Samantha Schmütz lança primeira música autoral com clipe em referência ao caso Miguel, menino morto ao cair de prédio no Recife | Pernambuco


A atriz, comediante e cantora Samantha Schmütz lançou o primeiro projeto musical autoral com a canção “Edifício Brasil”, sobre desigualdade social e impunidade, que “estão muito presentes” no país, segundo a artista. No clipe, ela decidiu incluir uma cena em que faz referência ao caso do menino Miguel, morto aos 5 anos ao cair do nono andar de um edifício de luxo no Recife, em junho de 2020.

A criança estava sob os cuidados de Sari Mariana Costa Gaspar Corte Real, ex-primeira dama de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco, que era a patroa da mãe de Miguel, Mirtes Renata. Sari é ré na Justiça pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte, mas ainda não foi julgada.

“Edifício Brasil” é a primeira música e o primeiro videoclipe autorais lançados por Schmütz. A canção foi produzida em parceria com a dupla de DJs Tropkilaz e o rapper Dow Raiz. A previsão é de que, no começo de 2022, a cantora lance um EP contendo outras músicas, todas com mensagens de cunho político e social.

No clipe de “Edifício Brasil”, Samantha expõe diversas encenações de problemas sociais (veja vídeo acima). No elevador em que se passam várias cenas do vídeo, há homens de terno com bolsos cheios de dinheiro, além de uma agressão a uma mulher.

Em outro momento, aparece uma mulher de cabelos loiros, com uma camisa em que foi escrita a palavra “patroa”. De mãos dadas com ela, está um garoto negro, de idade semelhante à que tinha o menino Miguel Otávio Santana da Silva na época da morte, vestindo uma camisa onde se lê “anjo”.

No clipe, a mulher entra no elevador arrastando o menino, aperta um botão do equipamento e deixa o garoto só. O vídeo também mostra a data de 2 de junho de 2020, dia em que Miguel morreu enquanto estava aos cuidados da patroa da mãe dele, que era empregada doméstica. A data, coincidentemente, também marcava os cinco anos da regulamentação do trabalho doméstico no Brasil.

Caso Miguel: Laudo pericial aponta que ex-patroa apertou botão do elevador para cobertura

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Essa cena do clipe faz referência às imagens do circuito de segurança do Edifício Maurício de Nassau, que integra as chamadas “Torres Gêmeas”, onde ocorreu a morte de Miguel. As imagens do condomínio mostraram que Sari Corte Real apertou o botão do elevador antes de deixar o menino de 5 anos sozinho (veja vídeo acima).

A queda aconteceu após a mãe de Miguel deixá-lo com a então patroa para passear com a cadela da família. Uma manicure também estava no apartamento.

No Twitter, Schmütz explicou o porquê de ter reproduzido a cena. Ela disse que, antes da gravação, pediu autorização à estudante de direito Mirtes Renata, que consentiu. Desde a morte do filho, a mãe de Miguel tem se dedicado à luta por justiça pelo filho e em combate ao racismo institucional.

Mirtes Renata e o filho, o menino Miguel — Foto: Reprodução/Instagram

“Deixo alguns questionamentos nesse post: A justiça realmente é cega? E, se fosse o contrário, ainda estaríamos aguardando o resultado do julgamento? Quem tem o direito de viver no Brasil? Quantos corpos negros precisam morrer para a justiça acontecer?”, disse a cantora, em uma das publicações.

Em outra cena do clipe, Samantha pega nos braços o menino deixado no elevador e o entrega a uma mulher, também negra, com uma camisa com a palavra “mãe”, dando à história um desfecho diferente do que aconteceu com Miguel.

“Reforço aqui meu apoio e meu intenso abraço para Mirtes e meu desejo de #JustiçaPorMiguel”, disse Samantha Schmütz, também no Twitter.

Mãe de Miguel agradece clipe de Samantha Schmütz sobre morte do garoto que caiu de prédio

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Também nas redes sociais, Mirtes Renata agradeceu o carinho de Schmütz (veja vídeo acima). “Você representou, mexeu profundamente comigo. Era única coisa que eu gostaria que tivesse acontecido, que tivessem pegado meu filho e me entregado meu amor, meu neguinho. Por causa desta escolha, eu vou passar o resto da minha vida sem meu filho”, afirmou a estudante de direito.

“Eu só tenho que agradecer muito a ela por dar essa visibilidade ao caso, porque, se cair no esquecimento, não há justiça. Mesmo com a pressão que nós temos feito, tem sido muito lento. O caso de Miguel deveria ter sido resolvido há muito tempo. Peço a Deus que, até o final deste ano, haja alguma previsão de julgamento”, disse Mirtes.

A mãe de Miguel contou, ainda, que a demora no julgamento pesa ainda mais na dor que ela sente pela falta do filho. O processo está na fase de instrução, nas alegações finais, em que são ouvidas testemunhas e as partes envolvidas no caso.

“Eles culpam a pandemia, a falta de servidores. Mas, se não dá para trabalhar presencial, trabalha de forma remota. Eu mesma estava trabalhando na casa dos meus ex-patrões durante lockdown, inclusive quando estava doente”, declarou Mirtes.

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Fonte: Pop & Arte