Quem prepara a mochila para enfrentar uma longa trilha tem entre suas maiores preocupações contabilizar o peso dos suprimentos que vai precisar carregar às costas para se alimentar corretamente durante a jornada. Nem sempre é possível confiar em locais que, ao longo do trajeto, ofereçam alimentos razoavelmente equilibrados que fujam do miojo com salsicha em lata e biscoitos, que não constituem exatamente uma dieta digna de um atleta.
Para atender a essa demanda, é cada vez mais frequente a oferta de alimentos liofilizados, que prometem refeições equilibradas e nutritivas que só precisam de uma porção de água para virarem pratos que, depois de uma longa pernada, têm sabor de alta gastronomia. Bom, quase isso, vai.
A liofilização de alimentos, diferentemente da desidratação tradicional, é um processo que prevê um congelamento inicial após o qual a preparação é submetida a vácuo, sem passar pelo estado líquido, e posterior secagem. Os técnicos garantem que é o mais adequado para preservar características originais do produto, como sabor, aroma, nutrientes e textura, além de deixá-lo mais leve e com maior durabilidade —o que conta muitos pontos quando vai ser carregado por um longo período.
Por envolver um processo sofisticado de produção que encarece o produto final, não são muitas as empresas que investem nesse segmento. A pioneira no mercado nacional, a LioFoods, desde a pandemia saiu desse mercado por problemas de logística, e hoje as mais conhecidas e facilmente encontráveis nas lojas especializadas em esportes de aventura são a LyoVibes e a Lio Nutri.
“Quando criamos a empresa com a ideia de trabalhar com liofilização, a gente nem sabia direito qual produto ia fazer”, conta Samuel Ruiz Mosmann, sócio e CEO da LyoVibes. “Compramos o equipamento em setembro de 2019 e entramos no mercado em agosto de 2020, com uma linha de temperos e ervas aromáticas”, acrescenta. Passando para a linha de sucos e de cremes, a produção chegou às refeições, começando por risotos e sopas que chegaram ao mundo dos montanhistas, “um mercado ainda muito desconhecido para nós”.
A mulher de Samuel, Gabriela, diretora de marketing e finanças da empresa, conta que resolveram fazer uma pesquisa para identificar “o que era a atividade física do montanhismo, o que consumiam, como se alimentavam e do que sentiam falta no mercado”. Nasceu então a linha Adventure, com refeições que ela define como “mais robustas, e nutricionalmente preparadas para esse público”, hoje principal segmento da LyoVibes.
Com uma produção de aproximadamente 300 quilos de alimentos liofilizados mensais, a empresa ainda precisa combater alguns preconceitos. “A gente até parou um pouco de usar o termo liofilizado, porque muita gente achava que era ultraprocessado, quando na verdade é 100% natural”, conta Gabriela. Os preços, que oscilam de R$ 28 para a porção de sopas variadas a R$ 47 para refeições mais encorpadas como estrogonofes e macarrão com carnes, também assustavam alguns consumidores, mas são compensados pelo baixo peso de cada porção —de 55 gramas o sachê de sopa a 115 gramas a porção de refeições mais encorpadas.
A linha Lio Nutri, da empresa Sublimar, também oferece produtos direcionados a trilheiros,.montanhistas e aventureiros de várias modalidades, a Mountain Food. Carina Pina, nutricionista da companhia, destaca já terem sido testados em grandes empreitadas como o Arábia Saudita Rali Dakar, escaladas ao Everest e trilhas na gelada Patagônia —jornadas que sabidamente demandam cuidado especial com uma alimentação reforçada.
“Estamos no mercado desde março de 2011 e oferecemos opções de refeições, snacks e refeições prontas, inclusive sem glúten ou lactose e com certificação vegana brasileira”, conta Carina.
As opções de snacks, sopas, macarrões e risotos, segundo o site, variam de R$ 18,90 a R$ 56,90. “É um nicho restrito, mesmo, devido ao preço elevado de cada unidade, mas são opções de alimentos leves, nutritivos e práticos, de rápido preparo e que não pesam na mochila”, avalia.
O preparo de cada refeição liofilizada só exige a adição de água (fervente, de preferência, para demorar ainda menos) e, em poucos minutos, o alimento pode ser consumido diretamente da embalagem, dispensando mais utensílios. “Também é possível hidratar com água em temperatura ambiente, embora demore um pouco mais, mas como os alimentos já estão prontos para consumo, não altera o produto final”, diz Carina. Pronto, nem fogareiro, mais, é preciso carregar na bagagem se o cidadão não se importar em devorar seu jantar gelado como uma noite na montanha.
Com esse cardápio liofilizado, a colunista interrompe temporariamente as atualizações deste espaço para desfrutar de férias e, com sorte, trazer novas ideias de perrengues variados para o leitor. Nos vemos em setembro!
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Folha de S.Paulo