O Corinthians tem dois homens que dizem ser seu presidente. Em um agitado fim de semana no clube do Parque São Jorge, Augusto Melo, afastado da presidência, tentou retomar o poder e chegou a anunciar seu retorno. Osmar Stabile, que assumiu interinamente o cargo maior da agremiação, resistiu.
A movimentação se deu no sábado (31), na sede social alvinegra, na zona leste de São Paulo. Aliada de Augusto, a conselheira Maria Angela de Souza Ocampos apareceu com um documento dizendo ser a nova presidente do Conselho Deliberativo. Ela se baseava em um parecer do Conselho de Ética pelo afastamento do presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior.
Como o documento tem a data de 9 de abril, Maria Angela afirmou que todos os atos posteriores de Tuma estavam anulados, inclusive a condução da votação do impeachment de Melo, na última segunda-feira (26). Ela disse determinar que o aliado reassumisse “imediatamente o cargo do qual foi indevidamente afastado”.
Formou-se, então, uma confusão no Parque São Jorge. Augusto tentou retomar sua velha cadeira, o que Stabile não permitiu. Cerca de 50 torcedores invadiram a sala da presidência. A polícia foi chamada para controlar a situação e não fez nenhuma detenção. Stabile afirmou que nada muda, que ele continua normalmente da presidência.
Romeu Tuma chamou a movimentação de “tentativa de golpe de quinta categoria”. Ele não reconhece o parecer a respeito de seu afastamento e diz que sua destituição teria de ser votada pelo próprio Conselho Deliberativo. Tuma vinha atuando normalmente como presidente do Conselho, reconhecido assim também por Augusto e seus aliados.
Foi com Tuma presidindo a sessão que os conselheiros do Corinthians votaram pelo impeachment de Augusto, com 176 a favor do afastamento e 57 contra. Augusto, então, foi afastado e substituído interinamente pelo vice-presidente Osmar Stabile –que era aliado do presidente e com ele rompeu após a eleição.
Pelo estatuto da agremiação, uma assembleia geral de sócios precisa referendar o impeachment. Assim, uma votação foi marcada para o dia 9 de agosto. O rito determina que o presidente retorna imediatamente no caso de o impeachment ser refutado pelos associados. No caso de o afastamento ser confirmado, os conselheiros elegem um presidente para completar o mandato.
Segundo Stabile e Tuma, assim será. De acordo com eles, apesar da investida de Augusto no agitado fim de semana preto e branco, o processo de impeachment terá prosseguimento. Melo, que avisara no dia da votação do Conselho que iria “até o final” para recuperar sua cadeira, insiste em sua tentativa.
O pedido de impeachment é baseado em acusações de supostas irregularidades no fechamento do contrato de patrocínio do Corinthians com a casa de apostas VaideBet. Quatro dias antes da votação do Conselho, Melo foi indiciado sob suspeita de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
O objeto da investigação são justamente o acordo com a casa de apostas e o destino do dinheiro da comissão paga a um suposto intermediário. Essa investigação levou a polícia a oferecer uma denúncia ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Melo nega irregularidades e afirma que o indiciamento se deu de maneira “prematura, ilegal e desprovida de justa causa”.
Folha de S.Paulo