Filipe Ret fala sobre maconha, que o tornou investigado no Brasil e investidor nos EUA


Ele canta no Lollapalooza neste domingo. Parceiro de Anitta e dono de selo, ele é investigado no Brasil por distribuir baseados em festa, enquanto investe no mercado legal dos EUA: ‘Complicado’. Filipe Ret se apresenta no Festival de Verão de Salvador
Max Haack/Ag Haack
Um dos rappers mais ouvidos do Brasil é investigado no Brasil e investidor nos EUA basicamente pela mesma causa: distribuição de maconha.
Em julho de 2022, Filipe Ret foi alvo de uma operação policial que chamou de “invasiva e constrangedora” por, supostamente, dar cigarros de maconha para amigos em uma festa.
Enquanto isso, ele investe no novo mercado legalizado da substância na Califórnia, nos EUA. Ele lançou a marca RET Kush, de olho no bilionário setor norte-americano de cannabis.
Filipe Ret vai cantar neste sábado no festival Lollapalooza; veja a programação.
Ele conta que a maconha da RET Kush em breve estará pronta para a venda na Califórnia. “A gente tem uma sociedade com uma plantação e está em processo de legalização para as vendas.”
Filipe Cavaleiro de Macedo da Silva Faria, 37 anos, conta o caso com um misto de seriedade e ironia. Com tino para o marketing e a provocação, ele virou um dos grandes ídolos do novo pop brasileiro.
“É tão complicado que eu tive que parar de fazer o marketing da minha própria marca de maconha porque estava derrubando meu Instagram. Não consigo entender. Mesmo eu colocando a bandeira dos EUA, sempre que eu falava do RET Kush, para mostrar que é de lá, tomava advertência.”
“Curioso é que o jogo não é legalizado no Rio, mas eu posso fechar com cassino dos Estados Unidos [o rapper tem parceria com um site de apostas]. Não dá para entender o critério”, ele ironiza.
Em julho de 2022, viaturas e helicópteros policiais foram atrás da suposta distribuição de cigarros de maconha por Ret em uma festa no Rio.
Ele foi levado para depor e, ao se deparar com equipes de TV ao vivo na delegacia, improvisou uma ação histórica de divulgação no rap brasileiro.
A incrível entrevista da viatura
Filipe Ret cercado pela imprensa na chegada à Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio
Nicolás Satriano/ g1
Na época da ação policial, Filipe Ret estava preparando para lançar um novo artista de seu selo de rap, a Nadamal Records. MC Maneirinho iria se juntar a ele e artistas como Caio Luccas e TZ da Coronel.
Ele saiu do carro da polícia e foi cercado por câmeras e microfones, que transmitiam o show de sua prisão pela polícia do Rio ao vivo nos jornais do horário do almoço. Filipe deu sua declaração: “MC Maneirinho é o novo artista da Nadamal. Dia 1º de agosto música nova no canal da Nadamal”.
O improviso virou o assunto mais comentado das redes sociais imediatamente após o improviso que o pupilo Maneirinho chamaria depois de “tacada genial”.
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“Eu estava na viatura voltando de 3 horas de viagem de Angra dos Reis para o Rio. Dentro da viatura eu fiquei sabendo que ia ter imprensa lá. Eu lembrei da data de lançamento e que eu precisava de um motivo para divulgar o Maneirinho, tá ligado?”
“Mas eu pensei que ia ter só imprensa escrita, e que eles iam pegar minhas falas para escrever. Nunca imaginei que estaria ao vivo e que tinha câmera, aquele alvoroço, o circo pronto. Eu achei que ia ser só imprensa online e pensei: ‘Vou falar só duas frases limpas, para não tirarem de contexto. Para não dar brecha. Quandi vi que era TV, fui mesmo assim”, lembra.
O tal lançamento era “Visão de cria 2” (antecessora na série da futura faixa com MC Guimê). O resultado foi excelente. “Foi a música nossa que mais bateu de todos os artistas da Nadamal no primeiro dia”, diz Filipe. Atualmente ela tem mais de 64 milhões de plays no YouTube.
Trap malandro
Filipe Ret
Divulgação
A grande aposta dele foi no trap, um subgênero grave, festivo e desbocado do rap atual, cheio de maneirismos dos artistas do sul dos EUA, mas que foi encontrando seu jeitinho carioca.
“Eu acho que já existe uma estética do trap BR, e até mais do RJ”, ele diz. Rápido nas conexões, Filipe vê em um antigo equipamento, a bateria eletrônica Rolland-808, o ponto de conexão entre o trap dos EUA, o funk carioca e a nova geração de trappers do Rio.
“O miami bass (um dos estilos que influenciou no funk carioca) usava o 808. Então, toda a linha de bateria do trap era usada no funk lá atrás. E o funk antigo também tinha muita melodia. Chegamos ao momento em que, intuitivamente, eu sempre achei que fossemos chegar. Encaixou perfeitamente com a cultura do Rio de Janeiro”, diz Filipe.
Ele também vê nas letras do trap uma volta à linha dos “proibidões” do funk antigo. “Eles contam a realidade. O trap encara as coisas de forma explícita, assim como o proibidão tratava”, ele compara. “O Rio tem um terreno fértil para a melodia e a lírica. Já temos uma verdade do trap-RJ.”
Mistério com Anitta
Filipe Ret e Anitta
Divulgação / Steff Lima
Outro frenesi causado por Ret no ano passado foi a parceria com Anitta em “Tudo nosso”, uma as faixas do álbum dele, “Lume”. O MC fez vários posts que atiçaram os boatos de um romance entre os dois, e indicou até sofrência: “Peguei uma mina e fiquei com todos sintomas de apaixonado.”
Depois os posts e os boatos esfriaram, e ele se recusou a falar da relação pessoal com Anitta na entrevista. Mas a parceria musical ainda o empolga.
“Foi muito prazeroso trampar com ela. A Anitta é muito atenta e proativa. Ela me ajudou a produzir o clipe todo de um dia para o outro. Quem levantou tudo foi ela, eu só paguei. Aprendo muito com ela”, elogia.
Na música, Anitta não faz um refrão funk-pop nem deixa o trap só para Filipe. Ela encara as rimas como o parceiro. “Ela sabe rimar, entende as estéticas. É uma estudiosa constante”, diz Filipe Ret. “Eu só fiquei pedindo para ela colocar mais ódio na voz, botar aquela pressão do rap”, ele ensina.
Aposta furada
Filipe Ret e MC Guimê
Reprodução / Instagram
Ele tem feito apostas certeiras. Mas uma dela não deu certo: Ret apostou R$ 100 mil na vitória de Guimê no “BBB”. Ret até usava uma imagem o MC como sua foto de perfil no Instagram, mas apagou após o funkeiro passar a mão em uma participante do reality.
O rapper fez aposta no funkeiro em um site de jogos. “Foi por causa do coração dele”, ele justificou ao g1 em entrevista no dia 2 de março, antes de Guimê passar a mão em uma colega e ser expulso. “Ele é um cara que me transmite essa pureza. Ele é o MC típico, representa a gente lá”, ele disse.
Filipe Ret tem um contrato de publicidade com o site que usou para fazer a aposta em Guimê – ele diz que tirou o valor apostado de parte de seu pagamento. Em caso de vitória do MC no “BBB”, ele pode ganhar até R$ 1,7 milhão.
Além disso, logo antes de entrar no “BBB”, Guimê deixou gravada sua participação na faixa “Visão de cria 3”, da gravadora de Ret.
Ret tinha tanta confiança nele que deixou “Visão de cria 3” para ser lançada no dia 28 de abril, três dias após a final do programa. Isso significa que, no caso de o funkeiro ir bem programa, a faixa teria tudo para ir ainda melhor do que as outras da série.

Fonte: Pop & Arte