PMs de SP que participaram de abordagem que matou a tiros MC Neguinho JM são afastados e investigados pela Corregedoria | São Paulo

Os policiais militares que participaram da abordagem que matou a tiros o MC Neguinho JM, de 19 anos, no último sábado (2), durante perseguição na Zona Sul de São Paulo, foram afastados preventivamente dos trabalhos nas ruas.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os agentes ainda são investigados pela Corregedoria da Polícia Militar (PM). Um Inquérito Policial Militar (IPM) apura se eles agiram corretamente ou não durante a ação no Campo Limpo.

A Polícia Civil também investiga o caso, que foi registrado inicialmente no 47º Distrito Policial (DP), Capão Redondo, como desobediência, lesão corporal e morte decorrente de intervenção à oposição policial.

MC Neguinho JM é morto a tiros pela PM durante perseguição em SP

MC Neguinho JM é morto a tiros pela PM durante perseguição em SP

Vídeo de câmera de segurança que circula nas redes sociais mostra David Meireles Miranda pilotando uma moto emprestada (veja nesta reportagem). Nas imagens é possível ver que ele não usava capacete e estava desarmado quando foi baleado no tórax e na perna pelos policiais militares. O funkeiro não resistiu aos ferimentos e morreu na Rua Marechal João Carlos Barreto.

Jeferson Fernando da Silva Souza, o garupa que aparece com ele na moto, também estava sem capacete e foi baleado pelos agentes, mas na cabeça. No vídeo é possível ver o momento que ele é atingido e cai da motocicleta. Ele estava armado e ameaçou atirar contra uma base policial no bairro, segundo a PM. De acordo com os policiais, houve troca de tiros.

Até a última atualização desta reportagem, Jeferson continuava internado em estado grave em um hospital, segundo a Secretaria da Segurança.

Uma adolescente que passava pela rua no momento da perseguição policial também foi atingida por um disparo na perna, mas ela não corre risco de morrer.

Delegacia especializada investiga

Morte do MC Neguinho

Morte do MC Neguinho

Como a ocorrência envolve policiais militares, o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) assumiu as investigações.

“O caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Paralelamente, a Corregedoria da Polícia Militar também instaurou um Inquérito Policial (IPM) para apuração. Os agentes envolvidos na ocorrência foram afastados do trabalho operacional. Até o momento, não foi apresentada a comunicação de óbito do segundo envolvido. As diligências prosseguem para esclarecer todas as circunstâncias relativas aos fatos”, informa nota da Secretaria da Segurança Pública, divulgada por sua assessoria de imprensa.

MC Neguinho JM — Foto: Reprodução/Instagram

E na favela construir uma casa pra minha véia“, canta MC Neguinho JM em trecho da música que gravou com amigos para homenagear a mãe, a cabeleireira Katia Ferreira Meireles, de 40 anos (ouça no vídeo abaixo). David Meireles Miranda queria dar uma residência própria para ela morar com ele e os oito irmãos.

Mas o sonho da promessa do “funk consciente” foi interrompido no último sábado (2), quando o o cantor foi morto a tiros pela Polícia Militar (PM) durante perseguição policial na Zona Sul da capital. Ele tinha 19 anos.

MC Neguinho JM era considerado uma promessa do

MC Neguinho JM era considerado uma promessa do ‘funk consciente’

Abalada com a morte do filho, Katia está sendo preservada pela família para não dar declarações. Quem está falando com a imprensa é a filha dela, a balconista Bianca Meireles, de 24 anos, irmã de MC Neguinho.

O sonho dele como artista era poder dar uma casa própria para minha mãe poder realizar todos os nossos sonhos. Ajudar aqueles que sempre ajudaram ele”, disse Bianca ao g1.

Ela e os irmãos moram numa residência onde pagam R$ 650 mensais de aluguel. MC Neguinho JM estava pensando em contribuir com as despesas da casa com os shows que iria fazer como funkeiro.

Há menos de dois meses, lançou a canção “Um piloto e um garupa” com mais dois amigos do meio musical. A faixa era a primeira lançada pelo selo da Love Funk, uma das produtoras do gênero do ‘funk consciente’ em São Paulo. E também a primeira de destaque na carreira do artista.

Bianca, que é a irmã mais velha, também ajudava com a renda, juntamente com os salários da mãe e de outro irmão, de 22 anos. O caçula da família tem 4 anos. Alguns dos irmãos são filhos de pais diferentes, que não participam diretamente da educação e sustento dos filhos. Os cuidados e afeto ficam a cargo da mãe.

“E quantas vezes eu vi a minha mãe chorar”, entoa MC Neguinho JM num dos refrões da música enviada à reportagem por Bianca. Ela disse que o irmão não costumava escrever as letras, preferia registrar as mensagens diretamente nas canções.

Porta-voz dos familiares, Bianca disse que agora o objetivo de todos é buscar ‘justiça’ para responsabilizar os policiais pela morte do irmão. Segundo Bianca, a abordagem dos agentes contra MC Neguinho JM foi errada e eles não precisavam atirar em alguém desarmado.

“Porque a gente sabe que foi uma injustiça o que aconteceu com ele”, falou Bianca.

Bianca Meireles, irmã de MC Neguinho JM, homenageou o funkeiro nas redes sociais — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Minha missão é provar que ele não é bandido, que não é um ladrão“, falou ela. Seu irmão não tinha passagens criminais. Segundo fontes do g1, Jeferson já havia respondido por posse ilegal de arma de fogo, portar arma com numeração raspada e receptação de produto de crime.

O enterro de MC Neguinho JM reuniu parentes, amigos e fãz, na segunda-feira (4), no Cemitério da Paz, em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Eles fizeram homenagens e pedidos de justiça, mostrando faixas e cantando músicas.

“Só peço a Deus que coloque ele num bom lugar, que descanse agora, que agora o show dele é lá no céu”, fala Bianca na gravação em sua página na web.

Estamos diante de mais um caso de genocídio. Andar sem capacete é uma contravenção e não justifica a pena de morte decretada por policiais militares. Buscaremos a justiça junto com a família”, disse Marisa Feffermann, da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, que acompanha o caso.

Família e amigos de MC Neguinho JM pedem

Família e amigos de MC Neguinho JM pedem ‘justiça’ no cemitério em SP

Fonte: Pop & Arte