A história não pode ser contada antes do tempo – 15/10/2024 – Tostão


Escrevi esta coluna antes dos jogos desta terça (15).

Dorival Júnior, ao responder às críticas à seleção brasileira, mostrou fotos de grandes jogadores, como Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e outros, sendo criticados por um jornal antes da Copa de 1982. O erro foi da avaliação de quem fez as críticas. Embora o Brasil não tenha vencido, esses jogadores e o time encantaram o mundo.

Há vários outros exemplos parecidos na história do futebol brasileiro e mundial. Após a Copa de 1966, quando o Brasil foi eliminado na primeira fase, quase todos diziam que o futebol arte, tão endeusado nas Copas de 1958 e 1962, vencidas pela seleção brasileira, tinha acabado e sido substituído pelo futebol objetivo, rápido e disciplinado.

Nelson Rodrigues chamou os que idolatravam a nova época de idiotas da objetividade. Em 1970, a seleção brasileira voltou a encantar o mundo.

O que faz um time passar da esperança, da irregularidade e da inconsistência para o sucesso? Um título de campeão do mundo muda tudo por causa do prestigio da competição. Porém, em um campeonato tão curto, com jogos classificatórios, nem sempre é fácil separar o que foi inesperado, ocasional, do futebol excepcional e eficiente.

Algumas vezes, uma equipe está pronta para fascinar o mundo e as pessoas não percebem o óbvio, como ocorreu na Copa de 1970. Poucos dias antes de começar aquele Mundial, a equipe (jogadores e comissão técnica) tinha a impressão —e conversávamos sobre isso— de que o Brasil possuía grandes chances de fazer uma grandíssima Copa, por causa dos craques e pelos ótimos jogos-treinos.

Outras vezes, detalhes inesperados, não programados, como uma bola que entra no gol por acaso, são gatilhos que mudam o jogo, o campeonato e a história do futebol.

Independentemente das atuações e dos resultados das partidas desta terça, penso que o Brasil não precisa ter um Romário de centroavante, um Gerson (o da Copa de 1970) no meio campo, um Carlos Alberto na lateral direita, um Júnior na esquerda para ter boas chances de ganhar um Mundial, ainda mais porque todas as outras principais seleções possuem também limitações e deficiências.

Faltam jogadores de mais talento em algumas posições. Mesmo assim, o Brasil tem potencial para evoluir no individual e no conjunto. Para isso é necessária a importante ajuda de Dorival Júnior, como aconteceu em outras Copas com Telê Santana, Parreira, Zagallo, Felipão, Feola, Aimoré Moreira.

No futebol e na vida, a história não pode ser contada antes do tempo.

Jogatina

Os males do vício nas apostas esportivas são ainda mais graves para a saúde mental e financeira do que se achava, de acordo com as informações. Transcrevo o último parágrafo do excepcional texto escrito no domingo, nesta Folha, pelo colunista Muniz Sodré, professor emérito da UFRJ.

“Aposta-se em tudo: na sobrevivência pessoal, no templo e agora nas bets, o novo cassino online, que o governo se empenha em legalizar, interessado apenas em arrecadar. A Fazenda criou até mesmo uma Secretaria-Geral de Apostas e Prêmios. Bet é nada menos que o crack virtual, obscenamente oferecido a crianças, que se tornam crupiês-mirins. Fala-se em ludopatia epidêmica, mas se esconde a fonte verdadeira da compulsão. A hipocrisia é oficial.”

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Folha de S.Paulo