Aos 90, lembrava a escalação do Corinthians de 1960 – 19/05/2025 – Cotidiano


Aos 90 anos, Jayme Conde surpreendia ao listar a escalação da década de 1960 do Corinthians, seu time do coração. Sabia de cor os nomes dos filhos e netos dos amigos e fazia questão de telefonar quase todos os dias para as pessoas que amava. Tinha o dom de fazer amizade com gente muito mais jovem que ele, e sua grande alegria era estar perto dos parentes.

Nascido em 1930 em Presidente Prudente, interior de São Paulo, Jayme passou a infância na cidade de Quatá. Foi onde descobriu o amor pelas artes. Nas pistas de dança, aprendeu os passos de samba, bolero e tango, sem nunca ter feito uma aula. Participava de serenatas e cantava para desconhecidos na rua. Seu pai, Agostinho Conde, dirigia peças amadoras de teatro, e Jayme atuava como contrarregra nos espetáculos.

Quando cresceu, tornou-se inspetor em uma escola de Quatá. Certo dia, o treinador de basquete precisou se afastar e Jayme assumiu sua posição de forma voluntária. Abraçou a nova função e foi técnico da seleção feminina de basquete da cidade. Lembrava-se com orgulho da ocasião em que a equipe fora campeã dos Jogos Abertos da Alta Sorocabana, em 1958.

Conheceu a mulher, Adelaide dos Santos, nos arredores de Presidente Prudente. Casaram-se em 1963. A perda da companheira, nos anos 1980, lhe tirou boa parte da alegria de viver. “Meu pai nunca mais foi o mesmo depois da morte da minha mãe. Nunca recuperou o brilho que tinha na companhia dela”, diz Mabel Conde, uma de suas filhas.

A maior dedicação da vida de Jayme foi a educação. Mabel afirma que ele atuou por mais de 40 anos em inúmeras instituições de São Paulo, na maior parte do tempo como tesoureiro ou secretário administrativo. No turno da manhã, trabalhava em uma escola privada, e à tarde, em uma pública.

O contato com as novas gerações era a parte favorita do trabalho e rendeu a Jayme a habilidade de criar vínculos com pessoas mais jovens. “Meu pai tinha amigos 10, 20 anos mais novos que ele. Conseguia conversar com todo mundo”, diz a filha.

Juliana Alves, ex-estudante de uma das escolas em que Jayme trabalhou, lembra-se de sua postura serena no balcão da tesouraria. Quando estava na sexta série, ela lhe entregava cheques em branco, para que ele preenchesse com o valor necessário para pagar as apostilas do curso. “Seu Jayme era uma pessoa de confiança, muito amável e se relacionava bem com os alunos”, afirma.

Anos depois, Jayme e Juliana se reencontraram. Por coincidência, ela foi colega de trabalho de Mabel e logo se deu conta de que estava diante da filha do antigo funcionário de que tanto gostava. Quando se viram novamente, o tesoureiro aposentado não reconheceu a ex-aluna, mas nem por isso o encontro deixou de ser significativo para ambos.

Jayme Conde morreu em São Paulo no dia 15 de fevereiro de 2025, aos 94 anos, devido a uma pancreatite. Deixa quatro filhos e cinco netos.

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Folha de S.Paulo