Ancelotti, a aposta de Ednaldo Rodrigues na seleção – 12/05/2025 – Esporte


O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, conseguiu na segunda-feira (12) o que buscava havia mais de dois anos. Anunciou Carlo Ancelotti, 65, como técnico da seleção brasileira, com contrato até a Copa do Mundo de 2026.

O italiano tem pouco mais de um ano para dar um rumo ao time, à deriva desde o último Mundial. Entre interinos e quase interinos, três treinadores comandaram a equipe nos últimos 29 meses, período no qual Ednaldo brigou para proteger o próprio cargo. E esperou Ancelotti.

“Trazer Carlo Ancelotti para comandar o Brasil é mais do que um movimento estratégico. É uma declaração ao mundo de que estamos determinados a recuperar o lugar mais alto do pódio. Ele é o maior técnico da história e, agora, está à frente da maior seleção do planeta”, declarou o dirigente.

Ednaldo se referiu ao italiano como “um estrategista que transforma equipes em lendas”. Parece mesmo necessário um profissional de grande talento para estabelecer alguma coesão em uma seleção que acumula problemas, conduzida por uma confederação idem.

O próprio processo de contratação de Ancelotti é ilustrativo. Após a Copa de 2022, Rodrigues deixou o time nacional sob comando provisório de Ramon Menezes e depois Fernando Diniz, assegurando ter um acerto com Carlo, que assumiria na metade de 2024.

Mas o presidente foi afastado da CBF pela Justiça, em dezembro de 2023, por questionamentos à validade de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que permitira sua eleição, em 2022. Em 2021, ele havia assumido interinamente o posto do presidente Rogério Caboclo.

Rodrigues acabou reconduzido ao cargo, em janeiro de 2024, por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. Porém, àquela altura, diante da indefinição na confederação, Ancelotti renovou contrato com o Real Madrid até a metade de 2026.

A solução da CBF foi apostar em Dorival Júnior, que vinha de bons resultados no Flamengo e no São Paulo. Esses resultados não se repetiram na seleção, que tem um aproveitamento de apenas 50% nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

Dorival se despediu em uma embaraçosa derrota por 4 a 1 para a Argentina, e Ednaldo enxergou nova janela de oportunidade com Ancelotti, em crise no Real Madrid. O clube estava disposto a dar adeus ao velho comandante, de olho no jovem Xabi Alonso, e topou negociar uma rescisão.

“Quero aproveitar este momento para registrar meus agradecimentos ao presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, e a José Ángel [Sánchez Periáñez, diretor-geral do clube espanhol], por toda a compreensão, pelo diálogo, pelo apoio, que tornaram possível esta transação”, disse Rodrigues.

Pérez não tinha, até a conclusão deste texto, respondido publicamente. O anúncio foi feito apenas pela CBF, sem manifestações oficiais de Real Madrid e de Ancelotti. A expectativa é que o treinador conceda uma entrevista nesta terça (13) e dirija o time branco nas três rodadas finais do Campeonato Espanhol.

Havia pressa por parte de Ednaldo em fazer a divulgação da contratação. Ele queria deixar em segundo plano a convocação para comparecer na tarde de segunda a uma audiência no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), em processo que pode novamente afastá-lo da presidência.

Eleito em março para novo mandato, Rodrigues está no poder com uma liminar que será avaliada pelo plenário do STF no próximo dia 28. Mais um motivo para pressa, não bastassem os compromissos da própria seleção brasileira nas Eliminatórias da América do Sul.

A equipe está na quarta posição, com 21 pontos –a mesma pontuação da sexta colocada, Colômbia. A quatro rodadas do fim, é de seis pontos a vantagem sobre a sétima, a Venezuela. Seis sul-americanos vão direto à inchada Copa de 2026, com 48 seleções. A sétima joga uma repescagem.

Classificar o Brasil ao Mundial não é o motivo pelo qual Ancelotti receberá R$ 5 milhões por mês, com moradia no Rio de Janeiro bancada pela CBF. O objetivo é fazer uma grande Copa, com bônus previsto de 5 milhões de euros (R$ 31,5 milhões) em caso de título.

Currículo não falta ao quarto estrangeiro a dirigir a seleção, o primeiro de maneira permanente. Para ficar nos itens que mais chamam a atenção, só ele tem cinco títulos da Champions League como treinador, e só ele foi campeão em cada uma das principais cinco ligas nacionais europeias.

“O Brasil, com sua tradição única, e Ancelotti, com sua visão revolucionária, formarão uma parceria que vai entrar para a história”, disse Ednaldo, na esperança de que o ciclo caótico terá um final feliz —como em 1958, 1970 e 2002, quando os técnicos campeões também assumiram a equipe em cima da hora.



Folha de S.Paulo