir para o Corinthians pagar o que deve às suas jogadoras e ex-jogadoras.
O jogo em si, na decisão do Campeonato Brasileiro, deixou a desejar, principalmente em primeiro tempo muito faltoso e nervoso, com as Brabas neutralizadas pelo sistema defensivo do Cruzeiro que ainda proporcionou a melhor chance de gol, com uma bola no travessão alvinegro.
Dispostas a mostrar quem manda em Itaquera, as Brabas partiram com tudo e mais um pouco no começo do segundo tempo e, com a zagueira Thais Ferreira, fizeram o gol que garantiu o heptacampeonato —o hexa seguido.
Daí em diante sobraram emoções e tensão, porque as mineiras foram em busca do empate que levaria a decisão à marca do pênalti. Quase, no derradeiro segundo, conseguiram.
Mantida a hegemonia corintiana, restou patente, também, que cada vez mais o reinado estará em xeque, porque, além das Cabulosas, Palestrinas e Soberanas são rivais de respeito, como sempre foram as Guerreiras Grenás de Araraquara.
É muito bom ver o futebol feminino se firmar como atração e até conquistar lei específica para protegê-lo, fruto do esforço, entre outros, do ex-prefeito de Araraquara, e atual presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva.
Depois de 38 anos proibido no Brasil, até 1979, fruto de preconceito estúpido e do machismo vigente entre os brasileiros, mulheres jogam futebol muito bem, viram atração em ascensão e chutam a escanteio aqueles que, por não gostarem da qualidade apresentada, fazem campanha contra a legítima afirmação delas no cenário esportivo nacional.
O basquete e o vôlei também já pagaram o mesmo preço, até que valorosas atletas ganharam o mundo com seu talento.
Futebol não é só para homem e lugar de mulher é onde ela quiser.
Esses uruguaios…
Discute-se no Uruguai sobre a permanência de El Loco Bielsa à frente da Celeste.
A jornalista Ana Laura Pérez, editora do jornal El País local, em defesa dele, argumenta de maneira deliciosa: “No Uruguai o futebol não é o futebol. Amo Bielsa porque ele tem tudo que ver com o futebol e nada que ver com o futebol. Em dia de jogos no Uruguai, não passa nada. O trânsito é uma demência, ninguém atende ao telefone. Como somos um país que não vai à guerra, há toda uma mística que tem a ver com a construção da identidade do país, com o que somos e com o que não somos. Amo Bielsa porque ele usa as palavras certas para dizer as coisas certas, porque ele é um argentino triste. E o que somos senão argentinos tristes?”.
Na mesma entrevista ela aproveita para lembrar que Bielsa só é possível na Celeste porque antes dele houve o professor Óscar Tabárez, outro que, intelectualmente, sempre foi capaz de ir muito além do futebol.
Como diz o cineasta Ugo Giorgetti, “respeitem os uruguaios”.
Acrescentemos: E as uruguaias.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo