A melhor meia maratona que você talvez nunca corra – 11/06/2025 – No Corre


Em troca de conteúdo para suas produções de entretenimento, a Amazon Prime e a TV Record decidiram há dois anos divulgar a modesta academia Cuba Boxe, do cubano Thomas Cabrera, o “Papi”, no Rio Pequeno, bairro periférico da ZO de São Paulo.

A Amazon, que tinha uma série com um personagem boxeador, doou alguns sacos de treino, pintou a fachada da Cuba Boxe, produziu algumas faixas decorativas e gravou cenas dentro da academia de Papi, cuja história depois foi mostrada no programa de auditório de Rodrigo Faro, então apresentador da Record.

Parecia um bom momento para o cubano, que sempre precisou contar com a ajuda de amigos e de um ex-vereador atuante na região, Beto do Social, para manter a academia e, principalmente, as aulas de boxe oferecidas gratuitamente a menores carentes da região, vários deles vindos da favela do Sapé.

Maverick, Papi também conseguiu organizar em 2023 e 2024 duas provas de meia maratona no Butantã, vontade que acalentava desde a pandemia. Foi um feito notável, notabilíssimo, na verdade, para alguém que jamais pertenceu ao oligopólio do setor, não conhece mecanismos de renúncia fiscal nem faz lobby em Brasília pela manutenção de programas de incentivo dos tempos da Covid.

Mais notável ainda para um estrangeiro, e talvez ainda mais para um cubano, dados os empecilhos caricatos e lamentáveis criados e associados a esse país.

A história de Papi foi contada por este colunista no portal Jornalistas que Correm e por esta Folha, aqui.

Pois bem, a Lusitana rodou, Faro e Amazon foram cuidar da vida, a conta de luz por conta da gravação na academia ficou uma pica, o senhorio, achando que Papi estava por cima da carne-seca, aumentou o aluguel.

Resumo da ópera: Papi só não foi despejado pois o ex-vereador ajudou-o a liquidar a dívida com o avarento.

Papi agora está num espaço menor, mas não muito, a duas quadras de distância da primeira Cuba Boxe. O número de meninos atendidos aumentou, e ele foi sondado por autoridades judiciais para ajudá-los em programa de reinserção de jovens infratores, algo que Papi se alegra em poder fazer.

E, claro, Papi quer realizar pelo terceiro ano consecutivo sua Meia Maratona do Butantã –que lá atrás já se chamou “Cuba Run”, nome que, instado a isso, achou por bem trocar.

A data em que imaginava realizar a prova este ano, em setembro, coincide com a do meio Ironman de São Paulo, o que inviabiliza completamente seus planos, já que ambas ocupam a mesma avenida dentro da USP. Tudo isso ele descobriu numa conversa sábado passado com este repórter. A nova data desejada é a do domingo da Virada Esportiva, possivelmente em novembro.

Num tempo em que inscrições de provas batem nos R$ 500, ou melhor, R$ 499, como é o caso do redivivo Desafio da Ponte [Rio-Niterói], as menos de cem pratas que Papi costuma cobrar para sua “run” chegam até a gerar desconfiança.

Participei das duas edições da Meia do Butantã, e o principal sempre houve: ambulância, água, algumas bananas, atrasos toleráveis, cronometragem. A arte da medalha da edição 2025 mostra o contorno da América do Sul e da América Central, além de parte do México. Cuba, claro, não ficou de fora. A ideia é celebrar uma certa integração latino-americana.

No ano passado, Papi queria levar os vencedores de seu evento para disputar a maratona de Havana, mas as autoridades cubanas só ofereceram networking, e os patrocinadores correram.

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Folha de S.Paulo