‘Segunda Chamada’ amplifica discussão sobre educação ao inserir alunos que vivem nas ruas | Pop & Arte


A segunda temporada de “Segunda Chamada” vai incluir no ensino de jovens e adultos pessoas em situação de rua. Seis novos episódios ficam disponíveis no Globoplay nesta sexta (10).

A ideia das autoras Carla Faour e Júlia Spadaccini é aprofundar a discussão do poder transformador da escola, com personagens ainda mais vulneráveis ao acesso à educação.

“A temporada fala da aceitação, de romper um preconceito que você tem em relação a essa população de rua. Em alguma esfera, essas pessoas não se sentem no direito de frequentar a escola”, diz Carla Faour.

“É quase como se fosse um universo inacessível para eles. A gente retrata na série essa inadequação, esse sentimento de não pertencimento. Não é um processo romantizado, é um processo de conquista, de aceitação“, continua.

Quem vai liderar esse movimento na Escola Carolina Maria de Jesus é a professora Lúcia, papel da atriz Debora Bloch.

Além de ser uma questão social importante, a busca por novos alunos também era necessária para manter a escola aberta.

A situação da evasão escolar foi observada pela equipe desde as primeiras pesquisas sobre as EJAs (Educação de Jovens e Adultos) e ganha destaque na continuação da série.

Júlia Spadaccini e Carla Faour são as autoras de ‘Segunda Chamada’ — Foto: Globo/FábioRocha

“A gente recebia vários relatos de fechamento de escolas como políticas de contenção de gastos, como política de não investimento nessa educação para jovens e adultos”, afirma Carla.

Paulo Gorgulho, Thalita Carauta, Silvio Guindane e Hermila Guedes seguem no elenco na segunda temporada dirigida por Joana Jabace.

Vida cruzando com a ficção

Angelo Antônio entra em ‘Segunda Chamada’ como Hélio; personagem vai se envolver com Lúcia (Debora Bloch) — Foto: Globo/Fábio Rocha

São nove alunos que vivem nas ruas e entram para escola nesta segunda temporada. A passagem de tempo em relação a primeira, que terminou com a bonita formatura da turma de Natasha (Linn da Quebrada), Jurema (Teca Pereira) e Giraia (José Trassi), é apenas de um mês de férias.

Hélio, personagem interpretado por Ângelo Antônio, é um deles. O homem passa a viver na rua depois de uma tragédia familiar e vai se envolver com a professora Lúcia (Debora Bloch).

Para o ator, uma das cenas mais marcantes foi a do desabamento da casa em que Hélio vivia, gravada no mesmo período das fortes chuvas em Minas Gerais no ano passado em que muitas pessoas perderam tudo e ficaram desabrigadas.

“No dia exato que eu estava gravando a cena estava acontecendo aquilo. Foi muito impressionante, não tinha como não sentir a angústia daquelas famílias que estavam vivendo aquilo”, conta o ator ao G1.

A equipe esteve em contato com pessoas que vivem nas ruas de São Paulo para entender a dinâmica, ouvir histórias e conhecer de perto a realidade. Uma delas em especial chamou atenção de Antônio.

“Quando a gente visitou as pessoas que moram nas ruas, convivemos um pouco e vimos que eles moravam naquela barraca com um monte de livro do lado. Eu não acreditava”.

Fiquei amigo, levei um monte de livros para eles, levei Guimarães Rosa, foi uma troca incrível. Pena que a gente se afastou abruptamente deles, com a parada da série e o fato de não poder mais gravar na rua, mas foi uma experiência impressionante”, lembra o ator.

Flávio Bauraqui, Moacyr Franco, Rui Ricardo Dias, Jennifer Dias e Pedro Wagner também estarão na nova temporada.

Humanizar quem não é visto por muitos

Ângelo Antônio entra para o elenco de ‘Segunda Chamada’ como Hélio — Foto: Globo/Fábio Rocha

Mostrar o rosto, a história, o presente e o passado de quem é considerado por muitos como “invisível” é uma das bandeiras da série.

“A população em situação de rua não é um bolo, não é uma massa. Dentro dessa população flutuante que está na rua, você tem histórias de vida”, explicam as autoras.

Júlia Spadaccini diz que um dos objetivos é mudar o olhar do outro: “O Hélio até fala ‘as pessoas olham, mas eles não veem a gente aqui'”.

“Quando a gente retrata a história de cada um, o que está movimentando emocionalmente, [a ideia é] que cada vez que você olhar uma pessoa em situação de rua, talvez você pense diferente, essa pessoa tem uma história”.

Dentro desse universo, a dupla vai tratar de questões relacionadas à velhice, às mulheres, às crianças e aos vícios.

Foto da primeira temporada mostra Deborah Bloch e Paulo Gorgulho em cena de ‘Segunda Chamada’ — Foto: Globo/Mauricio Fidalgo

Para Carla e Júlia, o ano passado se resumiu em adaptar a história conforme as regras sanitárias. A trama teve as gravações interrompidas mais de três vezes e acabou ficando com seis capítulos. A primeira temporada tem 11.

“Quando a pandemia paralisou as gravações, a gente estava no começo da temporada e nós passamos praticamente o ano de 2020 fazendo modificações”, explica Carla.

“A pandemia apertava, a gente escrevia cenas que só tinha 2 ou 3 atores. Quando liberava um pouco, colocávamos mais atores. Algumas mudanças até aprofundaram alguns conflitos, mas outros a gente teve que abrir mão”, continua a autora.

Ângelo Antônio também comentou sobre o ritmo de gravações fragmentado.

“A história teve que ser encurtada por conta da Covid, então o que iria ser, ainda pode acontecer em uma futura temporada”, diz o ator deixando no ar que uma terceira temporada pode vir por aí.

Veja reportagem exibida no ‘Fantástico’, em 2019, sobre a primeira temporada:

Nova série ‘Segunda Chamada’ mostra a luta de quem não desistiu de ter acesso à educação

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Fonte: Pop & Arte