A escolha de Carlo Ancelotti – 14/05/2025 – Juca Kfouri


Que Carlo Ancelotti é dos treinadores mais respeitáveis e competentes do Planeta Bola nem precisa ser dito.

Cinco vezes campeão da Liga dos Campeões da Europa, campeão nacional na Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália, os cinco campeonatos mais importantes do Velho Continente, seu currículo é mais que um currículo, é digno do Oscar do futebol pelo conjunto da obra em 30 anos de carreira, aos 65, sempre atualizado.

Problemas com a língua portuguesa não enfrentará, não só porque fala espanhol com extrema clareza como porque tratará com a maioria de nossos estrangeiros espalhados pelo mundo.

Caso típico do homem certo no lugar…?

Como seria bom responder, em maiúsculas, CERTO!

Pena que não é.

Mesmo que levemos em conta a experiência de quem conhece também as mazelas da cartolagem internacional, e mesmo sabendo que se um treinador for tão exigente e só trabalhar para patrões confiáveis acabará eternamente desempregado, Ancelotti encontrará no Brasil ambiente poluído além do normal.

Sempre é bom lembrar a frase de Telê Santana: “O futebol não é para gente séria”, por mais que ele, seríssimo, tenha passado a vida inteira no meio, como jogador e técnico.

“É o que sei fazer”, respondia quando alguém apontava a aparente contradição.

Difícil imaginar que o italiano tenha saltado de paraquedas no escuro ao topar um acordo, depois de dois anos de namoro, sem saber onde pousar.

Se há estrangeiro que conhece brasileiros para se informar sobre os bastidores da CBF, certamente Ancelotti é um deles.

Jorge Jesus conhece mais pela temporada que passou na Gávea, mas acabou preterido —e o podcast “Neymar“, produzido pelo UOL Prime e já no quarto episódio, revela porque é verossímil o veto de papai Neymar ao português que rejeitou o filhote na Arábia Saudita.

O salário milionário oferecido pela CBF é secundário diante da fortuna já acumulada pelo técnico e da proposta feita pelos árabes.

Há coisas que o dinheiro não compra e o hexacampeonato da Copa do Mundo é uma delas.

Para quem dirigiu o Real Madrid, maior e mais vitorioso clube de futebol da Terra, culminar a trajetória com o título pela seleção brasileira em 2026, nos Estados Unidos, é ambição compreensível.

E falta apenas um aninho…

Até a Copa serão, no máximo, dez jogos, quatro pelas Eliminatórias e mais seis amistosos.

Convenhamos: é a chamada sopa do mel, mesmo que a mistura dos dois ingredientes não pareça apetitosa.

Melhor dizer, presente do céu, embora possa significar futuro infernal.

Material para fazer um time Ancelotti terá, apesar da carência nas laterais e, essencial, no meio de campo, do pensador, do articulador, quem sabe papel reservado para Alan Patrick, do Internacional, se mantiver o desempenho.

Ex-volante, dos melhores, Ancelotti conhece a região que distingue as grandes equipes.

Já a oferta de atacantes é farta, tem para todos os gostos, três deles de sua intimidade, como Vini, Rodrygo e Endrick, além de Raphinha —aquele que talvez ele preferisse não conhecer tão bem. E Estêvão.

Se Ednaldo Rodrigues cair, alvo de forte e insidiosa campanha de pessoas da mesma laia, ficará tudo na mesma, porque entrará gente igual.

Não só o carro de Ancelotti terá de ser blindado.

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Folha de S.Paulo