O futebol tem histórias de jogadores que subitamente despontam e encantam, subitamente são elevados à categoria de craque, subitamente se veem com a camisa de um clube de ponta e subitamente despencam, caindo no ostracismo.
Alguns custaram fortunas em transferências e não deram o retorno esperado ou desejado. Entre brasileiros, podem ser citados Alexandre Pato, Leandro Damião, Paulo Henrique Ganso e Denílson (o Denílson Show, hoje comentarista).
Candidatos a supercraques, apareceram empolgando para, não muito tempo depois, caírem de produção, por motivo técnico ou físico, com as atuações portentosas tornando-se exceções em meio a aparições medíocres, que os cercaram mais de dúvidas que de certezas.
Com o nome, sustentam-se em times da elite. Ganso, 35, na ativa no Fluminense, faz anos vive de lampejos. Ainda tem valia, mas “compõe o elenco”: é mais reserva que titular.
Há casos no exterior também. Como o do centroavante inglês grandalhão (1,94 m) Andy Carroll.
Em 2010, quando tinha 21 anos, ele fez uma primeira metade de temporada muito boa pelo Newcastle no Campeonato Inglês, com 11 gols em 19 partidas, o que lhe rendeu convocação para o English Team.
Na janela de transferências de janeiro, o Liverpool, que acabara de negociar o espanhol Fernando “Niño” Torres com o Chelsea, o contratou por 35 milhões de libras (mais de R$ 90 milhões à época, mais R$ 260 milhões no câmbio atual).
A transação foi recorde: jamais o Liverpool pagara tamanha quantia por um futebolista e jamais qualquer clube pagara tanto por um jogador britânico.
Foi também um dos piores custos-benefícios da história. Em uma combinação que incluiu incapacidade tática, lesões constantes e problemas extracampo (noitadas), Carroll mostrou-se um fiasco, durando só um ano e meio no time.
O mediano West Ham pagou 15 milhões de libras pelo atleta, evidenciando o tamanho do prejuízo do Liverpool.
O rendimento não melhorou no período no clube londrino (2012 a 2019). Carroll voltou ao Newcastle, mantendo-se não produtivo, e a partir de 2021 passou a perambular por times de divisões inferiores (West Brom e Reading, na Inglaterra, Amiens e Bordeaux, na França).
Seu nome já não era suficiente para se sustentar nas vitrines das “grandes lojas”, e as “pequenas lojas” o aceitaram porque não tiveram de pagar nada na transferência, e em contratos curtos.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
O auge do declínio de Carroll parecia o Bordeaux, pelo qual disputou a quarta divisão francesa na temporada 2024-2025.
Mas não. Carroll fechou há poucos dias com o Dagenham & Redbridge, da cidade de Dagenham (a cerca de meia hora, de carro, de Londres), time semiprofissional que está na sexta divisão da Inglaterra.
Hoje com 36 anos e visual “à la lenhador”, com uma barba espessa, disse ter recusado propostas de equipes de melhor nível e ganhando mais dinheiro para optar por um projeto pessoal.
Carroll queria regressar ao país em que nasceu para ficar mais próximo de filhos de um relacionamento anterior (“eles poderão me ver jogar”), ter minutos suficientes em campo (“não importa a divisão”) e, simultaneamente, ver de perto o Dagenham & Redbridge crescer (adquiriu participação minoritária no clube).
O experiente atacante se coloca em um papel de liderança esportiva e almeja que as categorias de base, com foco no sub-16, revelem talentos.
“É o quero na minha vida, será fantástico. Estou mais empolgado do que nunca”, disse o novo jogador-investidor, que possivelmente receberá em Dagenham menos que em Bordeaux (R$ 10 mil/mês). No Liverpool, embolsava R$ 865 mil por mês.
Carroll decidiu fazer o que pouquíssimos jogadores fazem no futebol: abdicar da fama e da grana para, com outras ambições, tentar “ser feliz”.
Serão três anos, a duração de seu contrato, para a tentativa converter-se em realização.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo