‘Triturando’: a mania de Silvio Santos por gerúndios e programas ruins


“Como você prefere morrer? Esfaqueado, com tiro de revólver ou envenenado?”, pergunta Chris Flores (sim, a ponderada apresentadora que encabeçava o matinal Hoje Em Dia na Record). Ela solta a ignóbil questão em tom reflexivo durante o programa vespertino Triturando, do SBT. Depois comenta, sem corar, que beleza vem em primeiro lugar até mesmo na hora da morte: “Morrer feia, babando? Não, tenho que morrer bonita! Tem que ser aqui no peito, amor, e de 9 milímetros”. Os companheiros de bancada – Gabriel Cartolano, a ex-BBB Ana Paula Renault e a ex-cantora Flor Fernandez – riem do comentário. Em meio a piadas assim, de extremo mau-gosto e sem a mínima graça, esse time de “feras” chegou à conclusão de que morrer envenenado é mais “romântico”, “menos dolorido” e “mais rápido”. Para completar a bizarrice, Chris Flores então vai até uma máquina de triturar papel e, literalmente, tritura imagens de uma faca e de um revólver.

Se desde os tempos de ginásio aprendemos que se deve evitar o uso de gerúndios em excesso, Silvio Santos aposta na direção oposta. O apresentador e dono do SBT desenvolveu uma inexplicável fixação por inventar programas que terminam em “ando”, e que têm outro traço em comum: todos são ruins de doer. Primeiro, veio o Fofocando, lançado de improviso em meados de 2016. A iniciativa foi pífia no Ibope, mas o SBT a “relançou” no ano seguinte com um nome espichado, Fofocalizando. Agora, eis que surge o Triturando.

A primeira encarnação do vespertino, em 2016, foi criada e idealizada pelo próprio dono do Baú, que gostaria de ter um produto que competisse com o então líder de audiência na faixa horária da tarde, o quadro A Hora da Venenosa, apresentado por Fabíola Reipert na Record. De quatro anos para cá, o programa passou por inúmeras mudanças, tanto de elenco quanto de horário da exibição, todas vindas diretamente de Silvio Santos. Começou sendo gravado de manhã, com exibição no início da tarde e a desnecessária presença de Dudu Camargo na pele do personagem “Homem do Saco”. Depois, no começo de 2017, o programa passou a ser exibido ao vivo, com Lívia Andrade, Mamma Bruschetta, João Lobo, Décio Piccinini e Leo Dias.

Elenco do antigo ‘Fofocalizando’Reprodução/SBT

Os problemas começaram quando o fofoqueiro profissional Leo Dias saiu do Fofocalizando. Sem a matéria-prima de notícias exclusivas dos famosos, o programa viu sua audiência cair drasticamente. Silvio não demorou a mexer os pauzinhos de novo: colocou o Fofocalizando no freezer e tirou da cartola o Triturando.  A atração, que era um pequeno quadro dentro do programa de fofocas, se tornaria o show inteiro. A mudança deixava claro que o SBT não tinha mais notícias exclusivas e passaria a requentar o noticiário do dia-a-dia e preencher o tempo com perguntas infames como: “Qual vilã você prefere?”, “qual marchinha de carnaval é sua preferida?” – a opção menos votada pela bancada de apresentadores é “triturada” ao vivo na engenhoca de picar papel.

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Prestes a completar quatro meses, no próximo dia 8, Triturando tem um desempenho constrangedor na grade da emissora de Silvio Santos. Ele continua insatisfeito e, há duas semanas, teria batido o martelo: Triturando sairia do ar e Lívia Andrade, que se encontra na geladeira do SBT, voltaria a apresentar o Fofocalizando. A apresentadora foi avisada de última hora, vinhetas foram gravadas e exibidas durante a programação da emissora. Lívia até chegou a publicar um vídeo em suas redes sociais, dizendo que estava de volta. Mas a alegria durou pouco. No dia da reestreia, Silvio desistiu de ressuscitar o programa de fofocas. O Triturando se safou desta vez, mas tudo indica que uma hora não escapará do triturador do patrão.

Se o nome é Fofocalizando, Triturando ou qualquer outro “ando” que o valha, é o de menos. A questão que importa é: quem precisa de um programa tão tosco e sem apelo de audiência? O Triturando “tritura” atores famosos, músicas e vídeos populares, mas seu elenco não tem moral para pontificar o que é bom ou ruim. Quem merece ser triturado, afinal?



Fonte: Jovem Pan