The Weeknd faz sessão de terapia dançante guiada por Jim Carrey em ‘Dawn FM’; g1 ouviu | Música


A imagem que The Weeknd criou para “Dawn FM” é de uma estação de rádio intercalada com narrações sinistras do compatriota canadense Jim Carrey. Mas seu pop cheio de angústia existencial (vide a capa com maquiagem de idoso) também lembra uma sessão de terapia dançante.

No quinto álbum, ele está mais seguro do que nunca como artista na linha de frente da música pop. É uma produção grandiosa e ousada, só de canções redondas. Quase tudo ali poderia ser single, mas entre os hits em potencial dá para destacar as baladas “Less than zero” e “Out of time”.

Ele não muda o rumo dos álbuns anteriores, mas aprofunda tanto seu universo lírico de sexo, drogas e talaricagem – embrulhado em um tom reflexivo, com a ajuda das ótimas narrações de Jim Carrey -, quanto o som baseado em r&b, pop eletrônico inglês dos anos 80 e Michael Jackson.

Jim Carrey introduz o álbum meio sério, meio irônico, como um apresentador de rádio tipo Alpha FM. The Weeknd surpreende de imediato com a voz super grave de “Gasoline”, que emula cantores de synthpop e pede, dramático como sempre, para jogar gasolina e tacar fogo nele depois que morrer.

A primeira metade do álbum é mais agitada. Ele segue a toada oitentista em “How do I make you love me” e “Sacrifice”, alternando tons extremos, como se fizesse um dueto consigo mesmo em uma impressionante extensão vocal do agudo de MC Melody ao grave da Regina Rouca.

“Take my breath” é a mais dançante e tem a cara da house e disco do Daft Punk. “A tale by Quincy” também remete ao duo francês: assim como eles lançaram uma faixa narrada por Giorgio Moroder, ele traz outro produtor lendário, Quincy Jones, para falar sobre lições de vida.

Dor, traição e pop redondo

“Out of time” puxa a segunda metade do álbum, mais calma. Aqui sobressai a influência de Michael Jackson. Mas é como se fosse um Michael Jackson que fez terapia, enfrentou seus demônios e voltou com temas adultos e dolorosos de traição e morte, em vez de um mundo de fantasia.

Jim Carrey avisa na vinheta que no resto do disco vão vir “30 minutos de easy listening e faixas lentas”. O ritmo acalma, mas chamar de easy listening é exagero. Tem a arrastada “Starry eyes”, mas também muito r&b redondo sem entediar.

O campo dos relacionamentos segue o mesmo – um desastre. Em “Best friends” ele canta sobre amizade colorida e amor tóxico. The Weeknd é talarico (“I heard you’re married”, com Lil Wayne) e alvo de talaricagem (“Is there someone else?”).

“Here we go… Again”, com Tyler The Creator, é uma baladona climática com os dois cantores diabinhos se alternando em uma melodia angelical – por trás do sintetizador celestial está outra participação, do ex-Beach Boys Bruce Johnston.

Tem até The Weeknd fofo. “Don’t break my heart” volta aos anos 80 e ao “sofrimento na pista de dança” do álbum anterior, “After hours”. “A garota que eu amava terminou comigo na boate e eu quase morri na discoteca”, ele canta. “Less than zero” tem uma doçura inédita, violões e cara de que vai tocar muito.

“Every angel is terrifying” é uma vinheta bizarra sobre vida eterna e escancara a relação entre amor e morte apontadas nas letras e na capa. Outra vinheta de Jim Carrey, “Phantom regret”, encerra o álbum/sessão com a dúvida se o caos e a dança valem a pena no fim da vida. A resposta é sim, claro.

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Fonte: Pop & Arte