Marília Mendonça encabeçou o feminejo, mas não ficou presa no sertanejo. Como autora, escreveu músicas para artistas iniciantes e estrelas, com uma conexão especial com o forró, o arrocha e o brega.No papel de intérprete, se juntou a estrelas do pop, pagode, axé, rap, swingueira e outros.
Para o parceiro Péricles, Marília tinha uma maneira de pensar semelhante à dele: “A função da música é atingir, emocionar e passar a mensagem”. Por isso, ela conseguia transitar tão bem entre os estilos.
MARÍLIA MENDOÇA E PÉRICLES
Entre os artistas que cantaram canções compostas por Marília fora do sertanejo estão Joelma, Wesley Safadão, Márcia Fellipe, Gabriel Diniz, Mara Pavanelly e a banda Paquá.
Como intérprete, cantou rap, funk, pagode, axé, arrocha e pop ao lado de artistas como Xamã, Ivete Sangalo, Leo Santana, Péricles e Luisa Sonza.
Há também canções que ela assinou como compositora e participou como intérprete em parcerias: “Cuidando De Longe” (com Gal Costa), “Direção” (com DJ Kévin), “Não Me Testa” (com Preta Gil), e “Um Brinde” (com Dennis DJ e as amigas Maiara e Maraisa).
Esta reportagem faz parte do especial “Mariliateca”. O g1 pesquisou, catalogou e analisou todo o cancioneiro da artista. Mergulhe nas listas de composições e interpretações, navegue através dos sentimentos das letras, relembre os hits e descubra raridades. Conheça as 441 músicas aqui.
Mesmo quando não fez parte história da composição ou do vocal, a artista foi parar até nos refrões de um dos maiores projetos de rap acústico. Em “Poesia Acústica 9 – Melhor Forma”, Djonga cita a cantora e diz que é fã de Marília Mendonça.
Ela era fã de Djonga e outros rappers. Em uma live, Marília usou sua voz grave para rimar com desenvoltura “Vida loka”, dos Racionais MC’s. O grupo relembrou o vídeo no dia em que ela morreu; veja abaixo:
“A gente vê a comoção da falta que ela faz porque ela conseguiu atingir o coração de todo mundo, com a maneira simples de ser e de falar, principalmente de amor”, diz Péricles.
O cantor convocou Marília para gravar a faixa “Vai por mim”, em 2017. “É uma música que fala de amor de uma maneira muito particular, que ela já estava falando há muito tempo nas composições dela.”
“Liguei e ela prontamente aceitou, até tomou um susto. Porque muito próximo, tem uma filmagem em que ela estava num pagode cantando sucessos do Exalta. E depois que a gente se sentou para conversar, ela conhecia muito da obra do Lucas Morato, meu filho. Foi uma junção de alegrias.”
Marília e Péricles se reuniram novamente em 2021 para a gravação de “A mais disputada”, que conta com Papatinho, MD Chefe e DomLaike.
Questionado, Péricles não descarta gravar uma das quase 100 faixas que Marília compôs, registrou, mas que ainda não foram gravadas por ninguém.
“Seria uma honra para mim. Quero que essa chance surja e seja uma ótima maneira de lembrar e celebrar a vida de Marília Mendonça.”
Xamã foi outro integrante da lista de parcerias de Marília fora do sertanejo. “Leão”, música composta pelo rapper, mostra toda a versatilidade musical da cantora que, além de mostrar sua conhecida potência vocal, também se arrisca na poesia falada do rap.
“Eu fiz a música já pensando na Marília. Ela viu uma música de uma guia que eu tinha postado no Twitter com o título de ‘Áudio Falso’. Ela achou bacana e a gente desenvolveu o resto da letra com signo de leão. Uma das maiores parcerias que fiz na vida”, define Xamã.
No clipe, os dois mostram o clima descontraído dos bastidores. “Foi a primeira vez que tomei vinho na vida, nunca tinha tomado vinho. Acabou que no final a gente teve que adaptar um take pra gente gravar sentado um de costas para o outro. Foi bem divertido esse dia, bem engraçado”, relembra o cantor.
Para ele, Marília “não se enquadrava só num artista quadrado, que tem que fazer só uma coisa e olhar só pra frente. Ela olhava para cima, pra baixo, para os lados. Ela tinha uma capacidade de entender coisas que quem criticava ela, tinha mente muito pequena para poder entender.”
“Era uma cantora completa. Conseguia enxergar a composição além do estilo que ela se sentia confortável, então conseguiu quebrar uma barreira. Não sei se já existiu algum outro artista que transitou por todos os estilos musicais. Ela tinha esse dom de transformar a música.”
Antes de ser conhecida como cantora, Marília já tinha grande fama como compositora e escreveu letras que ficaram nas mãos, não só de estrelas nacionais, mas também de artistas regionais. Como foi o caso da banda mineira Paquá.
Em 2015, enquanto selecionavam o repertório para o primeiro DVD, tiveram contato com “Isso é coisa de louco”, composta por Marília Mendonça em parceria com Maiara, Thales Lessa e Juliano Tchula.
Na voz de Paquá, a música passou a se chamar “Coisa de louco” e ganhou participação da dupla Arthur & Thomaz. O grupo recebeu a canção por meio de Tchula, maior parceiro de composições de Marília.
“Naquele momento, ela ainda não tinha despontado no cenário nacional como cantora, mas já era bem conhecida no meio em relação às composições. A Marília tinha muitas músicas que estavam estouradas com Henrique e Juliano, então lógico que teve um peso, sim.”
“Quando você vai ouvir um repertório, recebe músicas de vários compositores e tenta ouvir todas com maior carinho. Mas claro que quando você recebe de um grupo de compositores que já tem sucessos no mercado, acaba ouvindo com maior carinho ainda. Foi um diferencial”, conta Rafael, vocalista.
Para ele, a capacidade de Marília de levar sua letra para todos os cantos se deveu a dois fatores: qualidade da composição e o ganho que ela dava em todas as faixas nas quais participava.
“A Marília tinha letras que falavam sobre assuntos e temas que são do povo, são muito populares, acontecem no dia a dia das pessoas, e isso faz com que as pessoas se identifiquem.”
“E ela trafegava por vários estilos. Onde ela entrava e tinha interpretação dela, a música crescia, ganhava. Ela dava um toque a mais. Ela tinha esse poder. Apesar de ser do sertanejo, ela sabia muito bem interpretar outros segmentos.”
Fonte: Pop & Arte