Desde novembro de 2020, quando Abel Ferreira assumiu o comando do Palmeiras, o Botafogo já teve nove técnicos efetivos diferentes.
A instabilidade para treinadores no time carioca não é uma exceção no futebol brasileiro. A longevidade do português na equipe paulista, por outro lado, é rara até mesmo fora do Brasil. O próprio Abel costuma citar que, na Europa, treinadores também enfrentam demissões precoces, e atribui a sua longa permanência no mesmo cargo ao apoio da diretoria —suas conquistas em campo, evidentemente, fazem diferença.
A partir das oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes —fase em que o Palmeiras vai duelar com o carioca, neste sábado (28), às 13h (de Brasília), na Filadélfia —, o comandante da equipe alviverde vai se tornar o segundo mais longevo entre os técnicos presentes no torneio, atrás apenas de Pep Guardiola, no Manchester City há nove anos.
Os dois ganharam posições na lista com as eliminações do Atlético Madrid, de Diego Simeone, e do Seattle Sounders, de Brian Schmetzer, na primeira fase —o argentino liderava o ranking, com seu trabalho à frente do time espanhol desde dezembro de 2011. O americano era o terceiro, empregado no mesmo clube desde julho de 2016.
Simeone e Schmetzer, porém, não traduziram em títulos a estabilidade da qual desfrutam como fizeram Abel e Guardiola. O líder da formação verde tornou-se o mais vitorioso técnico da história do clube, com dez conquistas, empatado com Oswaldo Brandão. A lista do português inclui duas Copas Libertadores e dois troféus do Campeonato Brasileiro.
O português chegou ao clube com 41 anos e trazia experiência como técnico do Braga, de Portugal, e do PAOK, da Grécia, onde conquistou a Copa Grega de 2019, seu primeiro título como treinador principal.
Agora, é bem possível que ele consiga se isolar como maior vencedor da história do clube da Barra Funda. Tempo para isso ele terá. Seu atual contrato vai até dezembro, mas ele já mantém conversas com a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, para estender seu vínculo até 2027, quando termina o mandato da dirigente.
Mais do que a ambição de buscar novos troféus, um fator importante para sua permanência no clube é o fato de sua família morar atualmente no Brasil.
“Eu não vou trocar o Palmeiras agora para o outro lado, sem a família estar comigo. Custou-me tanto de ter a família comigo”, disse Abel em recente entrevista à TV Globo. “Em determinado momento da minha vida, enquanto treinador, fui muito egoísta. Porque eu só pensei em mim e não pensava neles”, emendou.
O treinador do Palmeiras também quis mostrar seu lado mais vulnerável, em contraste com sua imagem pública de líder explosivo, conhecido por gesticular à beira do gramado e discutir com árbitros e rivais.
Caso estenda seu contrato por mais dois anos, ele vai completar seis temporadas no time da Barra Funda. É um período significativo, porém menor do que o tempo de casa desfrutado por Guardiola, com nove anos em Manchester.
É também sob o comando de seu atual treinador que o City vive o período mais glorioso de sua história. Com o técnico espanhol, o time inglês acumula 18 troféus, com destaques para as inéditas conquistas da Champions League (2022-23) e do Mundial (2023), em seu antigo formato, rebatizado recentemente como Copa Intercontinental.
Abel teve duas chances de dar ao Palmeiras uma taça da competição de nível mundial, mas falhou nas edições realizadas em 2020 e 2021, seus maiores fracassos na vitoriosa relação com o clube. Ele mesmo reconhece essas derrotas como “feridas abertas” que usa como combustível para seguir em busca do título inédito.
Sua nova tentativa tem pela frente um adversário com o qual o Palmeiras tem rivalizado nos últimos dois anos, mesmo sem dar aos seus treinadores a estabilidade que se vê no clube paulista.
No banco de reservas do Botafogo estará o português Renato Paiva, o nono profissional diferente a comandar o clube como efetivo desde novembro de 2020, quando Abel chegou ao país.
Paiva desembarcou em General Severiano em fevereiro deste ano. Sua estreia foi no começo de março, justamente contra o Palmeiras, na abertura do Campeonato Brasileiro. O empate sem gols não refletiu os grandes jogos que os dois clubes fizeram em temporadas recentes.
Os encontros decisivos mais recentes não trazem boas lembranças para Abel. Em 2024, o Botafogo levou a melhor no duelo pela 36ª rodada do Brasileiro, no Allianz Parque, e com sua vitória por 3 a 1 encaminhou o título que viria a conquistar, em revanche pela edição de 2023, quando deixou a taça escapar para o rival.
A campanha vencida pelos time palmeirense ficou especialmente marcada pelo encontro com o Botafogo no segundo turno, quando a equipe paulista venceu de virada, por 4 a 3, depois de ver o adversário abrir 3 a 0 no placar.
Também em 2024, a equipe carioca eliminou o time paulista nas oitavas de final da Libertadores, com vitória por 2 a 1 no Rio e empate por 2 a 2 fora de casa, em campanha que terminou com a conquista inédita do torneio.
O mais novo embate do Palmeiras com o Botafogo, pela Copa do Mundo, é uma nova chance para Abel se vingar das derrotas recentes.
Folha de S.Paulo