Ancelotti, o técnico sem filosofia – 27/05/2025 – Tostão


Existe um consenso de que o italiano Ancelotti, campeão em vários países, é um grandíssimo treinador, embora alguns achem que o técnico da seleção deveria ser um brasileiro. Outros pensam que o fato de ele nunca ter sido treinador de seleção possa prejudicá-lo, ainda mais em outro país.

Ancelotti já mostrou que se adapta muito bem a diferentes circunstâncias e tem bom relacionamento com jogadores, dirigentes, torcedores e imprensa esportiva.

Por melhor que ele seja, não há nenhuma certeza de que a seleção dará um salto de qualidade. O desempenho e os resultados dependem de muitos fatores, como a qualidade dos jogadores, dos adversários e de inúmeros detalhes previsíveis e imprevisíveis.

Os problemas da seleção não são apenas coletivos. Existe uma carência nas laterais, no meio-campo e na posição de centroavante. Quando digo isso, não comparo com os craques dessas posições presentes na história do futebol brasileiro, e sim com jogadores atuais dessas posições de outras fortes seleções.

Como todas apresentam também deficiências, o Brasil é sempre candidato a ganhar um título mundial. Se melhorar com Ancelotti, aumentam as chances.

Na convocação não houve grandes surpresas. Há muitos outros jogadores mais ou menos do mesmo nível de alguns que foram chamados. Casemiro deve ser o titular. Ancelotti o conhece bem e conta com sua liderança e experiência, além de ele ser bom nas jogadas aéreas, defensivas e ofensivas, uma prática cada vez mais decisiva no futebol.

Repito: como o futebol exige hoje muito mais mobilidade dos jogadores de meio-campo, que marcam, constroem e avançam, prefiro ver Casemiro mais centralizado na proteção dos defensores, formando um trio com um meio-campista de cada lado que atuam de uma intermediária à outra. Isso facilita o avanço dos laterais.

Outra opção de Ancelotti é atuar com dois volantes e dois pontas que voltam para marcar, formando um quarteto na proteção dos quatro defensores, além de um meia centralizado ofensivo e um centroavante.

Bruno Guimarães, o melhor dos meio-campistas brasileiros, atua com muito mais qualidade no Newcastle do que na seleção porque o time inglês joga com um volante pelo centro e um meio-campista de cada lado (Bruno Guimarães e Joelinton). Bruno marca, dá ótimos passes e avança com muita eficiência. Na seleção ele tem sido apenas um volante marcador.

O melhor da entrevista coletiva de Ancelotti ao ser perguntado sobre qual é a sua filosofia de jogo e se prefere o estilo mais propositivo ou mais reativo, respondeu, com sabedoria e simplicidade, que não tem filosofia, que seu time joga de acordo com o momento e as características e qualidades de seus jogadores e adversários e que a melhor estratégia é a mais bem executada. Ancelotti conhece profundamente o óbvio.

A festejada contratação de Ancelotti é também contraditória. Ao mesmo tempo em que existe um desejo nacional, uma utopia saudosista de que o Brasil volte às suas origens e jogue um futebol encantador e que dê espetáculo, Ancelotti representa o futebol moderno, prático, que associa o talento à estratégia e à disciplina.

Assim são o futebol e a vida. Somos todos contraditórios, uns mais que outros.

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Folha de S.Paulo