No Brasil, as bets estão vencendo. Fácil, de goleada.
Na comparação entre as divisões de elite de grandes centros do futebol, empresas de apostas têm por aqui um domínio gritante no tocante ao patrocínio dos times.
Nada menos que 18 dos 20 participantes do Campeonato Brasileiro possuem como patrocinador principal (aquele que ocupa o maior espaço na camisa) uma bet.
As exceções são Bragantino, controlado por uma empresa de bebida energética, e Mirassol, cujo principal apoiador é uma companhia de bebidas. Mesmo assim, ambos contam com firmas de apostas no uniforme.
Na Alemanha, na Espanha, nos EUA, no Japão, na Holanda e na Itália, nenhuma equipe estampa bet no peito dos jogadores. Na Argentina, são quatro os times cujo patrocinador máster é uma empresa de apostas. Em Portugal, três. Na França e no México, um.
Em somente um país, entre 11 campeonatos pesquisados (sem contar o Brasileiro), a porcentagem de clubes com bet sendo o principal patrocínio ultrapassou 50%. Na Inglaterra, são 11 dos 20 times.
Na Espanha, na Itália e na Alemanha, nem se quisessem os clubes poderiam fechar acordo com alguma bet, pois leis impedem. A Inglaterra, a partir de 2026, vetará marca de empresas de apostas na parte frontal das camisas.
Qual a razão da proibição governamental? A mais óbvia é impedir que a exposição massiva às bets incentive o jogo excessivo, levando pessoas a vício em apostas e problemas financeiros.
Há outra questão, a da integridade esportiva. Casos recentes envolveram jogadores brasileiros conhecidos (Bruno Henrique, Lucas Paquetá) em possível esquema de manipulação de resultados para obter ganhos com apostas. Mesmo que não se comprove, a desconfiança existe, e a presença do patrocínio de bets alimenta essa dúvida.
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No Brasil, onde muita gente se afunda ao perder dinheiro com bets, não há restrições a empresas de apostas no ambiente dos esportes. É legalizado.
Ligo a TV, elas estão toda hora lá, em propagandas com personalidades que vão de Vinicius Junior (titular da seleção brasileira) a Ronaldo Fenômeno, Rivaldo e Galvão Bueno.
Celebridades que não precisam do dinheiro pago pelas empresas mas as difundem, tornam-se “embaixadores” delas, influenciando pessoas a apostarem e a correrem riscos de perdas financeiras. Incentivam a jogatina.
O discurso “jogue com responsabilidade e pela diversão”, das bets e de seus garotos-propaganda, é balela. Quando se vicia perde-se a responsabilidade. O jogo entorpece, vira uma droga.
Apostar é tóxico. Um dos funcionários do prédio em que moro adora futebol e é apostador contumaz. Tem esperança de faturar alto. Semana após semana, relata as frustrações, sem detalhar os prejuízos.
Falando em dependência, ela cresce na relação clubes-bets. A verba recebida pelas agremiações é alta, bem superior a acertos com companhias de outros ramos.
Nesta semana, o Flamengo trocou de bet. Receberá acima de R$ 250 milhões por ano, mais que o dobro do embolsado no patrocínio anterior. Em destaque na camisa do time de maior torcida do Brasil, essa bet atrairá para as apostas milhares de rubro-negros.
Uma aposta certa, a das empresas. Nesse negócio, não há como perderem, ou estariam falindo e não se propagando. Ao torcedor cabe o papel de sustentá-las. A que preço? O da própria miséria.
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Folha de S.Paulo