Imigrantes merecem compaixão, não arame farpado, diz Abdulrazak Gurnah, Nobel de Literatura | Pop & Arte


A Europa deveria acolher os imigrantes com compaixão, ao invés de arame farpado, e o governo do Reino Unido é “bastante malvado” com aqueles que buscam asilo, disse o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2021.

Gurnah, que explorou os legados do imperialismo em indivíduos desenraizados em seus livros, disse que ficou tão chocado quando a Academia Sueca lhe telefonou para contar do prêmio que inicialmente achou se tratar de um engano.

Ele falou poeticamente sobre a experiência da migração, de se deixar para trás a família e uma parte da própria vida em troca de uma existência em uma nova sociedade na qual a pessoa sempre se sentirá parcialmente estrangeira.

Ele disse que sente que o governo britânico parece malvado com aqueles que buscam asilo. Gurnah, de 73 anos, deu entrevista à Reuters em seu jardim ao lado de um bordo em Canterbury, no sul da Inglaterra.

Nobel de Literatura 2021 vai para Abdulrazak Gurnah

Nobel de Literatura 2021 vai para Abdulrazak Gurnah

“Parece uma tremenda surpresa para eles que pessoas vindas de lugares difíceis iriam querer vir a um país que é próspero. Por que estariam surpresos? Quem não iria querer vir a um país que é mais próspero? Existe uma espécie de mesquinharia nesta reação”.

Gurnah, que nasceu em Zanzibar, hoje Tanzânia, disse que os imigrantes não estão chegando sem nada, mas que querem trabalhar.

Ele expressou espanto com a determinação e a coragem daqueles que viajaram de tão longe para fugir dos próprios países almejando uma vida nova.

“Isto, de certa forma, é formulado como se fosse imoral, você sabe que eles usam a frase ‘imigrante econômico’, como se ser um imigrante econômico fosse algum tipo de crime. Por que não?”

“Ao longo dos séculos, milhões de europeus deixaram suas casas precisamente por esta razão e invadiram o mundo precisamente por esta razão”, disse.

Gurnah disse que não está defendendo uma imigração “vale-tudo”, mas que não deveria haver uma representação antagônica e abusiva dos imigrantes.

O Brexit, disse ele, revelou “uma certa mesquinharia” em relação ao Reino Unido, e por trás daquela votação estava outra narrativa sobre imigrantes de muito além das fronteiras da Europa.



Fonte: Pop & Arte