Se alguém disser que a vitória, pela contagem mínima, da seleção brasileira sobre a paraguaia significou espetáculo digno do passado do time estará mentindo.
Por mais que a sólida equipe guarani viesse de nove jogos invicta, com cinco vitórias, contra Argentina e Brasil, inclusive, e que raramente tenha sido fácil vencê-la, a exibição do time de Carlo Ancelotti, recebido como salvador da pátria, esteve longe de ser empolgante.
Assim mesmo, empolgou.
O que dá a medida de o quanto o time da CBF andou com cotação ao rés do chão junto ao torcedor e aos críticos.
Por mais que parecesse equivocado sacar Gerson do meio de campo, e escalar Martinelli na faixa de campo ocupada por Vinicius Junior, viu-se a melhor atuação de Bruno Guimarães com a camisa amarela e, sobretudo, um ataque sem posições fixas, com movimentação constante, capaz de criar pelo menos cinco chances claras de gol, a ponto de tornar também mentiroso o placar de apenas 1 a 0.
Vini, ainda longe de ser o craque do Real Madrid, deixou seu gol graças à persistência de Raphinha e, principalmente, de Matheus Cunha, autor do passe final.
A defesa correu poucos riscos, apesar de ter de conviver com a fragilidade dos dois laterais, problema maior da seleção além da ausência do grande armador, algo com que conviveremos até e durante a Copa do Mundo, a menos que, na terra onde se plantando tudo dá, apareça um fenômeno da noite para o dia.
O mais importante na gelada noite feérica em Itaquera foi constatar o comportamento da torcida e do time, a confiança transmitida das arquibancadas para o gramado, milagre que só pode ser atribuído ao festejado Carlo Ancelotti, Carletto para os íntimos, capaz de contagiar o sempre crítico torcedor paulistano de modo até surpreendente.
Importante lembrar que a estreia do vitorioso treinador italiano diante do torcedor brasileiro não foi melhor que a de Dorival Júnior, em Wembley, com vitória brasileira sobre a Inglaterra também pela contagem mínima, seguida por belo empate por 3 a 3, com a Espanha, em Santiago Bernabéu. Dali por diante…
Classificação para a Copa do Mundo garantida, como obrigatório, Carletto terá dez jogos para chegar à América do Norte com time capaz de competir e agradar.
A campeoníssima seleção brasileira, pentacampeã em seu melhores dias, foi de Didi, de Mané Garrincha, de Pelé, Romário, dos Ronaldos.
Nunca foi de Vicente Feola, de Aymoré Moreira, de Zagallo, Parreira ou Felipão, embora deva bastante a cada um deles.
Paradoxalmente, mesmo derrotada, teve época de ser a seleção de Telê Santana —o que Ancelotti dá sinais de poder repetir ao retribuir com simpatia e sedução ao torcedor que lhe deu a mão.
Para que venhamos a ter uma Era Ancelotti, para que o ancelottismo ou carlettismo tome conta do país, será necessário ter paciência e fé.
Paciência porque ele acaba de chegar e fé porque em apenas um ano é difícil montar uma seleção capaz de vencer Argentina, Espanha, França, Portugal, para citar só quatro que já estão prontas e são melhores que a brasileira.
Exigir o hexacampeonato de Ancelotti não faz o menor sentido e, caso ele consiga, será canonizado como São Carletto.
Devagar com o andor, porém, porque há santos de barro.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo