Ninguém minimamente informado sobre as coisas do futebol ficou surpreso com a escolha da Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo de 2036.
O presidente da Fifa, o suíço-italiano Gianni Infantino, aprendeu com o escândalo que jogou na lata do lixo da história tantos cartolas, a começar por seu antecessor Joseph Blatter, além de João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, para citar apenas o quarteto brasileiro e poupar a rara leitora e o raro leitor de uma dezena de nomes de ex-presidentes da Conmebol e das federações nacionais do continente americano, além de executivos de grandes redes de televisão e executivos de empresas de marketing esportivo, alguns já mortos.
A escolha do Qatar, ainda antes do Fifagate, permitiu a Infantino uma vida nababesca, de verdadeiro sheik, hóspede com a família toda em Doha, mais de um ano antes de a Copa começar.
Voltar ao Oriente Médio passou a ser o sonho de consumo do cartola, além do mais casado com libanesa.
Mas, como, se a América do Norte reivindicava fazer a Copa, se a América do Sul sempre pressiona e a África queria repetir a experiência de 2010?
Eram muito candidatos na fila antes que os donos do petróleo pudessem voltar ao protagonismo.
Então, fez-se a luz na brilhante cabeça de Infantino e ele mostrou ser formidável limpa-trilhos.
Uma Copa, a próxima, em 2026, no Canadá, México e Estados Unidos e um coelho está morto com uma só cajadada em três países.
Sobravam a América do Sul, a Europa e a África.
Os árabes têm pressa, muito dinheiro e nenhuma democracia.
Pois que se faça a mais estonteante e absurda das Copas em três continentes ao mesmo tempo para contemplar os candidatos: em 2030, três jogos para abrir o torneio, no Uruguai, para comemorar o primeiro século da taça, na Argentina, país dos atuais tricampeões mundiais e no Paraguai, porque…, por que mesmo? Ah, sim, porque o presidente da Conmebol é paraguaio e a sede da entidade fica lá, pertinho de Assunção.
Aberta a Copa, a continuação se dará em Portugal, na Espanha e no Marrocos.
Pronto! Está aberto o caminho para Arábia Saudita, o país do trabalho escravo, onde homossexualismo é crime, as mulheres só foram autorizadas a frequentar estádios faz quatro anos e o príncipe herdeiro e primeiro-ministro Mohammad bin Salman é um doce de pessoa, tanto que mandou matar e esquartejar o jornalista Jamal Khashoggi, que lhe fazia oposição, dentro da embaixada saudita em Ancara, na Turquia.
Doce e generoso, como Jair Bolsonaro é testemunha, tantas joias ganhou do monarca.
Imagine do que ele não será capaz para deixar Infantino e os seus felizes sem que precisem tomar um tostão de comissões nebulosas como era a prática antiga dos que mamavam na poderosa transnacional do futebol.
Os sauditas dizem que será a oportunidade de se mostrar ao mundo como realmente são. Não duvide.
Durante um mês, mostrarão e farão Copa tão ou mais impressionante que a do Qatar.
Os cataris diziam o mesmo, entregaram o serviço na perfeição, embora de artificialidade constrangedora e brega, e voltaram ao obscurantismo assim que a Copa acabou.
Bem diferente do que aconteceu na Espanha pós-franquista, em 1982, e a Alemanha unificada, em 2006.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.